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Após fugir do Boko Haram, nigerianas são atacadas por soldados

Relatório explosivo da Human Rights Watch expõe o drama das mulheres que foram estupradas por agentes do governo em campos de proteção

Imagem mostra algumas das 21 meninas sequestradas pelo Boko Haram em 2014 e que foram libertadas em 2016 (Afolabi Sotunde/Reuters)

Imagem mostra algumas das 21 meninas sequestradas pelo Boko Haram em 2014 e que foram libertadas em 2016 (Afolabi Sotunde/Reuters)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 3 de novembro de 2016 às 10h44.

Última atualização em 3 de novembro de 2016 às 10h45.

São Paulo – Elas encontraram forças para conseguir escapar da violência dos militantes do Boko Haram no estado de Borno, Nigéria. No entanto, ao chegarem em campos de proteção de pessoas deslocadas, mulheres e meninas estão vulneráveis a ataques daqueles que deviam garantir a sua segurança: soldados, policiais e até agentes do próprio campo.

É o que revelou um relatório produzido pela organização não governamental Human Rights Watch lançado nesta semana. Para a sua produção, foram entrevistadas 43 mulheres vivendo em um campo de Maiduguri, capital de Borno. Essas mulheres são de cidades e vilarejos onde o grupo extremista atacou ou estava na iminência de atacar.

Desde 2009, mais de dez mil pessoas foram mortas cerca de 2 mil mulheres e meninas foram sequestradas em ataques dos extremistas. Um dos casos mais chocantes aconteceu em 2014, quando o grupo invadiu uma escola e sequestrou quase 300 meninas. A maioria ainda está desaparecida, embora 21 delas tenham sido libertadas no mês passado após negociações.

Condições subumanas

A entidade denunciou ainda as condições deploráveis de vida enfrentadas pelas pessoas que vivem nos campos de deslocados em Borno e criticou o governo nigeriano pela falta de estrutura. De acordo com o relatório, faltam medicamentos e atendimento especializado para mulheres vítimas de violência sexual.

Como resultado da precariedade do local, o número de pessoas com HIV aumentou dramaticamente entre 2014 e 2016, de 200 para 500, mas estima-se que esse número seja ainda maior, uma vez que muitas sentem vergonha de relatar o ataque e buscar ajuda. Aquelas que engravidam enfrentam ainda o preconceito e são frequentemente isoladas do convívio social.

Casos

Um dos casos ouvidos pelos pesquisadores da Human Rights Watch foi o de uma menina de 16 anos, que conseguiu escapar de um dos ataques do Boko Haram em Baga, norte de Bono. Em 2015, o grupo realizou um ataque nesse vilarejo no qual ao menos 2 mil pessoas foram mortas.

Foi dopada e estuprada por um membro de uma força popular que tem o apoio do governo no combate aos terroristas. Ele era responsável pela distribuição de medicamentos. Segundo a jovem, esse homem pediu por sexo algumas vezes e ela sempre respondia que era jovem demais, até que um dia ele a atacou. Ela engravidou em razão do ataque e seu algoz deixou o campo no dia em que o bebê nasceu.

Repercussão

O relatório da Human Rights Watch foi recebido com choque pela presidência do país. Em manifestações nas redes sociais, o presidente Muhammadu Buhari classificou os relatos como preocupantes e prometeu tomar medidas enérgicas para garantir a segurança das pessoas nos campos.

 

 

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