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Austrália oferece ajuda a Assange, apesar de críticas ao governo

Fundador do WikiLeaks acusou os líderes australianos de auxiliarem os EUA a "matar o mensageiro"

Kevin Rudd, chanceler australiano, que ofereceu ajuda a Assange, foi vítima do WikiLeaks (Arquivo/Getty Images)

Kevin Rudd, chanceler australiano, que ofereceu ajuda a Assange, foi vítima do WikiLeaks (Arquivo/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 8 de dezembro de 2010 às 09h09.

Sydney - O Governo australiano ofereceu nesta quarta-feira proteção consular ao fundador do WikiLeaks, Julian Assange, que está preso em Londres e que acusou o Executivo de seu país de conivência com os Estados Unidos para "matar o mensageiro".

A Embaixada da Austrália no Reino Unido contatou Assange para checar se ele tem representação legal e pode receber visitas como qualquer outra pessoa na mesma situação, anunciou o ministro de Relações Exteriores, Kevin Rudd.

Rudd ressaltou que qualquer cidadão tem direito à presunção de inocência, horas depois que o homem mais procurado do mundo até esta terça-feira assinou um editorial no qual denunciou que seu país está colaborando com os EUA para "matar o mensageiro" e ocultar a verdade.

Assange assinalou no artigo que, ao longo dos quatro anos de vida do WikiLeaks, "mudaram Governos, mas nem uma só pessoa, que se saiba por enquanto, foi prejudicada", enquanto os EUA "mataram milhares de pessoas só nos últimos meses".

"As sociedades democráticas precisam de meios de comunicação fortes e o WikiLeaks é parte disso. A mídia ajuda os Governos para que sejam honestos, e revelamos verdades sobre as guerras no Afeganistão e Iraque e a corrupção empresarial", declarou ao jornal "The Australian", que pertence ao grupo News Corporation, do magnata Rupert Murdoch.

Assange lembrou que o pai de Murdoch foi o primeiro que contou ao mundo o horror da Batalha de Gallipoli durante a Primeira Guerra Mundial. "Quase um século depois, o WikiLeaks está divulgando sem medo informação que deve ser conhecida pelo público", declarou o australiano de 39 anos.

Um dos líderes mundiais para os quais as revelações do site foram mais comprometedoras é o próprio Rudd, tachado por diplomatas americanos de "obsessivo" e "incompetente" quando foi primeiro-ministro, entre 2007 e 2010.


"Francamente, não me importa", comentou o agora ministro das Relações Exteriores após ser perguntado reiteradamente a respeito do WikiLeaks durante uma entrevista coletiva em Brisbane.

Rudd não deixou claro se Assange será processado ou não pela Justiça australiana quando retornar ao país, onde a Polícia investiga suas atividades por ordem do procurador-geral, Robert McClelland.

O ex-primeiro-ministro conservador John Howard opinou que Assange não deve ser processado porque "todo jornalista publica informação confidencial quando a obtém".

"O importante é se o material e sua divulgação podem pôr em risco a vida das pessoas e a segurança nacional dos países (...) A culpa é daqueles que enviaram as mensagens, eles é que devem ser perseguidos", declarou Howard, cujo mandato foi marcado por uma forte aliança com os EUA.

Nesta semana, o WikiLeaks também divulgou que Rudd advertiu aos Estados Unidos que deviam estar preparados para utilizar a força com a China, além de ter dito à secretária de Estado americana, Hillary Clinton, que os líderes chineses eram "paranoicos" a respeito de temas como Taiwan e o Tibete.

Os vazamentos podem pôr em perigo as relações entre Canberra e Pequim, que este ano já ficaram tensas quando executivos da mineradora anglo-australiana Rio Tinto foram presos e condenados por roubar segredos industriais durante as negociações do preço do minério de ferro na China.

O WikiLeaks vem chacoalhando o mundo todo com a divulgação de mais de 250 mil documentos secretos que revelam que Washington deu instruções a seus funcionários para que espionassem governantes e políticos estrangeiros e altos funcionários da ONU, entre eles o secretário-geral, Ban Ki-moon.

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