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Berlusconi aposta na prudência em relação à Líbia

Aliado de Kadafi, primeiro-ministro italiano estimulou as relações comerciais entre os dois países

Kadafi (esquerda) e Berlusconi: relação de "amizade" entre os líderes (Giorgio Cosulich/Getty Images)

Kadafi (esquerda) e Berlusconi: relação de "amizade" entre os líderes (Giorgio Cosulich/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 22 de fevereiro de 2011 às 17h19.

Roma - "Amizade" entre dois homens, interesses econômicos cruciais e pressões sobre a imigração: a Itália de Silvio Berlusconi tem sido prudente em relação a Muamar Kadhafi, já que o país pode perder muito com uma eventual mudança de regime na Líbia, consideraram especialistas.

"A Itália está preocupada já que os efeitos serão bem mais diretos e imediatos lá do que em outros países", se Kadhafi tiver que deixar o poder, explicou à AFP Ettore Greco, diretor do Instituto de Relações Internacionais em Roma.

Os laços entre a Líbia e a Itália foram reforçados após a assinatura, em agosto de 2008, de um acordo que acertou mais de trinta anos de colonização italiana (1911-1942). Berlusconi havia, então, apresentado as desculpas do país e se comprometido a investir 5 bilhões de dólares em compensações, na forma de investimentos feitos pelos próximos 25 anos.

Depois, a Itália se tornou a principal parceira comercial da Líbia.

E, segundo o jornal Il Sole 24 Ore, o valor das ações pertencentes à Líbia na Itália subiu para 3,6 bilhões de euros, passando pelo banco UniCredit, pela Finmeccanica e ainda pelo clube de futebol de Turim Juventus.

Além disso, "a Líbia é uma aliada da Itália, cooperou com a política de limitação da imigração ilegal", relembrou Andrea Margeletti, diretora do centro de estudos internacionais. Segundo ela, "uma interferência da parte da Itália não será apreciada".

O "tratado de amizade" compreende, de fato, uma cláusula sobre extradição de imigrantes líbios, que levou, segundo as autoridades italianas, a redução em mais de 90% os desembarques clandestinos na Itália.

"O relacionamento é igualmente forte no plano político, o que explica a extrema prudência da atual coalizão" de direita na Itália, resumiu Ettore Greco.

No sábado, quando foram registradas as primeiras vítimas dos conflitos na Líbia, Silvio Berlusconi havia afirmado que ele "não queria incomodar" Muamar Kadhafi.

Na segunda-feira, em Bruxelas, o ministro italiano das Relações Exteriores, Franco Frattini, defendeu o comedimento, explicando que a Europa não deveria "exportar democracia". E, na noite do mesmo dia, o Cavaliere condenou o "uso inaceitável da violência contra a população".

"Antes tarde do que nunca... Seu silêncio parecia uma aposta arriscada, sem dúvida insuficiente para proteger nossos interesses e certamente contrário aos valores de nossa democracia", escreveu o editor do Corriere della Sera, Gian Antonio Stella. Segundo ele, "a discrição de Berlusconi nos distanciou dos Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e Alemanha".

Mais severo ainda, o Il Sole 24 Ore acusou Roma de "ter dado a Kadhafi a visibilidade de um astro do rock". "Perdoamos tudo que ele fez", lamentou o jornal econômico.

Outros comentaristas não deixaram de relembrar a recepção real feita a Kadhafi em Roma, os "salamaleques" de Il Cavaliere que beijou a mão do líder líbio, as trocas de presentes e ainda os escândalos suscitados pelas travessuras deste último. Como alguém convertido ao islamismo poderia ter convidado centenas de jovens mulheres selecionadas por uma agência de acompanhantes?

Mas para Ettore Greco, esses laços devem, pelo contrário, levar a Itália a se envolver mais. Para ele, "a Itália foi muito prudente, quando podia ter desempenhado um papel mais importante".

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