Trump tem uma longa ficha corrida de problemas na Justiça (Carlos Barria/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 10 de agosto de 2022 às 09h37.
A batida do FBI na mansão de Donald Trump em Mar-a-Lago, na Flórida, causou um terremoto político nos Estados Unidos. A busca foi celebrada pelos democratas, que há muito tempo exigem uma investigação do ex-presidente, e criticada pelos republicanos, que acusam o Departamento de Justiça dos EUA de abuso de poder. Na terça-feira, 9, a Casa Branca garantiu que não foi avisada da ação.
Os agentes entraram na mansão de Trump na segunda-feira, aparentemente em busca de documentos confidenciais que teriam sido levados por ele, em vez de serem enviados para os Arquivos Nacionais, como manda a lei. O FBI e o Departamento de Justiça não comentaram os motivos do mandado de busca.
Trump tem uma longa ficha corrida de problemas na Justiça. Além das caixas de documentos que sumiram, ele é alvo da comissão legislativa que investiga os ataques de 6 de janeiro de 2021, quando uma multidão insuflada por ele invadiu o Congresso. Ele pode ser indiciado por obstrução da contagem de votos e conspiração para cometer fraude eleitoral.
O ex-presidente também enfrenta um processo por interferir na eleição presidencial no Estado da Geórgia, onde ele foi derrotado pelo democrata Joe Biden por apenas 11.799 votos. Em uma ligação gravada, ele pressionou as autoridades estaduais a mudarem o resultado. "Eu preciso só de 11.800 votos", disse Trump ao secretário de Estado, Brad Raffensperger.
Alguns especialistas, no entanto, acreditam que as acusações de fraude fiscal e bancária em Nova York são a maior ameaça. O promotor Cyrus Vance passou dois anos analisando as finanças de Trump em busca de crimes, como aumento artificial de seus ativos para obter empréstimos.
Os casos são diferentes, mas a justificativa do ex-presidente é a mesma: trata-se de perseguição política. A notícia da busca do FBI foi divulgada por ele mesmo em suas redes sociais. Por isso, segundo pessoas próximas, em vez de preocupado, ele estaria aproveitando o momento. Michael D’Antonio, biógrafo de Trump, disse à CNN que o republicano deve estar "se deliciando" com o caso.
"Ele é especialista em autopromoção. Pare ele, qualquer publicidade é boa", afirmou. "E o seu grupo de apoiadores radicais, cerca de 35% do eleitorado, será estimulado por isso."
A tentativa de obter dividendos políticos se refletiu na reação de outros republicanos, que terão seu futuro decidido nas urnas, nas eleições legislativas de novembro. Eles criticaram a operação do FBI e acusaram o Departamento de Justiça de abuso de poder.
Preocupada com a repercussão, a Casa Branca disse neata terça-feira que não sabia de nada. "Ninguém no governo foi avisado", garantiu a porta-voz de Biden, Karine Jean-Pierre. "O presidente confia na autonomia do Departamento de Justiça."
O imbróglio está agora nas mãos de Merrick Garland, secretário de Justiça, que tem o poder de indiciar ou não o ex-presidente. Considerado um moderado, Garland vem prometendo, desde que assumiu o cargo, agir de acordo com a lei, sem se importar com a pressão política.
Amigos e ex-assessores descrevem Garland como um promotor extremamente cuidadoso, que jamais autorizaria um mandado de busca na casa de Trump se não tivesse segurança de que a operação lhe renderia provas. Muitos republicanos moderados, no entanto, prenderam a respiração.
No momento em que Trump perde influência no partido, não consegue mais arrecadar tanto dinheiro e vem sendo esnobado pela Fox News, a emissora favorita dos conservadores americanos, o temor é o de que a blitz do FBI possa ter ressuscitado as credenciais políticas do ex-presidente.
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