O ex-primeiro-ministro da Itália Silvio Berlusconi: seu partido desejou "felicidades pelos 20 anos de serviço exclusivo ao país" (Alessia Pierdomenico/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 26 de janeiro de 2014 às 15h15.
Roma - Silvio Berlusconi celebrou neste domingo 20 anos de carreira política aparecendo em fotografias publicadas no "Sunday Times", em que aparece sem maquiagem ou tratamento, como o idoso de 77 anos que é, longe da imagem artificial com a qual se mostra habitualmente, excessivamente maquiado e com os cabelos reimplantados tingidos de preto.
Seu partido, Forza Itália, lembrou hoje publicamente o líder, chamado de "gênio do povo. O protagonista de ontem, de hoje e de amanhã" e desejou "felicidades pelos 20 anos de serviço exclusivo ao país".
O Forza recuperou o discurso de 26 de janeiro de 1994 do ex-primeiro-ministro da Itália, "Pelo meu país", quando anunciou sua entrada na política e que o levou a ser três chefe do executivo.
Fotografado hoje por Paul Stuart, de casaco e camiseta escura, sem gravata para disfarçar a pele que sobra no pescoço, o rosto sem maquiagem, mostrando rugas e sulcos, é a versão mais autêntica que já se viu de Berlusconi.
As imagens do líder da centro-direita foram publicadas pelo britânico "Sunday Times"em sua versão na Itália, "Il Giornale".
Esta reaparição, para alguns analistas, esconde uma nova estratégia de quem sobreviveu a diferentes embates na justiça, na política e na vida.
Apesar do último golpe, que o deixou fora do parlamento italiano, Berlusconi promete continuar na vida pública da Itália, como demonstrou seu último acordo com o secretário do Partido Democrata (PD) Matteo Renzi, sobre a reforma da lei eleitoral, quando todo mundo achava que ele estava acabado.
Após duas décadas de grande inimizade pública e para indignação de muitos companheiros e italianos, no fim de semana passado Renzi convidou Silvio Berlusconi pela primeira vez à sede do PD em Roma e pactuou com ele a reforma da lei eleitoral.
Dois dias depois, a direção do PD aprovou o acordo sem votos contra, embora com a saída de Gianni Cuperlo do partido, que tinha sido o principal rival de Renzi nas primárias.
Nem sequer a cassação, que o fez perder a cadeira no Senado em 27 de novembro, em aplicação da chamada "lei Severino" por sua condenação definitiva a 4 anos de prisão por fraude fiscal e sua inabilitação política puderam com ele.
Os epitáfios que seus inimigos tanto gostam de escrever, portanto , caem um depois do outro.
O último desses epitáfios políticos foi escrito em 2 de outubro, quando terminou voltando contra Berlusconi a iniciativa que tinha tomado dias antes com os radicais de seu partido, abrindo uma crise de governo que queria pressionar o Partido Democrata (PD) do primeiro-ministro, Enrico Letta.
Berlusconi queria evitar que o processo de sua expulsão do Senado continuasse, mas a articulação se voltou contra ele quando seu "afilhado político" e vice-primeiro-ministro, Angelino Alfano, voltou para o governo após a renúncia à qual foram "convidados" ele e outros quatro ministros, e mostrou seu apoio a Letta.
Então, "il Cavaliere" ficou em evidência e teve que dar marcha à ré para evitar uma ruptura com seu partido, mas dias depois soube retomar o governo como presidente da formação, anunciando sua dissolução para refunda-lo na Forza Itália e obrigar assim Alfano e os moderados a ruptura.
Letta inclusive deu por acabada "a era Berlusconi" na política italiana em 6 de outubro, mas o certo é que hoje o magnata continua condicionando a vida pública da Itália, como líder, embora de fora do parlamento, do Forza Itália.
Após o acordo com Renzi até seus inimigos reconhecem que Berlusconi revalidou sua condição de político incombustível e que o homem de arrancadas, impetuoso, brincalhão e que atuava com a soberba e a segurança de saber ser poderoso e dos mais ricos da Itália, parece ter mudado de tática.