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Bolha de carbono pode causar nova crise financeira mundial

Os mercados estão investindo pesado em reservas de combustíveis fósseis que, por serem incompatíveis com a segurança climática, podem nunca vir a ser usados, alerta estudo


	Só 20% das reservas de combustíveis fósseis poderá ser usada até 2050, prevê estudo
 (Getty Images)

Só 20% das reservas de combustíveis fósseis poderá ser usada até 2050, prevê estudo (Getty Images)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 19 de abril de 2013 às 14h05.

São Paulo – O mundo pode estar caminhando para uma nova crise a medida que os mercados alocam mais e mais recursos financeiros no desenvolvimento de reservas de combustíveis fósseis que, por serem incompatíveis com a segurança climática, correm risco de não serem usados.

O alerta vem de um estudo feito pelo influente 'think tank' britânico Carbon Tracker e é corroborado por economistas renomados, como Sir Nicholas Stern, responsável pela divulgação em 2006 do Relatório Stern, estudo divisor de águas nas discussões sobre mudanças climáticas, que mostrava como o investimento de apenas 1% do PIB mundial poderia evitar a perda de 20% do mesmo PIB dentro de 50 anos.

“Se queimarmos todas as reservas atuais de combustíveis fósseis, vamos emitir CO2 suficiente para criar um clima pré-histórico", afirma em trecho do novo relatório o professor da London School of Economics. E em tom de alerta, ressalta: "A crise financeira mostrou o que acontece quando os riscos se acumulam de forma despercebida”.

Segundo o estudo do Carbon Tracker, a "bolha de carbono" é o resultado de um excesso de valorização pelos mercados globais das reservas de carvão, gás e petróleo detidas por empresas de combustíveis fósseis. No ritmo atual dos investimentos, a próxima década verá mais de US$ 6 trilhões sendo destinados ao desenvolvimento de fontes sujas, grandes emissoras de gases efeito estufa.

O problema é que pelo menos dois terços dessas reservas terão de permanecer intactas, ou seja, não poderão ser "queimadas" - isso se o mundo for seguir à risca as metas acordadas internacionalmente de limitar o aumento da temperatura média da Terra em até 2º, a fim de evitar efeitos "perigosos" das mudanças climáticas.

Orçamento de carbono

Em 2010, os governos assinaram em Cancún, no México, um acordo prevendo que as emissões devem ser reduzidas para evitar um aumento da temperatura média global de mais de 2 °C acima dos níveis pré-industriais.


Pelos cálculos do Carbon Tracker e da Agência Internacional de Energia, o orçamento de carbono para um cenário de aquecimento limitado a 2ºC seria de 565 a 886 bilhões de toneladas (Gt) de CO2 até 2050.

No entanto, este orçamento é apenas uma fração do carbono presente nas reservas globais de combustíveis fósseis, que somam impressionantes 2,860 GtCO2.

Isso significa que apenas 20% do total das reservas de combustíveis fósseis poderá ser queimado até 2050. “Como resultado, a economia global já enfrenta a perspectiva de ver ativos encalhados, um problema que só tende a piorar se as tendências atuais de investimento na bolha de carbono continuarem”, alerta o estudo.

Para minimizar os riscos para os investidores, o capital precisa ser realocado em opções menos intensivas em carbono. Segundo o relatório, só no ano passado, as 200 maiores empresas do setor de petróleo e gás investiram mais de US$ 674 bilhões para encontrar novas reservas e desenvolver tecnologias capazes de explorá-las.

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