Vladimir Putin e Donald Trump: presidentes da Rússia e EUA se encontraram para discutir a guerra na Ucrânia em 15 de agosto de 2025. (ANDREW CABALLERO-REYNOLDS/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 20 de agosto de 2025 às 08h17.
Última atualização em 20 de agosto de 2025 às 08h19.
Um dia após a reunião de líderes dos EUA, Ucrânia e outros países europeus na Casa Branca, na qual foram delimitados alguns caminhos rumo ao fim da guerra na Ucrânia, as reações na Rússia oscilaram entre a raiva dos propagandistas pró-guerra, os elogios de aliados do líder russo, e o desdém da imprensa oficial direcionado a Kiev e à Europa.
Entre os blogueiros militares, notabilizados por sua cobertura nas linhas de frente e comentários que com frequência atacam as estratégias militares russas, o tom era amplamente crítico ao Kremlin. Maxim Kalashnikov, defensor da guerra total contra a Ucrânia, afirmou em artigo publicado no canal Roy TV, no Telegram, que os EUA entenderam as limitações do Exército russo, especialmente no enfrentamento aos drones ucranianos, e impuseram um acordo que, segundo ele, já foi alcançado.
“Caso contrário, os presidentes não teriam se encontrado. Ou seja, eles só precisam assinar,” afirmou, se referindo ao encontro entre o presidente russo, Vladimir Putin, e dos EUA, Donald Trump, na semana passada, no Alasca.
A escolha do estado americano para a reunião bilateral foi parte do que o blogueiro Alexei Larkin descreveu como “grande humilhação” imposta a Putin, que, ao se encontrar com Trump na pista do aeroporto, ou fazer uma longa declaração, sem responder aos jornalistas, não soou humilhado. Pelo contrário.
“Uma reunião não em território neutro, mas nos Estados Unidos, não na capital, mas no interior, onde vivem os caipiras e os ursos. E tudo isso nos mesmos lugares que um dia foram nossos, e depois os desperdiçamos por uma bela grana e ainda temos complexos sobre isso na cultura popular,” escreveu Larkin. “E então as perspectivas são todas sombrias: A) Não assinamos o acordo - isso significa que somos incapazes de negociar, viemos, mas não adianta. B) Assinamos - viemos, cedemos, Trump é um macho alfa. Deve haver algum plano astuto dos marionetistas do Kremlin.”
Para o blogueiro identificado como Verum Regnum, se encontrar com Trump nos EUA foi uma “zombaria sofisticada” aceita pelo Kremlin, que inclui ainda uma futura troca territorial entre Rússia e Ucrânia, como citada pelo presidente americano em mais de uma ocasião (e que teoricamente beneficiará mais Moscou do que Kiev).
“Se qualquer tipo de ‘troca territorial’ é possível, então a Constituição da Federação Russa é apenas um pedaço de papel sem sentido (os inimigos vêm dizendo isso há muito tempo, mas é para isso que eles são inimigos). Se é possível trocar o sangue dos nossos soldados pelos territórios libertados, então tudo é possível,” afirmou.
Nos meses que antecederam a guerra, Vladimir Putin e o aparato de propaganda do Kremlin criaram toda a narrativa para justificar, ao público interno, a invasão iniciada em fevereiro de 2022. Dentro deste plano, surgiram os até hoje pouco claros objetivos de guerra da Rússia, que inicialmente previam a invasão de Kiev e a derrubada do governo, mas que posteriormente foram adequados à conquista da região do Donbass, no leste ucraniano. Mas para os blogueiros que passaram três anos e meio exigindo uma vitória incontestável contra os ucranianos, um acordo de paz soa como uma derrota.
“Para ser franco, a comunidade Z (blogueiros, referência à letra usada como símbolo da guerra na Rússia) tem um problema fundamental com as negociações entre os dois presidentes (Trump e Putin): não está claro exatamente sobre o que eles podem concordar,” escreveu, em artigo no site Vot Tak, o jornalista Ivan Filipov, que acompanha a “blogosfera militar” desde o início do conflito. “A maior preocupação dos defensores da guerra é a própria ideia de que Washington tenha feito a Moscou algum tipo de proposta com a qual Putin possa concordar.”
A imprensa oficial foi um pouco menos ácida, e se concentrou nos ataques ao presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e seus aliados ocidentais. No portal da rede Zvezda, ligada ao Ministério da Defesa, um comentarista chamou os europeus que foram à Casa Branca na segunda-feira de “grupo de apoio”, e os comparou a “garotas na pista de dança”, utilizando estereótipos impublicáveis em veículos de imprensa com algum senso crítico.
Kirill Strelnikov, propagandista pró-Kremlin e colunista no portal da agência RIA, afirmou que os líderes europeus foram a Washington “com pressa e ansiedade, e sem saber exatamente o que os aguardava”.
“Os jornalistas começaram a desmaiar com os acenos dos europeus que concordavam com Trump, mas no final a gangue europeia conseguiu o principal: Zelensky não foi jogado na rua,” escreveu o colunista. “Para apaziguar Trump, se contorceram, se esquivaram, bajularam e crucificaram de todas as formas seu amor pela paz em todo o mundo.”
Até o momento, o Kremlin não se comprometeu com uma reunião entre Putin e Zelensky, tampouco com um mapa da paz que inclua trocas de territórios, garantias de segurança e o fim de sanções. Mas, na visão do homem frequentemente apontado como o guru do líder russo, o filósofo Alexander Dugin, o governo russo está no caminho certo.
“Parabenizo a todos nós pela cúpula perfeita. Foi grandiosa. Ganhar tudo e não perder nada, só Alexandre III (imperador da Rússia entre 1881 e 1894) poderia fazer isso. É impossível imaginar o quão difícil foi, quase impossível para Putin,” escreveu Dugin. “Zelensky e a UE (União Europeia) rejeitarão tudo e exigirão uma guerra até a vitória. Mas Trump já é um pacificador. E ele pode se candidatar ao Prêmio Nobel. Ele fez o impossível. E então lava as mãos. O poder de Anch