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Bernie Sanders, o bombeiro

Sérgio Teixeira Jr., de Nova York Depois do drama, das surpresas e das ausências que marcaram a convenção republicana, na semana passada, a expectativa para a reunião do Partido Democrata, que acontece até quinta-feira na Filadélfia, era de um evento seguindo a praxe, uma celebração da vitória de Hillary Clinton as primárias. Logo de manhã, […]

ELEITORES DE SANDERS: o senador subiu ao palco e foi recebido por uma ovação de quase três minutos / Jim Young/ Reuters

ELEITORES DE SANDERS: o senador subiu ao palco e foi recebido por uma ovação de quase três minutos / Jim Young/ Reuters

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Da Redação

Publicado em 26 de julho de 2016 às 07h12.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h39.

Sérgio Teixeira Jr., de Nova York

Depois do drama, das surpresas e das ausências que marcaram a convenção republicana, na semana passada, a expectativa para a reunião do Partido Democrata, que acontece até quinta-feira na Filadélfia, era de um evento seguindo a praxe, uma celebração da vitória de Hillary Clinton as primárias. Logo de manhã, ficou claro que o roteiro estava ameaçado. Bernie Sanders, o derrotado nas primárias democratas, foi vaiado pelos seus próprios apoiadores em um evento realizado antes do início formal da convenção. O dia foi marcado pela apreensão com o tamanho e o impacto da revolta dos radicais pró-Bernie, como é conhecido o senador de Vermont de 74 anos.

As sementes da discórdia foram lançadas no final de semana, quando o site WikiLeaks divulgou milhares de emails internos indicando que a liderança do Partido Democrata preferia a vitória de Clinton – as regras do partido determinam que a liderança nacional deve manter-se neutra durante o processo de escolha de seu candidato. Manifestantes pró-Bernie protestaram do lado de fora da convenção, e durante boa parte da tarde as lideranças das campanhas de Clinton e Sanders tentaram conter possíveis manifestações durante o horário nobre – entre 22h e 23h, quando os discursos são transmitidos ao vivo na TV aberta americana.

A operação, pelo menos no primeiro dia, foi bem sucedida. Sanders subiu ao palco e foi recebido com uma ovação de quase três minutos. ( À tarde, ele tinha enviado um email pedindo que seus correligionários evitassem “vaiar, virar as costas, abandonar o plenário ou fazer outra demonstrações semelhantes, pois é isso o que Trump quer”. Sanders agradeceu o apoio dos eleitores e passou a enumerar suas propostas de campanha com as quais Hillary Clinton concorda. O senador de Vermont concorreu com uma plataforma à esquerda da esquerda democrata, prometendo educação e saúde gratuitas e um combate feroz aos interesses corporativos. Recitando um a um seus compromissos, ele tentou assegurar seus eleitores de que Clinton é a única alternativa nas eleições de novembro. ‘Tenho orgulho de estar ao lado dela”, disse Sanders. Foi exatamente o que Ted Cruz, segunda força das primárias republicanas, se recusou a fazer em relação a Donald Trump.

O discurso da noite de segunda era muito esperado porque uma parcela dos eleitores de Sanders diz não estar disposta a votar em Clinton na eleição de novembro. A rejeição a Clinton é grande porque ela é identificada como mais uma candidata da elite de Washington, comprometida com grandes interesses econômicos, enquanto o socialista Sanders representaria uma “revolução política”. No seu discurso da semana passada, o republicano Trump mencionou o nome de Sanders duas vezes, tentando capturar votos dessa ala descontente. Durante o discurso, ele postou um tweet se dizendo “triste” por Sanders ter abandonado sua revolução.

O resultado do apoio incondicional expressado por Sanders só poderá ser medido daqui a alguns dias. Convenções partidárias, com seu misto de política e show de mídia, são o pontapé oficial da campanha da eleição geral e capturam uma parte do eleitorado que até então estava alheia à corrida presidencial. Uma pesquisa nacional CNN/ORC divulgada ontem indicou que o evento de Cleveland foi um grande sucesso para Trump: ele tem uma vantagem de três pontos percentuais sobre Hillary Clinton, 48% a 45%, num embate entre os dois. O número representa um crescimento de seis pontos percentuais depois da convenção. Um salto pós-convenção tão significativo não ocorria desde o anos 2000, segundo a rede CNN, quando tanto Al Gore quanto George W. Bush registraram crescimentos idênticos de oito ponto depois de suas respectivas oficializações.

Apesar da verve midiática de Donald Trump, o primeiro dia da convenção democrata pareceu mais redondo e produzido que o que se viu em Cleveland. O telão exibiu vídeos curtos criticando Trump – um deles se concentrou em um comício em que o republicano zombou de um repórter do The New York Times que é portador de deficiência física – e a noite também contou com uma estrela de primeira grandeza, a primeira-dama do país, Michelle Obama.

O discurso de Michelle Obama foi um dos pontos altos da noite e teve sucesso em uma missão em que os organizadores republicanos fracassaram clamorosamente: humanizar o candidato. Trump é visto como um candidato unidimensional, que só parece à vontade para falar de seus sucessos como empresário, o que lhe rende altíssimas taxas de rejeição. Mas Hillary Clinton não fica muito atrás. Ela tem a imagem de uma política profissional, que calcula o que vai dizer com base em pesquisas e que muda o sotaque de acordo com a região do país em que está. Michelle Obama tentou caracterizar a candidata como mulher e mãe.

“Precisamos escolher um presidente que molde nossas crianças pelos próximos quatro ou oito anos de suas vidas”, disse Michelle Obama, mãe de duas filhas adolescentes. “Graças a Hillary Clinton, minhas filhas dão de barato que vão ver uma mulher na Presidência dos Estados Unidos.”

O discurso enfático da primeira-dama teve um peso ainda maior porque nas primárias de 2008 Michelle Obama teria ficado magoada com os ataques da então senadora contra Barack Obama.

Michelle Obama também atacou Donald Trump, embora não tenha mencionado o nome do republicano. “A vida não se resume em 140 caracteres”, disse ela em relação ao meio de comunicação predileto do empresário, o Twitter. Quando o que está em jogo são “os códigos nucleares e comando das Forças Armadas, é preciso ser estável e comedido e bem informado. Quero uma presidente com um histórico de serviço público”, afirmou a primeira-dama. Ela também se referiu ao discurso sombrio e negativo de Trump na semana passada. “Não deixe ninguém dizer que este país não é ótimo, que precisamos torná-lo grande de novo.”

Se os grandes nomes republicanos preferiram ficar longe da convenção republica, no caso dos democratas o problema é encaixar tantas estrelas. Na terça-feira, Hillary Clinton será formalizada como candidata do partido. Estão previstos discursos de seu marido, o ex-presidente Bill Clinton, e familiares de vítimas de violência policial. Na quarta, discursam o presidente Barack Obama e seu vice, Joe Biden, além do candidato a vice da chapa de Hillary, Tim Kaine, senador pelo Estado da Virgínia. Também na quarta-feira fala Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova York. Na quinta, é a vez de Hillary Clinton aceitar a indicação do partido e fazer seu discurso.

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