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BIS pede que BCs aumentem juros para conter inflação

Relatório anual do Banco de Compensações Internacionais mostra que pressão inflacionária traz riscos para estabilidade financeira

Banco Central britânico: no Reino Unido, inflação já está no dobro da meta (Adrian Pingstone/Wikimedia Commons)

Banco Central britânico: no Reino Unido, inflação já está no dobro da meta (Adrian Pingstone/Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 27 de junho de 2011 às 17h55.

Basileia, Suíça - Bancos centrais precisam começar a aumentar as taxas de juros para controlar a inflação e podem ter que fazê-lo mais rápido do que no passado, disse o Banco de Compensações Internacionais, conhecido como BIS, o banco central dos bancos centrais.
“É necessária uma política monetária global mais rígida para conter a pressão inflacionária e eliminar riscos para uma estabilidade financeira”, disse o BIS em seu relatório anual publicado ontem em Basiléia, na Suíça. “Bancos centrais podem ter que se preparar para elevar as taxas de juros a um ritmo mais rápido do que aquele de episódios anteriores.”

Enquanto governos na América Latina e na Ásia já estão aumentando as taxas de juros para conter pressões inflacionárias, as taxas permanecem em baixas recordes nas grandes economias desenvolvidas. Os bancos centrais de Estados Unidos, Reino Unido e Japão sinalizaram que pretendem manter este estímulo por mais algum tempo. Apenas o Banco Central Europeu está se mexendo para gradativamente controlar a expansão do crédito com o aumento dos riscos de inflação.

“Pressões inflacionárias ao redor do mundo estão aumentando rapidamente com a disparada no preço das commodities e com a recuperação econômica indicando restrições de capacidade”, disse o BIS. “Esse aumento de risco de inflação demanda taxas de juros mais altas.”

Com a inflação no Reino Unido em 4,5 por cento, mais do dobro da meta do Banco da Inglaterra, o BCI disse que “pode-se questionar por quanto tempo a atual política se sustentará”. A libra chegou a avançar US$ 0,05 mais cedo na Europa, para US$ 1,5985 antes de recuar para US$ 1,5982 às 12:34, no horário do Brasil.

‘Muito baixas por muito tempo’

O petróleo subiu 20 por cento nos últimos 12 meses, pressionando companhias a aumentarem salários e repassarem os custos mais altos para os consumidores.

“Existe uma pressão no preço”, disse Carsten Brzeski, economista-chefe para Europa no ING Group NV em Bruxelas. “Uma das lições aprendidas com a crise financeira é que não se deve deixar taxas muito baixas por muito tempo. Agora é hora de relembrar essa lição.”

O diretor-geral do BIS, Jaime Caruana, disse que a inflação global aumentou um ponto percentual para 3,6 por cento desde abril de 2010. Enquanto isso, taxas de curto prazo ajustadas pela inflação a um nível global “na verdade caíram no último ano, de 0,6 por cento negativo para 1,3 por cento negativo”, disse ele ontem em um discurso em Basiléia.

“A economia global está crescendo cerca de 4 por cento, uma taxa historicamente respeitável”, disse Caruana. “A retomada da demanda eliminou o receio de deflação. Com isso, a necessidade de expansionismo monetário desapareceu.”


‘Período prolongado’

O BCE em abril elevou a taxa básica de juros da baixa recorde de 1 por cento e sinalizou que um novo aumento de 0,25 ponto percentual pode ocorrer em julho.

Por outro lado, o Federal Reserve dos EUA anunciou que a política de taxa próxima à zero permaneceria por um “período prolongado”, enquanto o Banco do Japão manteve os juros perto de zero e programas de auxílio ao credito e compra de ativos.

A ata da última reunião do Banco da Inglaterra, que manteve a taxa básica de juros em 0,5 por cento, mostra que alguns membros veem um potencial no aumento das compras de títulos para estimular a recuperação econômica.

O BIS disse que em “algumas economias desenvolvidas”, o aperto ainda precisa ser balanceado, levando em conta as “vulnerabilidades” associadas ao ajuste fiscal e fragilidade do setor financeiro.

Credibilidade

Ainda assim, “um atraso excessivo na normalização da política monetária acarreta no risco da criação de sérias distorções no mercado financeiro”, segundo o relatório. Um “aperto oportuno” na política tanto das economias emergentes quanto das desenvolvidas será necessário para “preservar um ambiente de baixa inflação a nível global, e reforçar a credibilidade dos bancos centrais em relação ao combate à inflação.”

O BIS disse que bancos centrais deveriam reduzir o tamanho de seus balanços patrimoniais, apesar de que seria “perigoso” reduzi-los “muito rapidamente ou indiscriminadamente.”

Em resposta à crise financeira, o Fed e o Banco da Inglaterra aumentaram ”drasticamente” seus ativos totais de cerca de 8 por cento do Produto Interno Bruto para um pouco menos que 20 por cento do PIB. O BCE expandiu o total de ativos de 13 por cento do PIB para mais de 20 por cento, segundo o BCI.

“Políticas de ajuste do balanço patrimonial ajudaram a sustentar a economia global durante uma crise muito difícil”, disse o banco. “Entretanto, os balanços estão agora expostos a riscos maiores - principalmente riscos de juros, cambial e de crédito - que podem levar a perdas financeiras.”

‘Uma vez por todas’

O BCI também fez um apelo para que governos busquem a consolidação fiscal, dizendo que o maior risco é “fazer pouco tarde de mais do que fazer muito cedo de mais”. Na Europa, os governos precisam resolver a crise da dívida da região de “uma vez por todas”, disse o banco.

“Em lugar algum hoje a relação entre sustentabilidade fiscal e saúde financeira é mais aparente do que em algumas partes da Europa”, disse Caruana. “Não há uma saída que seja fácil, nenhum atalho ou solução indolor.”

O BIS alertou que o fracasso dos EUA em conter o déficit orçamentário poderia ser uma fonte de instabilidade, que pode “atingir a economia global” caso leve a uma rápida depreciação do dólar.

“A atual capacidade dos EUA em financiar facilmente seu déficit não pode ser uma certeza”, segundo o relatório.

O BIS faz a custódia de reservas de moedas de seus membros e proporciona fóruns de discussão para governos. Entre os participantes do encontro geral anual de ontem na Basileia estavam o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, presidente do Fed, Ben S. Bernanke, presidente do Banco do Japão, Masaaki Shirakawa, e o presidente do banco central da Alemanha, Jens Weidmann.

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