Presidente dos EUA, Joe Biden (Kevin Lamarque/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 3 de fevereiro de 2021 às 08h41.
O governo americano promete encontrar as famílias de centenas de crianças que foram separadas de seus parentes ao chegarem aos Estados Unidos pela fronteira com o México. Ontem, o presidente Joe Biden assinou ordens executivas que mudam a política de imigração imposta por seu antecessor, Donald Trump. Entre as medidas, está a criação de uma força-tarefa para unir pais e filhos separados por agentes de imigração.
A separação de famílias em larga escala se tornou um escândalo no início do governo Trump, com a política de "tolerância zero" à imigração ilegal. A força-tarefa de Biden tem a missão de encontrar a família de cerca de 600 crianças que continuam separadas de seus pais ou parentes. "Cada geração de imigrantes tornou nossa nação mais forte. Nossa diversidade é uma das nossas maiores fortalezas", disse Biden. Pelo menos 5,5 mil famílias foram separadas pelo serviço de imigração - em 2018, a Justiça proibiu o procedimento.
Os pais das crianças muitas vezes não falam inglês e não têm acesso aos canais formais de interlocução com os EUA por terem sido deportados a seus países de origem ou permanecerem em situação irregular no território americano.
A maioria das famílias separadas migra do México ou de países da América Central. A tentativa de encontrar os parentes das crianças era feita por associações que cuidam de imigrantes. Agora, esse trabalho será feito pelo governo. Associações pediam que o governo concedesse uma permissão de permanência nos EUA às famílias, mas o governo Biden afirmou que analisará a concessão de uma autorização ou visto caso a caso.
A força-tarefa será liderada pelo secretário de Segurança Interna, Alejandro Mayorkas. Ele foi confirmado nesta terça, 2, pelo Senado para assumir o posto e será o primeiro imigrante e latino a dirigir o departamento que trata da política imigratória (mais informações nesta página).
"Vamos trabalhar para desfazer a vergonha moral e nacional do governo anterior que, literalmente, não figurativamente, tirou as crianças dos braços de suas famílias", disse Biden, que acusou o governo Trump de ter feito a separação de famílias sem "absolutamente nenhum plano de reunificação".
O governo Obama chegou a deportar mais de 400 mil imigrantes em um ano enquanto Trump deportou cerca de 250 mil no mesmo período. A diferença ocorre porque mais pessoas ficaram presas nos EUA na gestão do republicano. Posteriormente, Biden, que foi vice de Obama, disse que a política adotada no governo de seu aliado havia sido um "erro".
A separação das famílias passou a ser feita de forma sistemática na administração do republicano, que em pouco mais de um ano de governo tinha separado 5,5 mil famílias. A estratégia do governo Trump previa que todos os que cruzavam a fronteira de maneira ilegal seriam processados criminalmente. Antes, imigrantes sem antecedentes criminais normalmente respondiam a um processo de deportação e aguardavam em liberdade.
O discurso anti-imigração foi uma das principais plataformas eleitorais de Trump em 2016, quando ele venceu a eleição. O republicano argumentava que os imigrantes retiraram postos de trabalho de americanos, prometeu construir um muro na fronteira dos EUA com o México e associou mexicanos a estupradores. Como presidente, Trump adotou políticas que dificultaram a imigração aos EUA.
Com as medidas assinadas ontem, Biden busca rever as determinações e regulamentações criadas pelo governo Trump para restringir a imigração. No dia de sua posse, ele tomou medidas relacionadas à imigração com forte componente simbólico: reverteu a proibição estabelecida por Trump de imigração de países de maioria muçulmana e ordenou a paralisação da tentativa de construção de um muro na fronteira com o México. Nesse mesmo dia, enviou ao Congresso uma proposta para criar um caminho para obtenção de cidadania aos 11 milhões de imigrantes em situação ilegal que vivem no país.