Mundo

Bolívia lança panetone fabricado com folhas de coca

Para surpreender neste natal, os cocaleiros bolivianos colocaram à venda panetones feitos com farinha de folhas de coca

Mulheres colhem folhas de coca em La Asunta, 220 km ao norte de La Paz: a empresa Ebococa assegurou que a folha, em quantidades controladas, não é prejudicial  (Aizar Raldes/AFP)

Mulheres colhem folhas de coca em La Asunta, 220 km ao norte de La Paz: a empresa Ebococa assegurou que a folha, em quantidades controladas, não é prejudicial (Aizar Raldes/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 16 de dezembro de 2011 às 17h53.

La Paz - Com intenção de surpreender neste natal, os cocaleiros bolivianos colocaram à venda panetones feitos com farinha de folhas de coca, um novo produto da industrialização da planta que os traficantes usam para fabricar cocaína.

O gerente da Empresa Boliviana Comunitária da Coca (Ebococa), José Ugarte, declarou à Agência Efe que a companhia, que pertence a seis federações de cocaleiros da provincia de Chapare, fabricou aproximadamente 5 mil panetones para este natal.

'O panetone de coca possui ingredientes habituais, como passas, frutas cristalizadas, açúcar e outras farinhas, mas se destaca por acrescentar 'o ingrediente da energia', que é proporcionado pelas fibras das folhas de coca, uma característica comum dos alcalóides, explicou Ugarte.

Ugarte assegurou que a coca, em quantidades controladas e em seu estado natural, não é prejudicial à saúde e não causa dependência. A farinha desta folha tem cálcio, ferro e vários tipos de vitaminas, além de facilitar a digestão.

A Ebococa é um dos projetos impulsionado pelo presidente da Bolívia, Evo Morales, para industrializar a coca e descriminalizar seu uso tradicional, como a mastigação da folha ('acullico'), na Junta de Fiscalização de Entorpecentes da ONU (Jife).

Na última quinta-feira, Morales pediu novamente aos inspetores da Jife apoiarem seu pedido de descriminalização do 'acullico'. No entanto, o líder boliviano reconheceu que não conseguiu convencer todos integrantes da organização, que é presidida pelo iraniano Hamid Ghodse.


Cada panetone de coca custa US$ 4 e, por ser um produto novo, será vendido somente no departamento central de Cochabamba. Mas, em 2012, o produto deverá ser comercializado também em outras regiões bolivianas.

Segundo Ugarte, a Ebococa é a primeira empresa do país que começou a produzir de forma industrial derivados de coca. Neste mês de dezembro, primeiro mês de operações, a fábrica também produziu chás de coca e, posteriormente, deverá lançar uma nova linha, que inclui: refrescos, energéticos, licores, analgésicos, bloqueadores solares, balas e extratos.

'Nossa principal intenção é demonstrar que a coca também pode ser utilizada para produtos benéficos', apontou Ugarte, que lamentou que 'o mal uso da folha sagrada acaba restringindo sua utilização ao tráfico'.

O investimento feito para construir e equipar a fábrica de panetones de coca, a maior deste setor na Bolívia, foi de US$ 1,7 milhões. Isso porque, há dezenas de pequenas companhias que fabricam artesanalmente outros derivados da folha, cujo cultivo passou de 25,4 mil para 31 mil hectares desde que Morales chegou à Presidência.

Nos últimos anos, com apoio do Governo Morales, os cocaleiros da Bolívia lançaram vários produtos com base no extrato da folha da coca, assim como a famosa 'Coca Cola'.

A Bolívia é o terceiro produtor mundial de coca e cocaína, ficando atrás da Colômbia e do Peru, e o principal fornecedor da droga para os países vizinhos do Cone Sul, segundo a ONU.

A Constituição promulgada por Morales em 2009 diz que 'o Estado protege a coca originária e ancestral como um patrimônio cultural, um recurso natural renovável da biodiversidade da Bolívia, ressaltando que 'em seu estado natural não se trata de um entorpecente'.

Acompanhe tudo sobre:AlimentaçãoAmérica LatinaBolíviaNatalTrigo

Mais de Mundo

Yamandú Orsi, da coalizão de esquerda, vence eleições no Uruguai, segundo projeções

Mercosul precisa de "injeção de dinamismo", diz opositor Orsi após votar no Uruguai

Governista Álvaro Delgado diz querer unidade nacional no Uruguai: "Presidente de todos"

Equipe de Trump já quer começar a trabalhar em 'acordo' sobre a Ucrânia