Biden: presidente americano afirmou que empresas como Ford e Intel estão criando vagas nos EUA (Sarah Silbiger/Reuters)
Carolina Riveira
Publicado em 3 de junho de 2022 às 17h31.
Última atualização em 3 de junho de 2022 às 18h05.
O presidente americano, Joe Biden, comentou nesta sexta-feira, 3, sobre os planos da montadora Tesla de demitir 10% de seu corpo de funcionários assalariados. Em uma indireta ao presidente da montadora, Elon Musk, Biden desejou "boa sorte" ao bilionário em sua "viagem para a Lua".
A notícia dos planos de demissões da Tesla foi reportada inicialmente pela agência Reuters, que teve acesso a um e-mail enviado por Musk a executivos na quinta-feira, 2.
Na mensagem, Musk afirma que a Tesla tem mais funcionários do que necessita — após aumentar o número de empregados em 45% em um ano — e diz que tem "um sentimento muito ruim sobre a economia dos Estados Unidos".
Nesta sexta-feira, Biden foi questionado sobre o assunto em uma coletiva de imprensa. A repórter perguntou ao presidente sobre os comentários de Musk acerca da economia americana.
VEJA TAMBÉM: EUA cria 390 mil empregos em maio; desemprego fica em 3,6%
Biden respondeu dizendo que outras empresas estavam ampliando contratações nos Estados Unidos.
"Enquanto o Elon Musk está falando disso, a Ford está aumentando seu investimento amplamente", disse, antes de citar também planos de contratações da Intel e da antiga Chrysler (hoje do grupo Stellantis).
"Então, bom, muita sorte na viagem dele para a Lua", disse Biden, em referência ao projeto de uma viagem lunar da SpaceX, empresa aeroespacial da qual Musk é dono.
VEJA TAMBÉM: Ações da Tesla caem após notícia de demissões em massa
Musk, por sua vez, respondeu no Twitter postando um comunicado de parceria entre a SpaceX, fabricante de sistemas aeroespaciais da qual é dono, e da Nasa, agência estatal e controlada pelo governo americano.
A SpaceX ganhou um contrato da Nasa para levar dois astronautas à Lua, na missão batizada de "Ártemis".
"Obrigado, senhor presidente", escreveu Musk.
Thanks Mr President!https://t.co/dCcTQLsJTp
— Elon Musk (@elonmusk) June 3, 2022
Enquanto isso, ao falar na coletiva sobre os empregos criados pela Ford, citando que inclui produção em carros elétricos — outra indireta à Tesla de Musk —, Biden disse ainda que as vagas são "de empregos com sindicatos, devo acrescentar".
O presidente mencionou que a Ford está abrindo 6 mil vagas no meio-oeste americano e a Intel, 20 mil postos para fabricação de chips.
Musk tem disparado críticas contra a gestão Biden, que é do Partido Democrata. No passado, o bilionário acusou o governo de favorecer fábricas e empresas que criam vagas sindicalizadas, uma bandeira de Biden, que frequentemente chama esses postos de "bons trabalhos".
Musk também criticou recentemente uma proposta de Biden de ampliar a tributação de multinacionais nos EUA.
O dono da Tesla é atualmente o homem mais rico do mundo, com patrimônio estimado em US$ 294 bilhões, segundo as cotações desta sexta-feira medidas pelo índice de bilionários da Bloomberg.
Os embates de Musk com os democratas apareceram novamente após a proposta de compra do Twitter feita pelo bilionário (a transação ainda não foi concluída).
VEJA TAMBÉM: Musk diz que vai reverter banimento de Donald Trump do Twitter
Políticos do Partido Republicano comemoraram a eventual aquisição, enquanto membros do Partido Democrata criticaram o fato de a rede social estar sob controle de uma única pessoa e afirmaram se preocupar com a propagação de discurso de ódio. Musk diz que não se define como eleitor do Partido Republicano especificamente.
Se seguir adiante com os planos de demissões, a Tesla pode demitir cerca de 6 mil funcionários, pelos cálculos do jornal The Wall Street Journal. Os cortes, segundo o e-mail de Musk vazado, não incluiriam funcionários diretamente envolvidos na linha de produção de carros, baterias e painel solares.
A montadora terminou 2021 com 100 mil funcionários. As ações da Tesla fecharam a sexta-feira com queda de 9,2%, puxada pela notícia dos cortes.
Os EUA divulgaram também nesta sexta-feira a taxa de desemprego no mês de maio, que ficou em 3,6%, uma das menores da história. A criação de vagas ficou acima do esperado pelo mercado, com 390 mil novos postos.
Por outro lado, o aquecimento do mercado de trabalho e os gargalos globais na oferta de commodities com a guerra na Ucrânia, sobretudo no caso dos combustíveis, têm feito subir a inflação nos EUA. A inflação americana supera hoje 8%, valor alto para os padrões do país.
O Banco Central americano, o Fed, deve promover novas altas de juros neste ano para conter a inflação, o que pode levar os EUA a uma recessão a depender do cenário. Apesar do desemprego baixo, a alta da inflação tem sido custosa para a popularidade de Biden.