Argentino que assedia russa é expulso dos jogos da Copa do Mundo (Reprodução/Reprodução)
AFP
Publicado em 1 de julho de 2018 às 09h52.
Última atualização em 1 de julho de 2018 às 09h52.
Na Rússia para cobrir a Copa do Mundo, a jornalista mexicana Mariana Zacarías foi vítima de agressões sexistas três vezes em apenas 15 dias.
Na primeira vez, um homem tentou beijá-la à força, enquanto se preparava para uma intervenção diante da câmera. Durante outro "ao vivo", um homem apertou seu glúteo e, mais uma vez, foi agarrada por um desconhecido.
"É incômodo, ofensivo e não deve passar, porque, afinal, estamos trabalhando, e precisa haver respeito, seja mulher, ou homem, merece igual", denuncia ela à AFP.
Coincidindo com um momento em que o movimento #MeToo favoreceu o combate às agressões sexistas, cada vez mais mulheres denunciam gestos que até agora eram guardados em silêncio, ou banalizados como inevitáveis em eventos deste tipo.
Pelo menos duas jornalistas da AFP foram vítimas de assédio sexual por torcedores desde o início do Mundial-2018. Uma foi tocada contra sua vontade e depois erguida para o alto por torcedores eufóricos com um gol.
Na Internet, proliferam vídeos que mostram músicas machistas e obscenas de torcedores, cenas de beijos à força, ou toques inconvenientes e não autorizados.
A AFP gravou um homem tentando tocar a jornalista russa Yulia Chatilova e, depois, dando-lhe um beijo à força na rua Nikolskaia, o lugar favorito de reunião dos torcedores em Moscou.
"Tornou-se uma espécie de diversão, como um jogo", lamenta Yulia Chatilova, que diz se sentir "desconfortável" nessa rua.
Menos de um ano depois do início do movimento #MeToo, que convoca as mulheres a denunciarem as agressões sexuais, Mariana Zacarías espera que o mundo do futebol também reaja diante do sexismo latente.
"O #MeToo é uma revolução e a forma de poder alçar a voz para que o assédio em qualquer setor acabe", afirma Mariana.
"No caso do Mundial, o que me aconteceu também é parte do movimento #MeToo e tomara algum dia essa situação pare, e todos aprendam a nos respeitar", estima.
Aliona Popova, à frente da associação feminista The W Project, avalia que as agressões sexuais vão além do Mundial e do movimento #MeToo.
"Trata-se de fazer campanha por direitos elementares e para que haja limites pessoais para todos", explica à AFP. "É algo bom que se comece um diálogo internacional sobre este tema graças ao Mundial", diz ela.
Muitas jornalistas esportivas estão acostumadas a ouvir de parte de torcedores que não sabem "nada" de futebol.
Na sexta-feira, a televisão alemã ZDF anunciou que apresentou uma denúncia contra dois internautas por ataques sexistas contra Claudia Neumann, a narradora de sua emissora em algumas partidas do Mundial.
Quase 40% dos espectadores das transmissões pela televisão do Mundial-2014 eram mulheres, aponta a FIFA.
"Pelo número de mulheres na direção da FIFA (...) e o número de assentos para mulheres nos estádios, o papel das mulheres é passivo e, com frequência, são tomadas como objetos decorativos", denuncia a organização antidiscriminação Fare.
"Mas existe outra maneira de ver este campeonato: o espaço para as mulheres aumenta", acrescenta a ONG, destacando que, pela primeira vez, joga-se um Mundial em que a secretaria-geral da FIFA é ocupada por uma mulher, Fatma Samoura.
O Mundial também é um espaço de liberdade para as fãs sauditas, ou iranianas, fora de seu país. O Irã não autoriza as mulheres a irem aos estádios, quando são disputadas partidas de futebol entre homens.
Outras mulheres ressaltam o clima agradável entre torcedoras do Mundial e pedem para não generalizar os casos de agressões sexuais.
"Sempre fui torcedora de futebol, toda minha vida. Sabe-se que no Mundial são, sobretudo, homens", afirma Fernanda Flores, de 31 anos.
"Mas, no México, agora você tem muito mais mulheres que ligam para futebol. Um evento desse tipo é para ambos os sexos", defende.