O porta-voz do governo declarou que foi pedido ao representante dos serviços secretos americanos na embaixada dos EUA que abandone a Alemanha (Johannes Eisele/AFP/AFP)
Da Redação
Publicado em 10 de julho de 2014 às 15h54.
Berlim - O governo alemão anunciou nesta quinta-feira a expulsão do chefe dos serviços secretos americanos na Alemanha, em função dos supostos casos de espionagem em benefício de Washington, em uma decisão pouco comum entre aliados da Otan.
"Pedimos ao representante dos serviços secretos americanos na embaixada dos Estados Unidos que abandone a Alemanha", declarou o porta-voz do governo, Steffen Seibert, em um comunicado.
A expulsão ocorre "em reação a uma falta de cooperação (constatada) há algum tempo nos esforços de esclarecer" as atividades dos agentes americanos na Alemanha, explicou o deputado alemão Clemens Binninger, presidente da comissão de controle parlamentar sobre as atividades de inteligência, que se reúne nesta quinta-feira em Berlim.
Esta medida, muito rara entre aliados tão próximos dos Estados Unidos, tem poucos precedentes comparáveis. A França pediu em fevereiro de 1995 a expulsão de vários agentes americanos por espionagem em seu território.
"Acredito que seja justo o fato de o governo alemão enviar um sinal claro de que este tipo de quebra de confiança não será mais tolerado e que é necessário uma renovação" nas relações entre os dois países, declarou a ministra da Defesa alemã, Ursula von der Leyen.
'Cooperação estreita'
A Casa Branca se recusou a comentar a notícia da expulsão, mas ressaltou que é "essencial" manter a "cooperação estreita" com o governo alemão em todos os domínios.
"Vimos as informações e não fazemos comentário algum sobre um suposto assunto de inteligência", disse a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Caitlin Hayden.
"Mas nossa relação de segurança e inteligência com a Alemanha é muito importante e mantém alemães e americanos a salvo", completou Hayden.
As autoridades alemãs anunciaram na quarta-feira que estão investigando um caso de suposta espionagem por parte de um agente, que, segundo a imprensa, seria um militar a serviço dos Estados Unidos, o segundo caso desse tipo revelado em poucos dias.
"Os agentes da Polícia Federal revistaram em Berlim a residência e o escritório de um suspeito de espionagem. Não foi efetuada qualquer detenção", anunciou o Ministério Público em um comunicado.
De acordo com a imprensa alemã, o caso é considerado mais grave do que o de um agente duplo que trabalhou para a CIA e foi descoberto e preso na semana passada.
Um porta-voz do Ministério da Defesa declarou à AFP que estão sendo realizadas investigações sobre as suspeitas de um segundo caso de espionagem, confirmando assim a notícia antecipada pelo jornal Süddeutsche Zeitung.
Estes casos minam as relações entre os Estados Unidos e a Alemanha, já tensas desde as revelações sobre o grampo americano no celular da chanceler alemã Angela Merkel no ano passado.
Pressionada pela opinião pública, que exige uma posição mais firme nos casos de espionagem, Merkel não parou de exigir explicações, sem que Washigngton tenha se mostrado muito preocupado.
'Uma besteira'
Referindo-se a crises internacionais, como na Ucrânia, no Oriente Médio ou no Afeganistão, Merkel ressaltou nesta quinta-feira a importância de uma relação de confiança. "Eu acredito que nestes tempos que podem ser muito confusos, é fundamental poder confiar nos aliados", afirmou a chanceler, em uma coletiva de imprensa antes do anúncio da expulsão. "Mais confiança pode envolver mais segurança", acrescentou.
"É essencial para a Alemanha, no interesse da segurança dos seus cidadãos e dos seus soldados no exterior, trabalhar estreitamente e em plena confiança com seus aliados ocidentais, especialmente os Estados Unidos", ressaltou o porta-voz do governo alemão no comunicado à imprensa anunciando a expulsão.
"Isso exige confiança e franqueza mútua. O governo alemão continua disposto a manter este tipo de relação e espera a mesma atitude de seu parceiro mais próximo", disse.
Já o ministro do Interior alemão, Thomas de Maizière, manifestou desinteresse pelas informações obtidas pelos americanos, de acordo com os primeiros elementos da investigação. Mas ele criticou as práticas dos Estados Unidos.
"Se nos atermos ao que sabemos atualmente, as informações recolhidas por meio de espionagem são insignificantes", disse. "Mas o estrago político resultante é severo e desproporcional", acrescentou, antes de anunciar o fortalecimento da contra-espionagem alemã.
O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, declarou que os americanos cometeram "uma besteira" neste caso. "O fato de os Estados Unidos recrutarem pessoas de segunda classe é muito idiota. Diante de tanta estupidez só podemos chorar", ressaltou o ministro à TV alemã Phoenix. "E é por isso que este assunto não tem divertido a chanceler", disse o ministro, conhecido por sua franqueza.