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“Barulho de bombas estourando no chão é muito forte”, brasileira relata momentos de tensão em Israel

A administradora de empresas Sílvia Scagliarini está na região a passeio desde o dia 4 de setembro e, agora, aguarda a repatriação ao Brasil

Guerra Israel-Hamas: bombardeio israelense à cidade de Gaza em 9 de outubro de 2023 (MAHMUD HAMS/AFP)

Guerra Israel-Hamas: bombardeio israelense à cidade de Gaza em 9 de outubro de 2023 (MAHMUD HAMS/AFP)

Rebecca Crepaldi
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 10 de outubro de 2023 às 19h27.

Às 6h32 do sábado, 7, a administradora de empresas Sílvia Scagliarini, de 59 anos, foi despertada pela sirene ecoando dentro da casa do casal de amigos onde está hospedada, em Israel. Sua primeira reação foi buscar a filha do casal, de 4 anos. “O barulho da sirene é muito forte e assustador. Abri a porta do quarto e corri para pegar a criança. Coloquei ela na cama comigo e fiquei esperando meus amigos entrarem no quarto”, relembrou.

O movimento rápido tinha um motivo: o quarto de hóspedes onde dormia também era o ‘quarto de segurança’, como são chamados os locais construídos para situações de conflitos armados. “Nem todos os apartamentos e casas possuem este quarto de segurança e quando as famílias não o possuem precisam se abrigar debaixo da escada do prédio ou em algum bunker”, explica.

A guerra chega ao quarto dia com 1.830 mortes, de acordo com o último balanço divulgado pelos dois lados do conflito, sendo 1.000 em Israel e 830 palestinos. Deste número, 140 são crianças e 120 mulheres. Há a confirmação também, pelo Itamaraty, de duas mortes de brasileiros na Faixa de Gaza, Ranani Glazer e Bruna Valeanu, ambos de 24 anos. Os jovens frequentavam a rave Universo Paralello, local onde ao menos 260 pessoas foram mortas, e desapareceram no sábado após o início do conflito. Além das vítimas fatais, há 2.700 feridos em Israel e pelo menos 4.000 palestinos.

Leia também: Guerra: Israel anuncia bloqueio total da Faixa de Gaza: 'sem comida e eletricidade'

O que era para ser um passeio, se tornou um pesadelo

Sílvia está no sul de Israel, em Ashdod, localizada a três cidades antes da Faixa de Gaza. Ela foi a passeio sozinha para visitar uma amiga no dia 4 de setembro e pretendia retornar ao Brasil no dia 16 de outubro. Em conversa com a EXAME, ela contou que o encontro com a colega acontece todos os anos em terras israelenses, mas nunca havia vivenciado algo parecido.

“Durante todo o sábado, a sirene tocou aqui na cidade de Ashdod e permanecemos fechadas no quarto. O barulho das bombas estourando no chão é muito forte e neste dia uma bomba caiu em uma casa no centro da cidade. Nós realmente não tínhamos noção do que estava acontecendo e, aos poucos, fomos vendo na internet. Como não temos o domínio da língua hebraica, fica difícil entender as notícias”, relata.

No dia seguinte, a situação aparentemente amenizou. Segundo a administradora, Ashdod “quase não sofreu ataque” e da sua varanda do apartamento parecia que “era um dia de domingo normal, com sol”. A não ser por uma coisa diferente: “Tudo estava em um silêncio terrível, não havia ninguém nas ruas”.

Ela explica que a semana na região começa no domingo e pessoas que trabalham em serviços essenciais, como supermercado, farmácia e hospitais, foram à labuta. Ela e o casal de amigos saíram apenas pela manhã para ir ao mercado abastecer a casa. “Todos estão estocando alimentos, cientes que a guerra será longa e difícil”, afirma.

Medo sobre a volta para o Brasil

O medo se faz presente, somado à preocupação sobre a volta para o Brasil. Segundo a administradora, ela preencheu o formulário disponibilizado pelo governo brasileiro para todos que desejam deixar Israel possam ser repatriados. Contudo, não obteve retorno até o fechamento desta reportagem e passa os dias dentro do apartamento no aguardo de alguma resposta.

“Tentei ligar várias vezes na embaixada e ninguém atende o telefone. Não sei se irei conseguir embarcar no avião da Força Aérea Brasileira (FAB). O medo maior, além das bombas, são os terroristas infiltrados que podem ou não estar na cidade. Cada vez que toca a sirene, vamos direto para o quarto de segurança. Estou muito ansiosa com a espera de um retorno da embaixada, mas confiante que conseguirei retornar ao Brasil”, desabafa.

A FAB já começou o resgate de brasileiros nas áreas de conflito. O primeiro voo com 211 passageiros na aeronave KC-30 decolou  nesta terça-feira, 10, segundo o Ministério das Relações Exteriores (MRE). Ao todo, foram disponibilizadas seis aeronaves para buscar os cidadãos. Os sobrevoos da FAB foram autorizados por Israel e pelo menos 1.000 brasileiros devem ser resgatados até sábado, 14, com a operação se repetindo na próxima semana.

Segundo o MRE, terão prioridade os brasileiros residentes no Brasil, sem passagem aérea. "O Ministério das Relações Exteriores reitera a recomendação de que todos os nacionais que possuam passagens aéreas, ou que tenham condições de adquiri-las, embarquem em voos comerciais do aeroporto Ben-Gurion, que continua a operar", explicou o órgão em nota.

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