Hillary e Bill Clinton: na Convenção Democrata, Bill Clinton destacou criteriosamente as virtudes de sua esposa (Justin Sullivan/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 19 de agosto de 2016 às 17h17.
O ex-presidente americano Bill Clinton completa 70 anos nesta sexta-feira, com a perspectiva inédita de se tornar em breve, pela primeira vez na história dos Estados Unidos, o "primeiro-cavalheiro" da Casa Branca.
Presidente de 1993 a 2001, ele pode voltar à mansão da Avenida Pensilvânia como marido de Hillary Clinton, se ela vencer a eleição de novembro.
Sua influência e papel nesta nova função ainda estão indefinidos, assim como o nome a ser utilizado: "primeiro-cavalheiro" ou "primeiro-homem".
Até o momento, o homem que ocupa um lugar único na política americana, estrategista e orador sem igual, sempre muito popular, ativo no cenário internacional graças à fundação que leva seu nome, não falou nada.
Contenta-se em fazer piadas sobre o fato de que gostaria de "romper com a tradição de que a mulher tem o trabalho de ser a esposa do presidente".
Com cabelos brancos, voz inconfundível, magro desde que se tornou vegetariano em 2010 depois de problemas de saúde, Bill Clinton faz há meses uma campanha incansável para sua esposa.
Depois de provocar críticas na primeira campanha de Hillary contra Barack Obama em 2008, por conta de declarações fora de lugar e uma presença que chamava a atenção, desta vez se manteve discreto, limitando-se a fazer piadas e ataques ao candidato republicano Donald Trump em centenas de aparições públicas.
Sua discrição esconde suas infidelidades passadas, que continuam sendo um peso para Hillary, e que Trump tentou explorar reiteradamente.
Na Convenção Democrata, Bill Clinton destacou criteriosamente as virtudes de sua esposa.
Existe, entretanto, uma certeza: se voltar à Casa Branca, Bill Clinton estará longe de se comportar como uma planta, considerando que é imperfeito e muito político para isso.
Em maio, durante uma reunião em Kentucky, Hillary Clinton confidenciou que pensava em "encarregá-lo de revitalizar a economia. Porque, vocês sabem, ele sabe como fazer", disse, em alusão ao período de sua Presidência, marcado por um orçamento equilibrado e pela criação de milhares de empregos.
Mas também adiantou que não tinha a intenção de nomeá-lo para um ministério.
Tradicionalmente, as primeiras-damas, que têm seu próprio chefe de gabinete e pessoal na Casa Branca, se dedicam a causas que as motivam e não criam polêmicas: a leitura e a educação para Laura Bush; o jardim, a obesidade, os ex-combatentes e o direito das mulheres para Michelle Obama.
O que Bill Clinton encontrará e como coabitará o casal mais poderoso de sua geração são as incógnitas que surgem.
"Penso que se encarregará de um ou dois temas que Hillary assinará", considera Robert Shapiro, cientista político da Universidade de Columbia, em Nova York.
"Terá um papel perceptível, mas nada que possa fazer sombra a presidente" Hillary. Mesmo que "imagino que a portas fechadas, irá lhe dar conselhos", acrescenta o especialista.
"Cookies" presidenciais
Aos 70 anos, Bill Clinton, que será o mais idoso cônjuge a entrar na Casa Branca, parece se preparar de todas as formas.
Para não dar lugar a críticas, não aceita mais fazer discursos pagos há meses, segundo a NBC News. Essas conferências lhe renderam milhões de dólares em 2015.
Ele tem a intenção de pôr fim à captação de dinheiro para sua fundação, cujas atividades deverão ser reduzidas, segundo o Wall Street Journal.
Além disso, acaba de aderir a uma tradição para as esposas dos candidatos à Casa Branca, apresentando, como fez Melania Trump, sua melhor receita de "cookies" à revista Family Circle (os leitores escolherão uma delas).
Visivelmente pouco motivado, apresentou a mesma receita que Hillary Clinton em 1992 e 1996.
Reviravoltas do destino. A tradição surgiu de uma controversa declaração de Hillary em 1992 durante a primeira campanha presidencial de Bill Clinton, sobre sua decisão de seguir uma carreira.
"Penso que poderia ficar em casa, fazer 'cookies' e tomar chá, mas decidi me dedicar à minha profissão, iniciada antes de meu marido entrar para a vida pública", afirmou naquele ano.
A partir dessa fala, interpretada como uma crítica às donas de casa, surgiu a ideia de votar nas receitas presidenciais.