Segundo Obama, Kadafi perdeu a legitimidade para governar, e deve sair (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 4 de março de 2011 às 10h22.
Ajdabiya, Líbia - As tropas líbias voltaram a bombardear posições rebeldes nesta sexta-feira pelo terceiro dia consecutivo, no leste do país, enquanto os líderes da oposição planejavam protestos na capital Trípoli contra o ditador Muammar Kadafi.
A força aérea líbia lançou "uma bomba sobre o exterior da base militar próxima a Ajdabiya", declarou Mohamad Abdalah, insurgente que lutava na última barreira da cidade, na estrada para Brega (70 km a oeste), onde violentos combates ocorreram na quarta-feira.
Outros opositores confirmaram o bombardeio, que não teria causado vítimas ou danos materiais.
Brega, um porto petroleiro, e Ajdabiya são dois pontos estratégicos na estrada que liga Trípoli a Benghazi (1.000 km leste da capital), transformada em bastião da insurreição iniciada em 15 de fevereiro.
As tropas do coronel Muammar Kadafi, por sua vez, mantêm o controle do oeste, perto da fronteira com a Tunísia, onde milhares de pessoas que fugiram da repressão líbia tentam atravessar a fronteira, indicou em Genebra o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur).
O presidente americano, Barack Obama, indicou nesta quinta-feira que estudava "toda gama de opções" disponíveis para acabar com "a horrível violência".
"A violência deve parar. Muammar Kadafi perdeu a legitimidade para liderar, e deve sair", disse Obama.
A oposição, que na semana passada realizou apenas pequenas manifestações em vários bairros de Trípoli, fará uma nova tentativa após as orações muçulmanas de sexta-feia.
A organização dos protestos pode ser atrapalhada pelo corte da internet na capital, que vigora desde quinta-feira.
Em Brega, os atemorizados habitantes montaram baterias antiaéreas para se defender.
Os bombardeios de quinta-feira também não deixaram vítimas. Os de quarta-feira foram em apoio a um ataque terrestre, que foi repelido após violentos combates, que terminaram com a morte de nove rebeldes e três agressores.
Mas, para Saif al-Islam, um dos filhos de Kadafi, os ataques aéreos de Brega tinham apenas a intenção de "assustar", sem provocar mortes.
"As bombas eram apenas para assustar, para que eles fossem embora", disse.
"Ali não há cidade, a cidade de Brega fica a quilômetros de distância. Estou falando do porto, onde há apenas uma refinaria de petróleo", completou, em entrevista à rede britânica Sky News.
O filho de Kadafi rechaçou também a possibilidade de uma mediação internacional proposta pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez.
"Nós os respeitamos, (os venezuelanos) são nossos amigos, mas eles estão muito longe e não sabem como é a Líbia. Somos capazes de resolver nossos problemas sozinhos", estimou. "Seria como (se um líbio) fosse negociar um acordo no Amazonas".
A rebelião líbia também rejeitou a proposta venezuelana.
"Temos uma posição muito clara: é tarde demais, já se derramou muito sangue", disse à AFP Mustafah Gheriani, porta-voz do Conselho Nacional de cidades, controlado pela oposição, cuja sede fica em Benghazi (1.000 km a leste de Trípoli)
A comunidade internacional, por sua vez, deu início a uma operação de repatriação por ar e mar de milhares de refugiados egípcios que fugiram da repressão na Líbia através da fronteira com a Tunísia.
Mais de 100.000 pessoas já deixaram o território líbio desde o começo da rebelião. Segundo dados da ONU, a virulenta repressão aos protestos deixou cerca de 1.000 mortos; para uma ONG líbia de defesa dos direitos humanos, este número já passa de 6.000.
O governo holandês admitiu, por sua vez, que três soldados holandeses foram capturados no último domingo por homens armados durante uma operação de evacuação de civis na Líbia.
Na quinta-feira, O Tribunal Penal Internacional (TPI) anunciou a abertura de uma investigação por crimes contra a humanidade envolvendo Kadafi e várias pessoas de seu entorno, pela repressão ordenada contra as manifestações que exigem sua renúncia.
O "Guia da Revolução" pronunciou na quarta-feira um discurso alertando que "milhares de líbios morrerão caso os Estados Unidos ou a Otan intervenham" no país, e que a Líbia será para os ocidentais "um inferno e um mar de sangue pior que o Iraque ou o Afeganistão".
A situação na Líbia e a agitação política na região - onde movimentos populares já derrubaram dois regimes autoritários em apenas dois meses (na Tunísia e no Egito) - elevou nos últimos dias os preços do barril de petróleo, que chegou a mais de 100 dólares pela primeira vez desde 2008.