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Luciana Botafogo, presidente do Fonplata, durante entrevista em Brasília (Andre Borges/EFE)
Agência de Notícias
Publicado em 27 de novembro de 2025 às 11h38.
O banco de desenvolvimento Fonplata valoriza o resultado da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), mas considera que é preciso agilizar a forma como o dinheiro para o combate às mudanças climáticas chega diretamente às cidades, disse em entrevista à Agência EFE a presidente executiva do órgão, a brasileira Luciana Botafogo.
O Fonplata, instituição de fomento ao desenvolvimento integrada por Brasil, Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai, participou da COP30, realizada em Belém, que, segundo Botafogo, deixou “dois sinais distintos”.
No capítulo dos avanços, ela citou o reconhecimento da “necessidade de triplicar o financiamento para adaptação, infraestruturas e resiliência climática”, o que constitui “um marco importante”.
A presidente executiva também valorizou a busca por um “marco global de indicadores sobre adaptação” e o reconhecimento de que a transição deve ser “justa” em função das necessidades e realidades de cada um dos países.
Entre as questões pendentes, Botafogo destacou a falta de consenso para “um roteiro claro” para o abandono dos combustíveis fósseis e a “incerteza” que persiste quanto ao acesso aos recursos, especialmente para os municípios.
“O déficit de financiamento já está definido, mas ainda há um problema fundamental, que é o fato de que os recursos, mesmo os disponíveis, não chegam às cidades”, declarou a presidente executiva do Fonplata, um banco que trabalha justamente nesse universo local, em zonas de fronteira e em municípios de médio e pequeno porte.
Segundo ela, “a posição do Fonplata é muito clara: deve-se apoiar os governos infranacionais e os municípios”, pois são esses os âmbitos em que se identificam os problemas reais de cada sociedade e também as soluções.
“Os problemas estão nos territórios, nas cidades, e os fundos estão em níveis nacionais ou globais”, destacou.
Botafogo afirmou que o financiamento concedido pelo Fonplata e outros bancos regionais ou multilaterais precisa de “garantias soberanas” concedidas pelos Estados nacionais, o que burocratiza os processos e atrasa o início de obras que muitas vezes são urgentes.
Ela disse que o Fonplata “pode ser uma ponte entre os grandes atores e os grandes bancos com os municípios”, pois tem como “diferencial” sistemas mais ágeis e sua atenção voltada para as realidades locais.
“Somos o banco da última milha. A obra não está na nação nem em um parágrafo da negociação da COP”, mas nos governos locais, que são os que “sabem qual povo precisa de drenagem, mais água ou qual morro vai desabar”, comentou.
Botafogo destacou a participação do Fonplata em projetos associados a um ambicioso plano de integração física promovido pelo Brasil na América do Sul, por meio do qual se busca conectar rodovias, hidrovias e outras infraestruturas “às cidades e vilas” próximas a essas grandes obras.
Segundo Botafogo, o Fonplata, cuja carteira de créditos é direcionada exclusivamente aos setores públicos, duplicou seu capital para US$ 6,5 bilhões e tem um volume de aprovações e desembolsos entre US$ 600 e US$ 700 milhões por ano.
A intenção é aumentar esses créditos para um nível de cerca de US$ 1 bilhão por ano, mas para isso a instituição precisa de outros organismos dispostos a “cofinanciar”, e considera como opção a abertura a novos parceiros.
Ela disse que já existem conversas com vários países, entre os quais citou Espanha e Portugal, muito “próximos ao Mercosul”, mas também nações do norte da Europa, asiáticas e do mundo árabe, sem deixar de reforçar o caráter de banco regional, o que levou a negociações semelhantes com Colômbia, Panamá, El Salvador e República Dominicana, entre outros países da América Latina interessados em se juntar à instituição.