Batata frita: 750 milhões de quilos do alimento podem ser jogados fora (elzauer/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 28 de abril de 2020 às 10h52.
O risco de desabastecimento, um dos grandes temores globais com a pandemia de coronavírus, ganhou um capítulo inusitado na Bélgica. A população foi convocada a comer batatas fritas ao menos duas vezes por semana para evitar que 750 milhões de quilos de batatas tenham que ser jogadas fora.
Seria uma história emblemática das dificuldades provocadas pela quarentena em qualquer lugar, mas a Bélgica é tida como o país que inventou a batata frita. O prato nacional é uma combinação de fritas com mexilhões, encontrada facilmente em restaurantes belgas e franceses mundo afora, inclusive no Brasil.
Romain Cools, secretário nacional da indústria belga de batatas, contou ao site americano CNBC, contou o sufoco belga. A demanda por batatas congeladas, que respondem por 75% da indústria de batatas na Bélgica, caiu drasticamente como consequência da pandemia. Os freezers do país já estão superlotados com produtos que deveriam ter sido enviados a toda a Europa.
A Bélgica estabeleceu uma quarentena nacional no dia 18 de março. O país tem 49.000 casos de coronavírus e 7.200 mortos (números semelhantes ao Brasil), mesmo tendo apenas 11 milhões de habitantes numa área pouco maior que a do estado de Sergipe. A abertura dos negócios, após uma estabilização no número de casos, está prevista para o dia 4 de maio.
Apesar de pequeno, o país é o maior exportador de batatas congeladas do planeta, com produção de 2 bilhões de toneladas de batatas (o suficiente para fornecer, por exemplo, 10 quilos de batata para cada brasileiro por ano). A crise deve continuar por meses, prevê Cools, que já demandou dos produtores uma redução na área cultiva para a próxima safra. O preço da tonelada caiu de 135 para 15 euros com a pandemia.
O super estoque de batatas na Bélgica é uma amostra de um problema que pode se acentuar, caso a pandemia continue por um período prolongado, ou enfrente novas ondas. A Fao, órgão das Nações Unidas para Alimentos e Agricultura, alertou no dia 13 de abril para o risco que a pandemia representa para o suprimento de alimentos que depende, como relembrou a instituição, de uma complexa cadeia que envolve "agricultores, plantas de processamento, transporte, varejistas".
O maior risco, alertou a Fao, não está na escassez, mas na dificuldade de movimentar comida entre fronteiras fechadas, reduzindo a oferta de alimentos nos países. A consequência, para os belgas, é comer muito mais batata frita -- para dar conta da demanda, seriam nada menos do que 75 quilos por pessoa.
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