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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h37.
São Paulo - A maior mistura de biodiesel no diesel, um componente chave para o aumento na demanda por soja no Brasil já em 2010, poderá ganhar ainda mais importância para o mercado na próxima temporada, especialmente se o Brasil não conseguir repetir a extraordinária safra obtida em 2009/10.
Neste ano, o país colheu um recorde de 68,7 milhões de toneladas de soja, matéria-prima que responde por 85 por cento da produção nacional de biodiesel. O Brasil contou com chuvas abundantes sob influência do El Niño para ver sua colheita saltar mais de 10 milhões de toneladas ante a safra passada.
Isso de certa forma atenuou o impacto da demanda adicional de 740 mil toneladas de óleo (ou 4 milhões de toneladas de soja) gerada com a mudança do B3/B4 que vigorou respectivamente em cada metade de 2009 para o B5 em 2010 (mistura de 5 por cento de biodiesel no diesel), em meio à forte busca de importadores pelo grão brasileiro.
Mas para o ano que vem, mesmo que o B5 se mantenha, como indica o governo, o mercado pode ficar mais apertado, pois já se fala em redução do plantio no principal Estado produtor de soja, o Mato Grosso --o país é dependente do grão para o biodiesel, com a produção de matérias-primas alternativas com maior conteúdo de óleo, como a palma, ainda apenas no início.
"A gente pode ter problema, o Mato Grosso vai diminuir a área de soja, as coisas começam a se complicar", disse Glauber Silveira, presidente da Aprosoja-MT, dos produtores do Estado.\ Nesta semana, a Aprosoja divulgou estudo que aponta uma queda de 2 por cento no plantio no Mato Grosso na próxima safra. O Estado responde por quase 30 por cento da produção do Brasil, o que dá um indicativo do tamanho da produção na nova temporada.
"O governo tem feito pouca coisa para incentivar (o plantio), o produtor está muito endividado, e o Estado não tem logística", acrescentou Silveira, comentando os principais entraves para agricultura de Mato Grosso, o principal vendedor de biodiesel no último leilão da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
No curto prazo, o governo não deverá elevar a mistura, segundo o coodenador-geral de Agroenergia do Ministério da Agricultura, Denilson Ferreira. Mas o simples crescimento do consumo de diesel --que tende a aumentar junto com a economia mais acelerada-- já elevará a demanda por biodiesel em 2011.
Quanto crescerá, Ferreira evitou estimar, dizendo que mesmo que a safra de soja caia, a oferta será suficiente para a produção de biodiesel.
Roubando grão da exportação
Mas o setor privado está vendo nesta entressafra no Brasil uma situação menos tranquila. Mesmo com uma safra recorde colhida em 09/10, está havendo atualmente uma intensa disputa por soja em Mato Grosso entre processadores e exportadores.
"Esse negócio de biodiesel, acho que muita gente desprezou", afirmou João Birkhan, diretor da Central de Comercialização de Grãos da Famato, dos produtores de Mato Grosso, ressaltando ter visto recentes negócios de soja com valores de 3 reais por saca de 60 kg acima do mercado.
Segundo ele, algumas tradings, acreditando em uma oferta folgada com a safra recorde, ficaram vendidas e agora estão tendo que pagar um preço acima do mercado para honrar acordos.
No embalo do biodiesel, ressaltou Birkhan, o Mato Grosso (principal exportador do grão do Brasil) está se tornando um grande processador de soja.
Assim, no caso de uma oferta mais escassa por eventual frustração de safra, a exportação do Brasil, segundo exportador mundial de soja, perderia volumes para o biodiesel.
"Estamos exportando um volume (recorde) de 29 milhões de toneladas de soja em grão, que pode ser utilizado a qualquer momento para fazer biodiesel aqui", afirmou Fábio Trigueirinho, secretário-geral da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais.
Trigueirinho, que salientou que o grande "driver" para o processamento de soja é o farelo, destinado à indústria de ração animal, acrescentou que o setor vê vantagens tributárias na produção do biodiesel, cuja comercialização permite às empresas receberem créditos de ICMS que não poderiam ser usados no caso da exportação do óleo.
Mistura maior
Sérgio Beltrão, diretor-executivo da União Brasileira do Biodiesel (Ubrabio), concorda, acrescentando que "uma pequena retenção" da soja hoje exportada poderia permitir até que o país --entre os quatro maiores produtores de biodiesel do mundo-- elevasse seu percentual de mistura.
"Seja pelo incremento de uma safra para a outra, seja pela desejável retenção e agregação de valor de grãos que vão para o exterior, gerando empregos lá, você consegue com muita tranquilidade atender a demanda do biodiesel", disse Beltrão, cuja associação defende junto ao governo a elevação gradativa da mistura até o B10, além de um B20 para as regiões metropolitanas, com foco na melhoria da qualidade do ar.