Biden na ONU em 2021 (foto de arquivo): de lá para cá, presidente americano ganhou mais problemas, com inflação alta em casa e guerra na Ucrânia (Eduardo Munoz-Pool/Getty Images)
Carolina Riveira
Publicado em 21 de setembro de 2022 às 00h01.
O presidente americano, Joe Biden, discursa na manhã desta quarta-feira, 21, na 77ª edição da Assembleia Geral da ONU.
É de praxe que Biden - o anfitrião do evento que ocorre anualmente em Nova York - fale logo após o Brasil, que faz o discurso de abertura dos líderes mundiais.
O presidente Jair Bolsonaro de fato discursou na terça-feira, 20 (veja aqui os destaques), mas Biden não esteve no evento porque estava em viagem voltando do funeral da rainha Elizabeth II, em Londres, na Inglaterra.
O funeral de Estado de Elizabeth, ao qual Bolsonaro também compareceu, ocorreu na segunda-feira, 19, e reuniu dezenas de líderes mundiais. Por isso, com o funeral da rainha em mente, o discurso de Biden foi programado somente para a manhã desta quarta-feira.
No ano passado, Biden fez seu primeiro discurso na Assembleia Geral da ONU após ser eleito meses antes, em 2020. Na época, seu governo recém-empossado vinha pressionado pela saída desastrada dos EUA do Afeganistão. No palanque da ONU, Biden fez um discurso defendendo integração global e tentando mostrar que os EUA estavam "de volta" a um papel de liderança no mundo, tentando marcar sua oposição às falas feitas anos antes no mesmo evento pelo ex-presidente Donald Trump.
"Estou aqui para dizer a vocês o que os EUA pretendem fazer [...], e meu comprometimento de liderar o mundo na direção de um futuro mais pacífico e próspero para todas as pessoas", disse Biden no ano passado.
Desde então, muita coisa mudou. O Afeganistão foi só o começo dos problemas, que hoje incluem a guerra na Ucrânia, iniciada em fevereiro deste ano e que terminou tendo participação indireta dos EUA, que já enviaram bilhões de dólares em apoio a Kiev no embate com a Rússia.
Na fala desta quarta-feira, Biden deve citar o conflito, assim como tecer críticas ao presidente russo, Vladimir Putin, e à China, com quem os EUA trava uma disputa comercial e geopolítica há anos.
É provável também que o mandatário americano mencione temas como a inflação global que tem afetado sua popularidade nos EUA - a inflação americana superou 9% neste ano e segue na casa dos 8%, a maior em 40 anos.
A alta no custo de vida é especialmente sensível para Biden à medida em que os EUA se aproximam das eleições legislativas de meio de mandato em novembro, as chamadas midterms, que renovarão parte do Congresso. Pelas pesquisas, os democratas, do partido de Biden, caminham para perder sua maioria legislativa para os republicanos, de oposição.
Embora Biden deva citar direta ou indiretamente a Rússia e a China, o presidente chinês, Xi Jinping, e o presidente russo, Vladimir Putin, somente enviaram ministros e não foram à ONU. (Dentre as ausências notáveis, o premiê da Índia, Narendra Modi, também não comparecerá.)
A Assembleia Geral da ONU começou oficialmente na semana passada, embora a presença de líderes mundiais a partir desta semana seja a parte mais aguardada - além dos discursos, o evento é chamado de "super bowl dos diplomatas", em referência à final do futebol americano, por sua importância nas negociações de bastidores.
Na terça-feira, foi a vez do presidente Jair Bolsonaro abrir a fase de discursos de líderes mundiais na Assembleia Geral.
Na fala, Bolsonaro citou a Petrobras e o agronegócio e criticou governos "de esquerda" no Brasil - sem citar o nome do ex-presidente Lula, com quem disputa a eleição. Disse que o Brasil tem visto queda na pobreza e melhoria de indicadores econômicos, além de fazer um aceno às mulheres, grupo em disputa no pleito.
É tradição desde 1949 que o presidente brasileiro no cargo abra os discursos de líderes mundiais na Assembleia Geral. Esse foi o quarto discurso de Bolsonaro no evento.
Além de Bolsonaro, mais de 130 chefes de Estado e de governo comparecerão à assembleia da ONU em Nova York. Além dos discursos de líderes mundiais ontem e hoje, uma série de reuniões bilaterais e agendas diplomáticas ocorrem até o fim da semana.