Analistas acreditam que revoltas como a do Egito diminuíram a influência de Bin Laden (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 5 de maio de 2011 às 14h02.
Dubai - A ausência notável de reações nas ruas árabes à eliminação de Osama Bin Laden mostra que o fundador da Al-Qaeda perdeu toda a popularidade entre os jovens que optaram pela via da contestação popular, consideram os analistas.
"A morte de Bin Laden não significa grandes coisas para o povo árabe, com todas essas revoluções ocorridas que deram lugar a novos dirigentes", considera o analista egípcio Diaa Rachwane, especialista em movimentos islamitas.
A eliminação de Bin Laden é "um desenvolvimento natural que veio na hora certa para virarmos a página da violência armada" que atinge civis de forma indiscriminada, acrescentou.
Segundo ele, a morte de Bin Laden marca o fim de uma época. "Se tivesse sido morto um pouco mais tarde, ele não teria tido a cobertura midiática que teve", assegura o analista.
Nenhuma grande manifestação foi registrada no mundo árabe após o anúncio feito pelos Estados Unidos da morte de Bin Laden, abatido no domingo por um comando americano no Paquistão. Nem mesmo o sepultamento de seu corpo feito no mar, que vai de encontro às práticas do Islã, foi capaz de gerar comoção.
Washington explicou essa escolha por seu temor de que uma sepultura torne-se um local de veneração para os partidários do fundador da Al-Qaeda.
Salman Sheikh, diretor do Brookings Institute em Doha, declarou também que não ficou surpreso com a ausência de uma reação no mundo árabe à morte de Bin Laden.
"O mundo árabe se distanciou há muito tempo da Al-Qaeda e escolheu o caminho das revoltas populares", considera essa analista paquistanesa.
"Hoje, os árabes se voltaram para a luta por sua liberdade e querem, ao mesmo tempo, se livrar dos extremistas (...). Eles querem se voltar para o futuro e não mais ser considerados como terroristas", acrescenta.
"A erradicação do terrorismo não será possível se não forem derrubados os regimes despóticos que empurram alguns jovens, por desespero, para a luta armada", afirmam em um comunicado os jovens contestadores que acampam em uma praça de Sanaa, capital do Iêmen, que é um dos países em que o líder da Al-Qaeda era popular.
"O terrorismo islâmico não tem mais no mundo árabe o impacto que tinha no passado, porque a luta dos jovens se concentra atualmente na liberdade, na democracia e na melhoria das condições de vida", explica a socióloga libanesa Dalal Bizri.
"Isso não significa que o terrorismo não tenha mais militantes", indica. Mas "o extremismo religioso se reveste hoje um caráter mais social do que político", ressalta.
Alguns prestaram homenagem ao "xeque Osama" em fóruns de discussão islamitas, enquanto que, no Iêmen, um líder local da Al-Qaeda na Península Arábica (Aqpa, nascida da fusão dos braços iemenita e saudita) prometeu vingar o fundador da rede.
Segundo Bizri, os movimentos islamitas são cada vez mais influentes seguindo o modelo turco. Além disso, os Irmãos Muçulmanos de Egito acabaram de criar seu próprio partido político, com a ambição de conquistar a metade dos assentos nas eleições legislativas previstas para setembro.
"A principal característica do período que virá é a participação dos islamitas no poder, e eles saberão lutar contra os extremistas e reduzi-los ao silêncio", considera a analista libanesa.