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Avó encontrou neto desaparecido na ditadura argentina

A recuperação do neto "Guido" coroa o intenso trabalho que Estela de Carlotto realizou desde novembro de 1977

Estela Carlotto: ela se incorporou em 1978 ao recém fundado grupo de Avós da Praça de Maio (AFP)

Estela Carlotto: ela se incorporou em 1978 ao recém fundado grupo de Avós da Praça de Maio (AFP)

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Da Redação

Publicado em 5 de agosto de 2014 às 19h11.

Buenos Aires - Após 36 anos de incansável busca, Estela de Carlotto, presidente da associação Avós da Praça de Maio, encontrou nesta terça-feira seu neto "Guido", nascido em cativeiro em 1978, durante a ditadura militar argentina.

A recuperação de seu neto coroa o intenso trabalho que Estela realizou desde novembro de 1977, quando sua filha Laura, de 23 anos e grávida de dois meses, foi detida e levada a um campo de concentração na cidade de La Plata.

Ela e seu companheiro foram assassinados pelo regime.

"Guido" nasceu em 26 de junho de 1978 no Hospital Militar Central de Buenos Aires, e cinco dias depois foi separado de sua mãe, reenviada ao centro clandestino de detenção, onde permaneceu mais dois meses em cativeiro.

Na madrugada de 25 de agosto do 1978, Laura foi assassinada, e seu corpo foi entregue à família.

A autópsia realizada anos mais tarde revelou que ela tinha balas alojadas no crânio, por isso se supõe que foi executada com uma arma disparada a 30 centímetros pelas costas.

Formada em Magistério, profissão que exerceu durante 17 anos, Estela de Carlotto se incorporou em 1978 ao recém fundado grupo de Avós da Praça de Maio, e dois anos depois foi nomeada vice-presidente.

Em 1987, sobre a base de um projeto da organização, foi aprovada uma lei que criou um Banco Nacional de Dados Genéticos. Nele ficou registrado o mapa genético de cada uma das avós de Praça de Maio.

O neto perdido de Estela, que tem outros 13, tinha dúvidas sobre sua identidade e se apresentou voluntariamente para fazer um exame de DNA, que confirmou que ele é filho de Laura.

Em dezembro de 1998, o parlamento argentino aprovou a lei de Criação do Fundo de Reparação Histórica para a localização e restituição de crianças roubadas, que outorgava a Avós de Praça de Maio um subsídio que equivalia na época a US$ 25 mil mensais durante dois anos.

Em 2004, o fundo foi restabelecido com um subsídio mensal de 15 mil pesos (US$ 3,9 mil).

Estela recebeu em nome da associação que preside, em 1999, o Prêmio de Direitos Humanos da República Francesa. Entre várias outras honrarias recebidas, se destaca o Prêmio dos Direitos Humanos da ONU, concedido em dezembro de 2003.

Em outubro de 2005, ela foi nomeada doutora honoris causa pela Universidade Autônoma de Barcelona (UAB), e em 2006 as Avós foram candidatas ao prêmio Príncipe de Astúrias da Concórdia.

A ativista participou de vários filmes sobre a repressão da ditadura, e promoveu o Teatro pela Identidade, que com suas apresentações visa conscientizar sobre a busca de crianças que foram roubadas de seus pais durante o regime repressor.

Em maio de 2003, ela pôde comemorar a derrubada no parlamento das leis de Ponto Final e Obediência Devida, que livravam de responsabilidade mais de mil agentes do regime militar e que em 2005 também foram declaradas nulas pela Corte Suprema de Justiça.

Outra conquista veio em 2004, quando o governo argentino decidiu transformar o edifício onde funcionava a Escola Superior de Mecânica da Marinha de Buenos Aires, o mais conhecido dos centros clandestinos de detenção que funcionou durante a ditadura militar, em um Museu da Memória.

No dia 4 de junho, Estela prestou depoimento à Justiça pelo desaparecimento de sua filha Laura em um julgamento por crimes contra a humanidade.

"Eu tenho 13 netos, mas me falta Guido", ressaltou na época a ativista, que também pediu aos repressores para que tivessem "a coragem de dizer" onde estão os filhos dos desaparecidos.

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