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Bélgica procura dois suspeitos dos atentados de Bruxelas

A comoção continua forte na capital belga, enquanto a identificação dos 31 mortos, de acordo com um balanço ainda provisório, segue muito difícil


	Atentado: transformado em memorial, a Place de la Bourse foi inundada de expressões de solidariedade, mensagens, bandeiras, velas e flores
 (Carl Court / Getty Images)

Atentado: transformado em memorial, a Place de la Bourse foi inundada de expressões de solidariedade, mensagens, bandeiras, velas e flores (Carl Court / Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 24 de março de 2016 às 09h46.

A Bélgica caçava nesta quinta-feira dois suspeitos dos atentados de Bruxelas, cujos três autores identificados até agora estão relacionados com os ataques de novembro em Paris, uma ligação que revela as falhas de segurança na Bélgica e na luta contra o terrorismo em toda a Europa.

De acordo com a investigação, três homens-bomba identificados nos locais dos atentados - aeroporto internacional de Bruxelas e estação de metrô de Maelbeek - forneceram ao menos um suporte logístico para a organização dos atentados de novembro (130 mortos) ou na fuga do único sobrevivente dos comandos extremistas de Paris, Salah Abdeslam, capturado na sexta-feira no bairro de Molenbeek, em Bruxelas, depois de quatro meses foragido.

O francês de 26 anos, preso desde então em Bruges, "deseja ir para a França o mais rapidamente possível", afirmou nesta quinta-feira seu advogado, Sven Mary, que garantiu que Abdeslam "não estava ciente" dos ataques de terça-feira.

A comoção continua forte na capital belga, enquanto a identificação dos 31 mortos, de acordo com um balanço ainda provisório, segue muito difícil. Apenas quatro vítimas tiveram suas identidades reveladas.

Transformado em um memorial, a Place de la Bourse foi inundada de expressões de solidariedade: mensagens em giz, bandeiras, velas, flores... "Ik Ben Brussel, je suis Bruxxeles" ("Eu sou Bruxelas"), proclama um grande cartaz no chão, ao lado de centenas de velas, flores, palavras de apoio, pequenas réplicas do Manneken-Pis, garrafas de cervejas belgas... bandeiras brasileira, francesa, argelina se juntaram à bandeira belga no pátio da Bolsa.

Em um cruzamento, dezenas de velas foram dispostas em forma de coração. "I still love my airport job", clama um cartaz com vários nomes contornando um coração vermelho, o logo do aeroporto.

A angústia da incerteza

Sem a identificação das vítimas, muitos parentes vivem há três dias a angústia da incerteza.

Restos humanos encontrados no aeroporto de Zaventem foram enviados para o hospital Saint-Luc da Universidade de Louvain, enquanto aqueles da estação de metrô de Maelbeek foram reunidos no hospital militar de Neder-Over-Heembeek, ao norte Bruxelas.

Uma página no Facebook intitulada "Recherche Bruxelles" (Busca Bruxelas) foi aberta para compartilhar informações sobre pessoas desaparecidas.

Os ataques coordenados no aeroporto e no metrô de Bruxelas fizeram 31 mortos e 300 feridos, segundo o último balanço fornecido na quarta-feira pelo ministério da Saúde.

Dos 300 feridos, 150 permaneceram internados, incluindo 61 em cuidados intensivos. Quatro pessoas hospitalizadas, em coma, ainda não foram identificadas, de acordo com a porta-voz do ministério, Maggie De Block, citada pela agência Belga.

O governo federal belga convocou um novo minuto de silêncio em homenagem às vítimas em toda a Bélgica às 14h30 (10h30 de Brasília) no terceiro dia de luto nacional.

O Parlamento federal fará uma homenagem às 14h00 (10h00 de Brasília) em Bruxelas, na presença do rei belga Philippe.

Mas, além das homenagens, angústia e lágrimas, perguntas e críticas têm se multiplicado nos últimos dias, dada a aparente incapacidade das autoridades belgas e europeias de garantir a segurança ante o terrorismo.

Identificados por terrorismo

Os três homens-bomba, os irmãos Ibrahim e Khalid El Barkaoui e Najim Laachraoui, eram conhecidos dos serviços de segurança.

Khalid, de 27 anos, que cometeu o ataque em um vagão do metrô na estação de Maelbeek, foi fichado por "terrorismo" pela Interpol, de acordo com uma lista consultada pela AFP.

Seu irmão Ibrahim, de 29 anos, que se explodiu no aeroporto, havia sido identificado como "terrorista" e expulso por Ancara, segundo informou na quarta-feira o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.

Ele foi preso em junho de 2015, em Gaziantep, perto da fronteira com a Síria.

O ministro da Justiça belga, Koen Geens, discordou da versão turca. "Naquele momento, ele não era conhecido por nós por terrorismo", afirmou à televisão VRT.

Na terça-feira, a polícia belga encontrou um "testamento" escrito por Ibrahim em um computador deixado em uma lata de lixo no bairro de Bruxelas de Schaerbeek, onde os extremistas fabricaram suas bombas e partiram em um táxi para o aeroporto com malas pretas cheias de explosivos.

Ibrahim El Bakraoui escreveu não "saber o que fazer", porque era "procurado em todos os lugares".

Quanto ao terceiro homem-bomba, Najim Laachraoui, cujos restos mortais foram identificados no aeroporto, era procurado desde que o seu DNA foi encontrado em várias casas alugadas pelos responsáveis pelos ataques de Paris, bem como em materiais explosivos utilizados nos mesmos atentados, igualmente reivindicados pelo grupo Estado Islâmico.

O quarto homem - que aparece com Ibrahim El Bakraoui e Laarchaoui em uma imagem das câmeras de segurança empurrando um carrinho de bagagem no aeroporto - está foragido e é procurado pela polícia. Ele não foi identificado pelos investigadores.

Um segundo suspeito é procurado em conexão com o ataque de metrô, segundo indicaram fontes policiais.

Uma fonte da polícia confirmou que nas imagens das câmeras de segurança da estação aparece um homem com uma grande bolsa ao lado do suicida identificado como Khalid El Bakraoui.

Outra fonte indicou que nestas mesmas imagens, El Bakraoui fala com um homem que não entrou com ele no vagão do metrô.

Críticas americanas

Desde terça-feira, vários líderes políticos franceses questionaram os serviços de segurança belgas. O ministro das Finanças francês, Michel Sapin, evocou uma "forma de ingenuidade" belga frente a radicalização islamita e o sectarismo em alguns bairros.

Mas, para além da Bélgica, é toda a Europa que está sendo acusada.

A principal acusação veio na quarta-feira da ex-secretária de Estado e candidata à Casa Branca Hillary Clinton, que criticou duramente os países da UE pela desorganização e atrasos na sua resposta às ameaças extremistas.

"Hoje, muitos países europeus não se comunicam entre si quando prendem um suspeito jihadista em sua fronteira, ou quando um passaporte é roubado", lamentou.

Neste sentido, a presidência holandesa rotativa da UE convocou para esta quinta-feira às 16h00 (12h00 de Brasília), em Bruxelas, uma reunião extraordinária de ministros do Interior e da Justiça dos países do bloco para discutir os ataques e suas consequências.

Representantes de instituições da UE também participarão.

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