O ex-presidente Evo Morales: o que ainda está na dúvida é o futuro do projeto político do socialista que ficou no poder por 13 anos e implantou reformas como a nacionalização de empresas e a expansão de programas sociais (Javier Mamani/Getty Images)
Leo Branco
Publicado em 16 de outubro de 2020 às 06h24.
Última atualização em 16 de outubro de 2020 às 11h35.
Os bolivianos vão às urnas neste domingo, 18, na primeira eleição presidencial desde a renúncia do presidente socialista Evo Morales, em novembro do ano passado.
Desde então, o país mergulhou em uma crise política após acusações de fraude eleitoral na campanha que reelegeu Morales provocarem protestos massivos por todo o país. Por causa da instabilidade, Morales pediu asilo político na Argentina em dezembro do ano passado.
Em quase um ano de instabilidade política, agravada pela pandemia, a Bolívia vai às urnas dividida.
O candidato socialista Luis Arce, do Movimento Ao Socialismo (MAS), partido fundado por Morales, está à frente do ex-presidente de centro Carlos Mesa por apenas 6 pontos percentuais, indicando uma queda no apoio ao partido político MAS.
Ao que tudo indica, a disputa deve ficar para o segundo turno, marcado para novembro. Para evitar esse cenário, o candidato vencedor precisa de pelo menos 40% dos votos válidos no primeiro turno e dez pontos de vantagem sobre o concorrente mais próximo.
"As eleições só acalmam ânimos se derem vitória maiúscula e legítima para um dos lados, o que dificultará contestação", diz Leandro Consentino, professor de ciência política e relações internacionais na escola de negócios Insper.
Numa tentativa de unificar o bloco conservador contra Arce, e tentar decidir a disputa já no primeiro turno, a presidente interina Jeanine Áñez retirou sua candidatura presidencial no mês passado, mesmo tendo 10% das intenções de voto.
Os 12 meses de governo Jeanine têm sido marcados pela profunda instabilidade. Divisões internas no governo interino da Bolívia levaram à saída do ministro da Economia Óscar Ortiz e de outros dois ministros em setembro, alimentando as incertezas sobre a recuperação econômica no país andino da pandemia do coronavírus.
Ortiz saiu do comando da equipe econômica do governo citando "diferenças profundas" e pressão vinda de pessoas próximas à Jeanine.
Segundo reportagens, a questão seria que alguns ministros se recusaram a aceitar o plano de privatização da estatal energética ELFEC, que foi nacionalizada pelo governo do ex-presidente socialista Morales e é bemquista pela população.
Além da instabilidade política, a pandemia atingiu em cheio a economia do país, cujo PIB deve contrair perto de 3%.
O que ainda está na dúvida é o futuro do projeto político de Morales, que ficou no poder por 13 anos e implantou reformas como a nacionalização de empresas de energia e a expansão de programas sociais. Em sua gestão, a taxa de pobreza caiu 20 pontos percentuais, mas ainda atinge 36% da população.
"Se der uma vitória de Arce, pode ser que Morales volte à Bolívia e o projeto político dele se renova. Ele vai querer enfrentar adversários", diz Consentino, do Insper. "De outro lado, se der Mesa, vai querer acenar à população como um todo, pois ele nunca foi um radical. A vitória de Mesa ajuda a arrefecer ânimos."