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Bolsonaro visita Trump para selar aliança conservadora

Adeptos do Twitter e críticos da imprensa, presidentes abordarão um dos temas que mais os une: a vontade de tirar Maduro do poder

Bolsonaro: encontros nos Estados Unidos discutirão acordo espacial e Venezuela (Adriano Machado/Reuters)

Bolsonaro: encontros nos Estados Unidos discutirão acordo espacial e Venezuela (Adriano Machado/Reuters)

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AFP

Publicado em 14 de março de 2019 às 17h23.

O presidente Jair Bolsonaro se reunirá na próxima semana com o colega americano, Donald Trump, na Casa Branca, para fortalecer seus laços econômicos e selar uma aliança conservadora hemisférica, que começa a nascer e busca aumentar a pressão sobre Nicolás Maduro na Venezuela.

Décadas de relações que não passavam de cordiais entre Brasília e Washington ficaram para trás com a chegada ao poder em janeiro do capitão da extrema direita, apelidado de "Trump dos trópicos" por sua admiração e sintonia ideológica com a agenda nacionalista e "antiglobalista" do americano.

"É a primeira viagem de caráter bilateral realizada pelo presidente Jair Bolsonaro ao exterior, demonstrando a prioridade que o governo atribuiu à construção de uma sólida parceria com os Estados Unidos da América", declarou o porta-voz da Presidência da República, Otávio do Rêgo Barros.

Acompanhado de seis ministros e de seu filho e deputado federal por São Paulo Eduardo Bolsonaro - muito ativo nas articulações com representantes da onda neoconservadora mundial -, o presidente brasileiro estará em Washington de domingo a quarta-feira e se hospedará na Blair House, residência oficial para hóspedes, situada em frente à Casa Branca.

Além de manter uma "reunião privada" com Trump prevista para a terça-feira no Salão Oval, o presidente aproveitará sua estada na capital americana para se reunir com o secretário-geral da Organização de Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, e participará de vários fóruns sobre as oportunidades oferecidas pela economia brasileira.

Na noite de domingo, participará de um jantar na residência do embaixador do Brasil em Washington com "vários formadores de opinião", ao qual comparecerão o escritor brasileiro residente nos Estados Unidos, Olavo de Carvalho, considerado o guru de Bolsonaro, e Steve Bannon, controverso ex-assessor do presidente americano.

Cerco à Venezuela

Adeptos da comunicação direta via Twitter, de uma retórica polêmica e críticos da imprensa, Trump e Bolsonaro abordarão um dos temas que mais os une: sua ferrenha oposição à "ditadura" da Venezuela e a vontade de tirar Maduro do poder.

Os Estados Unidos estão à frente dos mais de 50 países - entre eles o Brasil - que reconhecem o líder opositor Juan Guaidó como presidente interino, e aplicaram sanções econômicas e um embargo ao petróleo venezuelano, crucial para a sua economia, que começará a vigorar em 28 de abril.

Trump afirmou reiteradas vezes que todas as opções estão sobre a mesa e não exclui uma intervenção militar na Venezuela.

Mas Bolsonaro, que participou da frustrada operação de entrada de ajuda humanitária à Venezuela pelas fronteiras de Brasil, Colômbia e Curaçao, segue a linha do Grupo de Lima - formado por uma dezena de países latino-americanos e o Canadá - partidário de apertar o cerco econômico e diplomata sobre Maduro sem recorrer à força.

"É pouco provável que o Brasil adote ações militares para resolver a situação na Venezuela, mas é possível que Bolsonaro adote uma postura mais firme publicamente depois desta viagem a Washington", explicou à AFP Roberta Braga, diretora associada do centro latino-americano do Atlantic Council, com sede em Washington.

Apesar de seu repúdio à via militar, Trump se interessa em ter um aliado de peso como o Brasil "para seguir exercendo pressão sobre Maduro e garantir que esta onda de apoio que Guaidó recebeu não diminua com o passar do tempo", avaliou Thomaz Favaro, analista da Control Risks.

Cooperação espacial

O porta-voz explicou também que Bolsonaro e Trump, cujo país é o segundo parceiro comercial do Brasil depois da China, vão assinar três acordos, sobre os quais não quis dar detalhes.

A expectativa é que um deles dê salvaguardas tecnológicas para que os Estados Unidos possam usar a base de lançamento de satélites de Alcântara, no Maranhão, uma opção denunciada por setores nacionalistas brasileiros, que veem nisto um risco de perda de soberania.

A base Alcântara tem uma localização ideal para os lançamentos, pois está muito próxima á linha do Equador, o que permite economizar até 30% do combustível ou levar mais carga. Daí o interesse dos Estados Unidos.

"A assinatura de Alcântara é outra mostra do alinhamento do Bolsonaro com os Estados Unidos, como já fez ao aceitar o acordo entre Boeing e Embraer", explicou à AFP o internacionalista Paulo Wrobel, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

Os analistas esperam que os dois presidentes também discutam medidas para aumentar o comércio bilateral - sem reduzir limites que o Mercosul impõe no caso do Brasil - e a entrada do país na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Depois de sua viagem aos Estados Unidos, Bolsonaro visitará o Chile e no fim do mês para Israel, em uma demonstração clara de sua tentativa de aproximação a governos que considera comprometidos com suas opções ideológicas conservadoras e economicamente liberais.

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