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Aves marítimas apresentam contaminação por pesticidas

Pesquisa do Instituto Oceanográfico da USP constatou a presença de material contaminante no tecido adiposo de 103 aves do litoral Sul e Sudeste do Brasil

Albatroz em alto mar. Essas aves apresentam problemas de conservação (Getty Imagems/Cameron Spencer)

Albatroz em alto mar. Essas aves apresentam problemas de conservação (Getty Imagems/Cameron Spencer)

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Da Redação

Publicado em 8 de junho de 2012 às 10h39.

São Paulo - Aves oceânicas e migratórias como os albatrozes e petreis (Procellariiformes) apresentaram altos níveis de contaminação por bifenilos policlorados (PCBs) e pesticidas organoclorados, conforme constatou a bióloga Fernanda Imperatrice Colabuono em uma pesquisa realizada no Instituto Oceanográfico (IO) da USP. Em todas as 103 aves coletadas no litoral do Sul e Sudeste do Brasil foi detectada a presença desses contaminantes no tecido adiposo, no fígado e no músculo dos animais.

“Não se sabe ao certo qual os efeitos causados por estes compostos nas populações de albatrozes e petréis. Novos estudos são importantes a fim de averiguar se essa contaminação interfere ou não no organismo destas aves, e se leva a falhas na reprodução, ao aumento da mortalidade, etc”, sugere a pesquisadora. De acordo com a bióloga, a literatura científica mostra que os bifenilos policlorados (PCBs) e os pesticidas organoclorados são substâncias altamente tóxicas que interferem na produção de hormônios, além de serem cancerígenas.

Os bifenilos policlorados (PCBs) deixaram de ser produzidos há algum tempo, mas ainda persistem no meio ambiente, pois não se degradam facilmente e se acumulam nos tecidos. A substância, semelhante a um óleo e resistente a altas temperaturas, era utilizada por indústrias para o resfriamento de máquinas, em transformadores, etc. Seja pelo transporte indevido ou pelo descarte em local inadequado, a substância chegou aos oceanos.

Já os pesticidas organoclorados também tiveram seu uso proibido ou restrito. Mas durante muito tempo eles foram utilizados em lavouras brasileiras. Alguns deles, como o DDT, ainda podem ser usados em casos emergenciais de saúde pública. As chuvas acabam levando essas substâncias até os rios, e de lá, elas chegam aos mares. “Esses poluentes atingem as aves por meio da alimentação, composta, principalmente, por lulas e peixes” explica Fernanda.

Atum e lulas

A ordem dos Procellariiformes inclui duas famílias: a dos albatrozes e a dos petreis. São aves com hábitos semelhantes, mas que diferem por algumas características físicas. Como são oceânicas, dificilmente são avistadas nas praias, pois vivem nos mares. A maioria se reproduz na região Antártica e sub-antártica. “No inverno, muitas espécies migram para a costa brasileira, permanecendo, principalmente, nas regiões Sul e Sudeste. É quando as correntes marítimas do Brasil e das Malvinas se juntam e ocorre uma maior produtividade nas águas. Os albatrozes e petreis migram para o Brasil e para a costa argentina para aproveitar a abundância de lulas e de peixes na região e também pela proximidade com o continente antártico”, descreve.


A pesquisadora analisou 103 exemplares de albatrozes e petreis. “No inverno, muitas delas aparecem mortas no Sul do Brasil. Coletamos algumas para a realização da pesquisa”, conta. Outra fonte do estudo foram as aves capturadas durante a pesca de atum, na chamada pesca com espinhel. “O barco lança no mar um cabo, que pode chegar a dezenas de quilômetros, com centenas de linhas com anzóis. As lulas são usadas como iscas. Muitos albatrozes e petreis ficam presos ao tentar capturar esses moluscos e acabam se afogando”, explica.

O Projeto Albatroz realiza o acompanhamento da atividade pesqueira com o objetivo de reduzir o número de albatrozes capturados de forma não intencional. Alguns exemplares capturados mortos foram doados para a pesquisa de Fernanda. O Projeto é patrocinado pela Petrobras, por meio do Programa Petrobras Ambiental, e tem apoio da Royal Society for Protection of Birds (RSPB), do Programa Albatross Task Force (ATF), do Save Brasil, do Birdlife Internacional e do Ministério da Pesca e Aquicultura.

Fernanda realizou análises laboratoriais do tecido adiposo (local onde os contaminantes mais se acumulam), do fígado e dos músculos e quantificou as substâncias. “Constatamos altos níveis de contaminação em 100% das aves”, aponta a bióloga.

Plásticos contaminados

A pesquisadora também analisou a presença desses contaminantes nos plásticos encontrados nos estômago dos albatrozes e petreis. “São pequenos fragmentos de objetos que utilizamos no dia a dia e que acabam indo parar nos oceanos e são ingeridos pelas aves”, explica. “Também encontramos pellets, que são esferas milimétricas de polímero puro. É a matéria-prima usada na fabricação de plásticos”, diz. Os contaminantes foram encontrados em todos os objetos analisados.

De acordo com Fernanda, fragmentos plásticos semelhantes encontrados em praias no Brasil também apresentaram esses contaminantes. “Então esses plásticos podem ser uma fonte adicional de contaminação para as aves”, alerta a bióloga.

Os albatrozes e petreis pertencem a um grupo de aves marinhas migratórias originárias de ilhas em diversos países do mundo, sendo que várias delas apresentam problemas graves de conservação. Muitas utilizam as águas brasileiras para a alimentação. Por isso, o Brasil é um dos países responsáveis pela conservação dessas aves.

A tese de doutorado Poluentes orgânicos persistentes e ingestão de plásticos em albatrozes e petréis (Procellariiformes) teve orientação da professora Carmela Rosalinda Montone e foi apresentada em agosto de 2011. A pesquisa teve apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

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