Homem chora enquanto resgate prossegue em Bangladesh: a estimativa é que entre 150 e 200 pessoas estejam desaparecidas (AFP)
Da Redação
Publicado em 15 de maio de 2013 às 14h02.
Nova Délhi - Mianmar e Bangladesh anunciaram nesta quarta-feira a retirada de milhares de pessoas devido à ameaça do ciclone Mahasen, que pode atingir extensas áreas costeiras densamente povoadas do Golfo de Bengala.
O governo birmanês indicou ter realojado temporariamente mais de 166.000 pessoas no estado de Rakhin (oeste), em sua maioria muçulmanos rohingyas já deslocados em campos insalubres ano passado após conflitos étnicos.
Cerca de 27.000 pessoas já foram retiradas, segundo números oficiais.
"O Exército irá realocá-los nas escolas", declarou à imprensa Aung Min, ministro para a presidência.
Já o presidente Thein Sein não confirmou a data de sua viagem aos Estados Unidos. Autoridades americanas disseram que ele estaria em Washington na segunda-feira, mas Aung Min explicou que a agenda presidencial será anunciada "em função do que acontecerá com o ciclone."
Já em Bangladesh, as autoridades "ordenaram à população que vive em áreas próximas ao nível do mar que deixe suas casas e siga para abrigos contra ciclones", declarou à AFP Mohammad Abdullah, membro de governo local de Chittagong, a segunda maior cidade do país.
Milhares de habitantes receberam o alerta. Uma decisão tomada após um relatório do Departamento Nacional de Meteorologia indicar que o ciclone poderia chegar à costa na quinta-feira, um dia antes de as estimativas da ONU.
O Mahasen perde intensidade, mas ainda representa ameaça, alertou o Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (OCHA). O ciclone "pode, de acordo com a sua trajetória, ameaçar as vidas de cerca de 8,2 milhões de pessoas no nordeste da Índia, Bangladesh e Mianmar".
Autoridades locais de Bangladesh indicaram que 113 equipes médicas foram mobilizadas.
"Concluímos todos os preparativos necessários para enfrentar o ciclone", assegurou Kamruzzaman Mohammed, funcionário encarregado do acampamento de refugiados de rohingyas no Cox's Bazaar.
"Também estocamos alimentos, colocamos equipes médicas e ambulâncias em alerta e enviamos os doentes e mulheres grávidas dos campos para os hospitais".
Mas os rohingyas, considerados pela ONU como uma das minorias mais perseguidas no mundo, estão mais expostos ao vento e à chuva do outro lado da fronteira, em Mianmar, onde somam cerca de 800 mil sem direito nem estatuto.
Confrontos no ano passado entre budistas da etnia Rakhin e os rohingyas deixaram cerca de 200 mortos. E a região abriga atualmente cerca de 140 mil deslocados amontoados em acampamentos em condições desumanas.
As evacuações enfrentam grande resistência, em um clima de desconfiança a respeito da polícia, observou a AFP. Nenhum movimento foi registrado no campo de deslocados de Mansin, perto da capital rakhin Sittwe, onde cerca de 2.000 pessoas vivem.
E, ao contrário de Bangladesh, nenhum abrigo contra ciclone está disponível.
Kyaw Sein, pai de oito filhos de 62 anos e instalado há 11 meses no campo, se recusa a sair.
"Nós não temos nenhuma esperança. (...) Nós não temos nenhuma confiança no governo", disse à AFP, temendo que o acampamento seja fechado se os deslocados concordarem em se instalar em uma escola.
Mas Aung Min sugeriu que os deslocados não têm escolha e que "devem ser informados sobre a lei", disse ele.
Ambos os países sabem exatamente o que pode causar um ciclone. Em novembro de 2007, Sidr fez 3.300 mortos, 800 desaparecidos e 8,7 milhões de vítimas em Bangladesh. Nargis, que atingiu em 2008 o delta birmanês do Irrawaddy fez 138 mil mortos e desaparecidos.
*Matéria atualizada às 14h02