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Bachelet volta à presidência com promessas de mais justiça

Vitória marcou o fim do ciclo da direita chilena após quatro anos de governo de Sebastián Piñera


	Michelle Bachelet comemora vitória nas eleições presidenciais no Chile
 (Guido Manuilo/LatinContent/Getty Images)

Michelle Bachelet comemora vitória nas eleições presidenciais no Chile (Guido Manuilo/LatinContent/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 20 de dezembro de 2013 às 21h47.

Santiago - A vitória de Michelle Bachelet nas eleições presidenciais, em dezembro, marcou o fim do ciclo da direita chilena após quatro anos de governo de Sebastián Piñera, que, apesar dos avanços econômicos e sociais, não conseguiu com suas ideias conservadoras conquistar um país com uma profunda desigualdade.

Fragmentada por disputas internas, a direita chilena protagonizou neste ano eleitoral uma verdadeira Via-Sacra que a levou a cogitar quatro candidatos para enfrentar Bachelet, que em março decidiu renunciar à direção da ONU Mulheres para buscar uma nova eleição.

A socialista Bachelet, que ocupou a presidência entre 2006 e 2010, ganhou no segundo turno com uma sólida maioria de Evelyn Matthei com promessas de um novo ciclo político e social para o Chile, baseado em uma nova Constituição, uma reforma educacional e outra tributária.

O governo de Piñera, que em 2010 se tornou no primeiro presidente de direita eleito democraticamente em meio século no Chile, foi incapaz de capitalizar a favor do setor conservador o bom balanço econômico.

Durante os três primeiros anos de seu mandato, a economia se expandiu a uma média de 5,8% e este ano, apesar da desaceleração que começa a afetar os países emergentes, fechará com um crescimento de 4,2%.

Além disso, o investimento aumentou 20%, foram criados 860 mil empregos e a renda per capita passou de US$ 14.992 para US$ 19.104.

Ao longo do ano, o presidente viu o apoio à sua gestão aumentou até alcançar 43% em novembro, sua melhor marca desde dezembro de 2010, pouco depois do resgate dos 33 mineiros de Atacama.


Na política, em 2013 o Chile avançou com a aprovação da lei que permitirá o voto dos chilenos residentes no exterior; a eliminação do sistema binominal, que historicamente deu uma subrepresentação à direita, e a realização obrigatória de eleições primárias nos dois grandes blocos políticos.

Mas apesar dessas conquistas, 2013 foi um ano de mobilizações estudantis e protestos sociais, especialmente dos empregados públicos em busca de melhores salários.

A voz de uma emergente classe média seguiu se levantando para reivindicar direitos que antes não eram considerados indispensáveis porque estavam ofuscados por assuntos mais urgentes, como a superação da pobreza.

Em setembro o golpe de estado de Augusto Pinochet que derrubou o governo do presidente Salvador Allende completou 40 anos.

Organizações defensoras dos direitos humanos e grupos de vítimas da ditadura (1973-1990) voltaram a exigir um compromisso firme no esclarecimento dos fatos que aconteceram durante aqueles anos e a punição dos responsáveis.

Piñera se lamentou que nem a Justiça nem a imprensa fizeram tudo o que deviam para frear as violações nos direitos humanos durante a ditadura e reprovou alguns dirigentes da direita que continuam a justificar o golpe.

O presidente decidiu transferir um grupo de oficiais condenados por graves violações aos direitos humanos durante a ditadura da luxuosa prisão da Cordilheira à prisão de Punta Peuco.


O fechamento, onde os ex-repressores tinham privilégios, foi decidido apesar do suicido um dia antes do ex-chefe da Central Nacional de Inteligência Odlanier 'Mena', um dos réus afetados pela mudança.

Este ano se fechou também outro capítulo relacionado ao golpe militar. Por causa de uma denúncia apresentada pelo Partido Comunista, a justiça chilena determinou que o poeta Pablo Neruda morreu de câncer e não por envenenamento.

Na política externa, o Chile continuou a avançar na integração física com a Argentina, mediante a realização de obras da interconexão, e aguardou 'com tranquilidade e sem triunfalismo' a decisão judicial da Corte Internacional de Justiça de Haia sobre a reivindicação peruana para que se trace um novo limite marítimo entre os países.

A resolução do máximo tribunal das Nações Unidas, que será conhecida em 27 de janeiro, dará fim a uma longa espera desde que em janeiro de 2008, Lima decidiu transferir esta controvérsia ao plano judicial.

Apesar disso, as relações políticas e econômicas com o Peru continuaram a ser fortalecer pelas mãos da Aliança do Pacífico, um bloco de integração subregional que reúne as economias latino-americanas de maior crescimento e que representa um mercado de 210 milhões de pessoas, maior que a população brasileira.

Muito diferente é a relação com a Bolívia, que em abril interpôs uma ação contra o Chile na Corte de Haia para reivindicar a saída soberana ao Pacífico perdida na guerra no final do século XIX.

Apesar destas reivindicações de dois de seus vizinhos, o Chile ganhou o respaldo em bloco da América Latina e em outubro se tornou membro não-permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

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