Mundo

Bolívia confirma indenização para REE

O anunciou ocorreu enquanto políticos e empresários bolivianos polemizam sobre os efeitos e repercussões da medida

O texto do decreto que determinou a nacionalização, criticada por boa parte da oposição boliviana, diz que a REE será paga após "um processo de avaliação realizado por uma empresa independente num prazo de 180 dias úteis" (Jorge Bernal/ AFP)

O texto do decreto que determinou a nacionalização, criticada por boa parte da oposição boliviana, diz que a REE será paga após "um processo de avaliação realizado por uma empresa independente num prazo de 180 dias úteis" (Jorge Bernal/ AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 2 de maio de 2012 às 14h46.

La Paz - O governo do presidente Evo Morales confirmou nesta quarta-feira que indenizará a companhia espanhola Red Eléctrica da Espanha (REE) após avaliar seus investimentos na Transportadora de Eletricidade (TDE), filial da empresa que foi nacionalizada, enquanto políticos e empresários bolivianos polemizam sobre os efeitos e repercussões da medida.

O ministro boliviano de Energia, Juan José Sosa, disse à imprensa que comunicou ao governo espanhol que dialogará com a REE sobre as compensações financeiras pela expropriação.

A embaixada espanhola em La Paz confirmou à Agencia Efe que o secretário de Estado de Cooperação Internacional e para Ibero-América, Jesús Gracia, manterá sua visita para a Bolívia, prevista para o início da semana que vem.

A viagem estava programada há semanas e tem como objetivo discutir com o governo Morales os investimentos da Espanha na região, mas agora o tema central das conversas deverá ser a nacionalização da TDE.

Sosa disse que falou amigavelmente com o ministro da Indústria da Espanha, José Manuel Soria, que perguntou se a Bolívia reconhecerá os investimentos da REE.

"Expliquei que vamos contratar uma empresa que fará a avaliação de todos os ativos que a empresa tem na Bolívia. Vamos nos sentar para negociar e avaliar os investimentos", disse o ministro de Energia, que acrescentou que também serão avaliados os passivos antes da indenização ser estipulada.

"Nosso ponto de partida é o preço que eles pagaram" pela TDE quando a companhia foi privatizada, explicou Sosa. Segundo o ministro, também será levado em conta que em 16 anos muitas linhas de transmissão já cumpriram sua vida útil.

O grupo Unión Fenosa comprou a TDE por US$ 39 milhões em 1997 e assumiu passivos com o Estado de US$ 70 milhões. A REE disse nesta terça-feira que entre 2002 e 2011 seus investimentos superaram US$ 88 milhões, muito perto dos US$ 91 milhões que a empresa pagou para comprar a TED da Unión Fenosa.

Morales, enfraquecido no poder em função de protestos indígenas e sindicais, disse que realizou a expropriação pois os investimentos na TDE somaram apenas US$ 81 milhões de dólares em 16 anos, valor que considerou insuficiente.


O texto do decreto que determinou a nacionalização, criticada por boa parte da oposição boliviana, diz que a REE será paga após "um processo de avaliação realizado por uma empresa independente num prazo de 180 dias úteis".

O chefe da União Nacional, Samuel Doria Medina, escreveu em seu Twitter que com a nova nacionalização o "desprestígio" da Bolívia no exterior aumentará e os investimentos no país diminuirão.

"O Governo está desmoronando lentamente. No mesmo dia nacionaliza uma empresa espanhola e com a Repsol garante os investimentos", criticou Doria Medina, em alusão ao fato de Morales e o presidente da companhia petrolífera espanhola, Antonio Brufau, terem inaugurado ontem uma usina processadora de gás.

O ex-presidente e jornalista Carlos Mesa escreveu na rede social que as nacionalizações não geram "entusiasmo" e que a presença militar na sede da TDE foi "desnecessária".

O presidente da Câmara de Comércio Espanhola na Bolívia, José Luis Muñoz, declarou à Agência Efe que a expropriação da TDE "gera desconfiança", mas que a instituição respeita as leis do país sul-americano. Além disso, afirmou que espera uma "rápida e justa negociação" para o pagamento de uma indenização.

Muñoz pediu que Morales emita "o mais rápido possível" uma lei de investimentos clara, que dê confiança aos investidores estrangeiros e bolivianos, solicitação que também fez o embaixador da Espanha em La Paz, Ramón Santos.

O presidente da Confederação de Empresários Privados da Bolívia, Daniel Sánchez, comentou que a expropriação "gera um clima de negócios adverso".

Sosa, no entanto, afirmou que a Bolívia tem o dever de intervir quando não há investimentos suficientes para dar continuidade a um serviço, e acrescentou que o caso da TDE é diferente do da Repsol.

O jornal oficial "Cambio", o único que publicou hoje um editorial sobre a medida, disse que o processo liderado por Morales "deu um novo passo em direção a sua consolidação plena".

"Outro 1º de maio que surpreende e que aumenta a esperança na construção de um novo Estado. Até aqui, as nacionalizações obtiveram aprovação popular e tiveram consequencias significativas nas condições de vida dos bolivianos", afirmou o texto.

Acompanhe tudo sobre:América LatinaBolíviaEspanhaEstatizaçãoEuropaEvo MoralesIndenizaçõesPiigsPolíticos

Mais de Mundo

EUA lançam aplicativo para que imigrantes ilegais se “autodeportem”

Mil pessoas deixam suas casas após erupção do Vulcão de Fogo na Guatemala

Milei deve propor ao Mercosul acordo comercial com Trump

Governo Trump paralisa 83% dos programas de ajuda externa da Usaid