Putin: "Por ora exigimos informações transparentes do lado russo", afirmou o chanceler conservador (Mikhail Svetlov/Getty Images)
Reuters
Publicado em 9 de novembro de 2018 às 16h47.
Viena - Um militar austríaco de alta patente é suspeito de ter espionado para Moscou durante décadas, anunciou o governo da Áustria nesta sexta-feira, uma revelação que ampliou uma lista de casos recentes de espionagem russa e azedou as relações de Moscou com um país considerado como o aliado mais próximo da Rússia na União Europeia.
A Áustria foi um dos poucos países da UE que não expulsou nenhum diplomata russo em represália pelo envenenamento do ex-espião Sergei Skripal e sua filha Yulia no Reino Unido, um ataque que Londres atribuiu a Moscou. A Rússia nega qualquer envolvimento.
O chanceler conservador Sebastian Kurz, que governa em uma coalizão com o Partido da Liberdade de extrema-direita e pró-Moscou, disse que a decisão se alinha à neutralidade de sua nação e à sua tradição de manter boas relações com países dos dois lados da antiga Cortina de Ferro.
Viena é um centro diplomático importante que abriga muitas autoridades estrangeiras.
Mas Kurz endureceu o discurso nesta sexta-feira, anunciando que se acredita que um coronel recém-aposentado espionou para os russos dos anos 1990 até este ano.
"Se a suspeita for confirmada, tais casos... não melhoram as relações entre a Rússia e a União Europeia", disse ele a repórteres, sem mencionar o suspeito. O caso foi encaminhado a procuradores, e o ex-coronel foi interrogado.
A ministra das Relações Exteriores austríaca, Karin Kneissl, que dançou com o presidente russo, Vladimir Putin, quando se casou em agosto, cancelou uma viagem planejada a Moscou em reação ao caso. Ela também convocou o encarregado de negócios russo, já que o embaixador está fora do país.
"Por ora estamos exigindo informações transparentes do lado russo", disse Kurz.
O Ministério das Relações Exteriores da Rússia comunicou seu protesto ao embaixador da Áustria, Johannes Eigner, por causa das acusações de Viena de que um militar austríaco supostamente espionou para Moscou durante duas décadas.
"Os passos dados por Viena, que se firmam em suspeitas que não são acompanhadas de prova alguma, já causaram a deterioração de relações que nos últimos tempos se caracterizavam por uma dinâmica positiva", afirma o comunicado da Chancelaria russa.
A Rússia expressa sua "incompreensão" pelo fato de que o Governo austríaco tenha desistido de tratar as suspeitas de espionagem diretamente com Moscou "através dos canais de diálogo existentes".
Por outro lado, acrescenta o comunicado, Viena optou "infelizmente por um método habitual em muitos países ocidentais, que consiste em desinformar a imprensa e, seguidamente, exigir explicações de Moscou".
"Tal postura a consideramos inadmissível", indica o documento.
O embaixador austríaco foi convocado hoje depois que o chanceler austríaco, Sebastian Kurz, anunciou a suspeita de que um coronel da reserva do Exército austríaco "trabalhou com um serviço de inteligência russa".
"Isso significa que estamos diante de um caso de espionagem", disse Kurz, após o que Viena convocou o encarregado de negócios russos para pedir-lhe explicações sobre o caso.
Kurz antecipou que a ministra de Exteriores, Karin Kneissl, cancelou uma viagem oficial à Rússia prevista para os dias 2 e 3 de dezembro.
"Acabo de me informar disso. É uma surpresa muito desagradável", disse o ministro de Exteriores russo, Sergei Lavrov, em entrevista coletiva depois de se reunir com seu colega das Ilhas Comores, Mohammed al Amin Seif, em Moscou.
Lavrov lamentou que a Áustria e outros países europeus, "optem ultimamente por nos acusar a Rússia publicamente através da diplomacia do 'megafone' e exigir explicações sobre assuntos que não são do conhecimento do país".
A Áustria é junto com Hungria, Itália e, em menor medida, Grécia, um dos países com os quais o Kremlin mantém uma cooperação mais estreita e, de fato, Kurz viajou há um mês a Moscou para "reduzir tensões" entre o Kremlin e o Ocidente.