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Bento XVI, um papa confrontado com modernidade e escândalos

O teólogo será lembrado por sua férrea defesa da ortodoxia católica e pela tentativa de reconciliar a fé e a razão


	Bento XVI foi o sucessor de João Paulo II, depois de um dos pontificados mais longos e carismáticos da história
 (Alberto Pizzoli/AFP)

Bento XVI foi o sucessor de João Paulo II, depois de um dos pontificados mais longos e carismáticos da história (Alberto Pizzoli/AFP)

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Da Redação

Publicado em 11 de fevereiro de 2013 às 11h59.

Cidade do Vaticano - O Papa Bento XVI será recordado por sua férrea defesa da ortodoxia católica e como um tradicionalista que tentou reconciliar o mundo da fé e da razão em uma Igreja confrontada com inúmeros escândalos, principalmente os casos de pedofilia de envolvendo seus padres.

O teólogo alemão Joseph Ratzinger, que adotou o nome de Bento XVI depois de assumir o papado em 2005, havia presidido por quase 25 anos, a partir de 1981, a célebre Congregação para a Doutrina da Fé, antigamente chamada de Santo Ofício da Inquisição.

Sucedeu como Bispo de Roma João Paulo II, depois de um dos pontificados mais longos e carismáticos da história.

Sua missão se viu confrontada com a profunda crise da Igreja contemporânea, provocada pelas revelações e denúncias em inúmeros países contra religiosos que cometeram durante décadas abusos sexuais com menores.

A crise o levou em várias ocasiões a expressar um perdão público às vítimas desses crimes e a reconhecer, durante sua viagem a Portugal (maio de 2010) que a maior perseguição que sofria a Igreja não vinha de seus "inimigos externos" e sim de seus "próprios pecados" e prometeu que os culpados responderiam "ante Deus e a justiça ordinária".

Optou assim pela "tolerância zero" contra os padres pedófilos a fim de frear as suspeitas da opinião pública.

Em 2012, se viu confrontado com os vazamentos de documentos confidenciais, que levou à prisão de seu próprio mordomo, Paolo Gabriele, em um caso sintomático das lutas intestinas na Cúria.


Bento XVI negou qualquer modificação nas posturas tradicionais da Igreja em termos de aborto, eutanásia, divórcio e homossexualidade, mas admitiu o uso do preservativo em casos específicos, para evitar a propagação da Aids.

Nascido em 16 de abril de 1927, em Marktl am Inn, em uma modesta família católica da Baviera, o jovem Ratzinger entrou em 1939 no seminário e foi inscrito nas Juventudes Hitleristas, um afiliação obrigatória por decreto.

Em várias ocasiões, como cardeal e como Sumo Pontífice, denunciou a "desumanidade do regime nazista" e destacou o caráter involuntário de sua afiliação juvenil.

Ratzinger foi ordenado padre em 29 de junho de 1951, nomeado arcebispo de Munique em março de 1977 e proclamado cardeal em 27 de junho de 1977 pelo Papa Paulo VI.

Participou como conselheiro nos trabalhos do Concílio Vaticano II (1962-1965), que modernizaram e renovaram a Igreja, uma experiência que o marcou em todos os sentidos.

Em sua luta pela fé católica, Ratzinger se opôs com vigor à chamada "teologia da libertação", professada por um de seus alunos, o brasileiro Leonardo Boff, e aos dissidentes, como o teólogo suíço Hans Kung, aos quais condenou e afastou da Igreja.

Como Papa, tomou gradualmente uma série de medidas-chave que confirmaram seu selo conservador, como autorizar a missa em latim (em setembro de 2007).


Várias polêmicas explodiram no início de seu papado. A primeira em setembro de 2006, quando vinculou durante uma dissertação na Universidade Ratisbonne a fé muçulmana com a violência, o que gerou uma onda de protestos violentos nos países islâmicos.

Em janeiro de 2009, suspendeu a excomunhão de quatro bispos integristas do movimento ultraconservador de Marcel Lefebvre, entre eles o britânico Richard Williamson, que nega a existência do Holocausto nazista.

Em duas ocasiões, visitou a América Latina. A primeira em maio de 2007, para assistir a assembleia-geral da Conferência Episcopal da América Latina e do Caribe (Celam), celebrada em Aparecida, São Paulo.

Negou nessa ocasião que a religião católica tivesse sido imposta pela força aos povos americanos, o que lhe valeu duras críticas de religiosos e laicos que recordaram as atrocidades cometidas pelos conquistadores da América em nome da fé.

Em março de 2012, visitou o México e Cuba, onde defendeu a liberdade e os direitos da Igreja e recordou a primeira e histórica visita de João Paulo II à ilha comunista em 1998.

Entre 2007 e 2012 publicou três livros sobre a vida de Jesus, a partir de dados fundamentais oferecidos nos Evangelhos e em outros escritos do Novo Testamento.

Neles reflete sobre a figura de Jesus Cristo na qualidade de teólogo, não como sumo pontífice da Igreja Católica, um imponente exercício intelectual, que, além disso, foi um êxito internacional de vendas.

Bento XVI escreveu três encíclicas: "Deus caritas est" (Deus é caridade, 2005) sobre a caridade e o amor divino, "Spe salvi" (Salvos pela esperança, 2007), na qual faz uma autocrítica ao cristianismo moderno e analisa principalmente o pessimismo e o materialismo que sacode os europeus, e "Caritas in veritate" (Na caridade e na verdade, 2009).

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