Os combates começaram em 12 de março (Genya SAVILOV /AFP)
Agência de notícias
Publicado em 28 de março de 2024 às 11h32.
Em meio aos escombros, Svitlana Zavaly busca desesperadamente qualquer objeto que possa recuperar entre as ruínas de sua casa, bombardeada pela Rússia, na região nordeste da Ucrânia.
"Não temos mais nada", lamenta a ucraniana de 67 anos, moradora de Velyka Pysarivka, um vilarejo que fica a cinco quilômetros da fronteira com a Rússia.
Em meados de março, os bombardeios russos atingiram a localidade, na região de Sumy, durante quase 10 dias consecutivos. Os ataques aconteceram depois que combatentes russos aliados de Kiev executaram várias incursões em território russo.
"Nós tínhamos tudo. E isso aconteceu em um instante. Que bom que saímos daqui dois dias antes", conta Zavaly.
Ela e o marido retornaram apenas para passar o dia. O casal vive temporariamente em Okhtyrka, uma cidade a 40 quilômetros de distância de Velyka Pysarivka, para onde foram transferidos, assim como vários outros residentes de áreas bombardeadas.
Em 17 de março, um vizinho que permaneceu no vilarejo ligou para Zavaly às quatro da manhã.
"'Svitlana, alô (...)'. Eu disse: 'Vania, não me diga nada. Está claro'. E ele contou que uma bomba havia atingido nossa casa diretamente. E assim nós viramos desabrigados", recorda, sem conter as lágrimas.
Quase todos os edifícios do centro de Velyka Pysarivka foram destruídos. Casas de bairros mais próximos da fronteira também foram bombardeadas, informa Oleksei Bryl, vice-comandante da polícia local.
Durante 10 dias, "sofremos explosões constantes", declarou à AFP. "Hoje a situação se estabilizou e os bombardeios diminuíram", acrescentou Bryl durante uma visita ao vilarejo, que tinha 4.000 habitantes antes da guerra.
Os combates começaram em 12 de março. Neste dia, a Rússia anunciou que impediu vários ataques procedentes da Ucrânia contra duas regiões fronteiriças.
Os confrontos duraram vários dias e, depois, as incursões foram interrompidas.
Durante duas semanas, Velyka Pysarivka e localidades vizinhas foram alvos de 567 ataques, 200 deles executados com bombas aéreas teleguiadas, com grande poder de destruição, segundo um balanço divulgado na terça-feira pelas autoridades regionais.
Seis pessoas morreram e 12 ficaram feridas.
"Nós saímos no dia 14, uma quinta-feira... do inferno. Estávamos sendo bombardeados, aviões sobrevoavam a cidade", disse Valentina, uma moradora de 67 anos que não revelou o sobrenome. Ela também foi levada para Okhtyrka.
Oleksei Moroz, 38 anos, que também seguiu com sua família para Okhtyrka, disse que "compreendeu que, quando os combatentes pró-Kiev (Legião da Liberdade da Rússia) entraram (em Kozinka, na Rússia), aconteceria um efeito bumerangue", com bombardeios russos.
"No dia 13, os ataques aéreos começaram. Na madrugada de 13 para 14, (as forças de Moscou) atacaram sem interrupção. Na manhã de 14, fomos levados de ônibus sob um intenso bombardeio (...) Era impossível permanecer", conta a esposa de Moroz, Yulia Drokina, de 33 anos, ao lado dos filhos.
Questionados sobre o motivo que teria levado os combatentes pró-Kiev a executar as incursões, vários moradores citam o boato de que as tropas russas estariam concentradas na fronteira e preparando um ataque.
"Tínhamos medo de que, se o batalhão (russo anti-Kremlin) não atuasse, poderíamos ser ocupados", afirmou Drokina.
Mas alguns não expressaram apoio às operações dos combatentes apoiados por Kiev.
Sentado em uma cadeira de rodas e com um cigarro na boca, um morador de 69 anos, com uma perna amputada, afirmou que as incursões na fronteira foram uma "ideia estúpida".
"Temos menos pessoas do que eles (os russos) e menos equipamento (...) Eles detectam você imediatamente com um drone", acrescenta o morador, que não revelou seu nome.