Pró-russos em Donetsk: governo assume que existem locais aonde os eleitores não irão votar (Maks Levin/Reuters)
Da Redação
Publicado em 19 de maio de 2014 às 14h54.
Kiev - A campanha para as eleições presidenciais ucranianas entrou na reta final ofuscada pelo boicote das regiões insurgentes pró-russas de Donetsk e Lugansk, onde dificilmente as autoridades de Kiev poderão garantir a votação.
"Somos muito conscientes e não enganamos ninguém que no grandíssimo território das regiões de Donetsk e Lugansk será impossível garantir a realização normal das eleições ", disse hoje o ministro do Interior Arsen Avakov.
O governo assume que existem municípios rebeldes aonde os eleitores não irão às urnas, uns por iniciativa própria e outros por temerem as represálias dos milicianos pró-russos.
"Na região de Donetsk só recebemos listas preliminares de eleitores de 26% dos colégios eleitorais e em Lugansk, de 16%", explicou o subchefe da Comissão Eleitoral Central (CEC), Andrei Maguera.
Os insurgentes fizeram-se com o controle de vários colégios eleitorais e apreenderam os censos para abortar a votação nos territórios das "repúblicas populares", que proclamaram há uma semana sua independência.
"Acreditamos que as presidenciais de 25 de maio não serão legítimas. Certamente não as reconheceremos. Tentar organizar a eleição no território de nossos Estados independentes é ilegal", disse hoje à imprensa russa Pavel Gubarev, um dos líderes insurgentes em Donetsk.
Já o parlamento da "república popular de Lugansk" foi além ao dissolver as comissões eleitorais e tachar de ilegais a propaganda, a campanha e a própria votação do dia 25.
Nas outras 22 regiões do país a comissão eleitoral garantiu que o nível de preparação "é de 100%" faltando menos de uma semana para a votação.
O primeiro-ministro, Arseni Yatseniuk, declarou que "qualquer tentativa dos "terroristas" de Donetsk e Lugansk de abortar as eleições presidenciais na Ucrânia está condenado ao fracasso".
Durante a reunião com Yatseniuk, Avakov alertou que nas duas regiões rebeldes se esperam provocações, e elas receberão grupos operacionais especiais para garantir a ordem e o processo eleitoral.
"Trabalharão grupos de reação rápida para prevenir provocações. Nos pontos mais quentes deslocamentos agentes das regiões mais tranquilas", acrescentou.
O governador de Donetsk designado por Kiev, Sergei Taruta, disse que as autoridades regionais formaram já as 22 comissões eleitorais, mas os rebeldes dizem que controlam seis delas.
"Se a votação não puder acontecer em alguns colégios, isso não quer dizer que não haverá eleições em Donetsk", especificou.
Taruta reconheceu que milhares de pessoas estão armadas em Donetsk, mas ressaltou que o apoio popular aos separatistas diminuiu drasticamente nas últimas semanas.
Irina Veriguina, governadora de Lugansk, disse que seis de suas 12 circunscrições eleitorais foram sequestradas pelos insurgentes.
À rejeição dos sublevados às eleições nacionais se uniu hoje o Partido Comunista da Ucrânia (PCU), que antecipou que não reconhecerá os resultados depois que o presidente, Alexander Turchinov, pedisse ao Ministério da Justiça a ilegalização do PCU.
O emissário da OSCE para a Ucrânia, Wolfgang Ischinger, ressaltou a importância das eleições para normalizar a situação na Ucrânia, mas descartou que planejem convencer os rebeldes a depor as armas e estimou em menos de 10% as cidades ucranianas onde haverá problemas na realização da votação.
A União Europeia e os Estados Unidos consideram a eleição presidencial do próximo domingo crucial para legitimar as autoridades que derrubaram o presidente Viktor Yanukovich em fevereiro.
A Rússia, que acusa as atuais autoridades ucranianas de dar um golpe de Estado, qualificou as eleições de "um passo na boa direção", mas não confirmou se reconhecerá os resultados.