Joe Biden, presidente dos Estados Unidos (Eros Hoagland/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 10 de abril de 2024 às 10h39.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, criticou a abordagem do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, em Gaza e instou o premier a aceitar um cessar-fogo com o Hamas, em uma entrevista que foi ao ar na terça-feira. Os comentários do líder americano foram algumas das críticas mais diretas a Netanyahu em meio às crescentes tensões sobre o número de mortos civis e às terríveis condições provocadas pela guerra em Gaza.
— Peço simplesmente que os israelenses estabeleçam um cessar-fogo, que permitam durante as próximas seis, oito semanas, acesso total a todos os alimentos e medicamentos que entrem [em Gaza] — disse Biden em uma entrevista à televisão norte-americana de língua espanhola Univision, antes de responder diretamente sobre a abordagem de Netanyahu em Gaza. — Acho que ele comete um erro no que faz. Não concordo com o ponto de vista dele.
Seis meses após o início da guerra, desencadeada pelo ataque sem precedentes do Hamas contra Israel, as operações militares israelenses continuam em Gaza, com bombardeios no norte e no centro do território, segundo testemunhas, enquanto muçulmanos de todo o mundo celebram o Festival Aid el-Fitr, que marca o fim do Ramadã.
Catar, Egito e Estados Unidos, países que atuam como mediadores do diálogo entre Hamas e Israel, apresentaram uma nova proposta de trégua em três fases no Cairo, no domingo.
A primeira fase contempla uma trégua de seis semanas, a libertação de 42 reféns em Gaza em troca de 800 a 900 palestinos presos em Israel, a entrada de 400 a 500 caminhões diários de ajuda alimentar e o regresso dos deslocados às suas casas no território.
O Hamas garantiu que iria “estudar a proposta” antes de dar a sua resposta aos mediadores e criticou que Israel “não respondeu a nenhuma” das suas exigências.
Ainda na entrevista à Univisión, Biden reiterou que o ataque de drone da semana passada, lançado por Israel, que matou sete trabalhadores humanitários da World Central Kitchen (WCK), ONG com sede nos EUA, foi “ultrajante”. Israel fez uma investigação interna sobre o caso, considerada insuficiente por observadores internacionais. A conclusão foi de que os trabalhadores foram confundidos com homens armados do Hamas.
Israel insiste que não está limitando a entrada de ajuda humanitária e que cumpriu as exigências dos EUA e das Nações Unidas para aumentar as entregas. O governo enfrenta o prazo de quarta-feira do Supremo Tribunal do país para demonstrar que tomou medidas para aumentar o fluxo de bens humanitários.
O caso foi apresentado por cinco ONGs que acusam Israel de restringir a entrada de artigos de ajuda humanitária e de não fornecer bens de primeira necessidade aos habitantes de Gaza.
A agência da ONU para os refugiados palestinos, UNRWA, disse terça-feira que, após relatos de fome iminente, mais de 40% das missões de entrega de alimentos foram impedidas em fevereiro e março. Nenhum dos comboios de alimentos da UNRWA foi aprovado desde março, acrescentou.
As organizações humanitárias acusaram Israel de usar a fome como método de guerra em Gaza, onde especialistas da ONU dizem que 1,1 milhões de pessoas – metade da população – vivem numa situação de insegurança alimentar “catastrófica”.
A agência israelense que supervisiona o abastecimento ao território, COGAT, disse que 741 caminhões de ajuda cruzaram para Gaza no domingo e na segunda-feira, com outros 468 entrando na terça-feira. No entanto, a ONU disse que ainda era muito menos do que o mínimo necessário para satisfazer as necessidades humanitárias.
Apesar dos avisos internacionais, Netanyahu diz estar determinado a lançar uma ofensiva terrestre na cidade de Rafah, que descreve como o último reduto do Hamas na Faixa de Gaza. A cidade fronteiriça com o Egito alberga, segundo a ONU, cerca de um milhão e meio de pessoas, a maioria delas deslocadas, e teme-se um grande número de vítimas no caso de uma ofensiva terrestre.
Israel anunciou, no domingo, a saída das suas tropas da cidade vizinha de Khan Younis, destruída após meses de combates.
— Já retrocedemos 100 anos. Como podem ver, hoje não há abrigo, nem roupas, nem abastecimento de água, nem estradas, e as pessoas estão tentando gerir a situação — disse Salim Chourab, um palestino que regressou a Khan Yunis. — Sinceramente, já não sei onde fica a minha casa. Acho que é nesta zona, mas não sei exatamente.
Os soldados deixaram Khan Younis para preparar “a continuação das suas missões na área de Rafah”, explicaram as autoridades israelenses.
— Completaremos a eliminação dos batalhões do Hamas, incluindo os de Rafah. Nenhuma força no mundo nos deterá — declarou Netanyahu na terça-feira.