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Ausência de Chávez gera dúvidas em eleições venezuelanas

A linha mantida pelo governo é de que não pode haver outro candidato que não seja Chávez

Hugo Chávez acena antes de viajar a Havana, para radioterapia, dia 30 (©AFP / Presidencia)

Hugo Chávez acena antes de viajar a Havana, para radioterapia, dia 30 (©AFP / Presidencia)

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Da Redação

Publicado em 4 de maio de 2012 às 18h23.

Caracas - A prolongada ausência de Hugo Chávez em eventos públicos e a falta de informações sobre seu tratamento contra o câncer suscitam diversas especulações sobre o futuro político da Venezuela, incluindo as relacionadas à designação de um sucessor para o mandatário, a cinco meses das eleições presidenciais no país.

"Diante da falta de informação, todos os cenários são possíveis, inclusive a ausência de Chávez e a nomeação de um sucessor" nas eleições de 7 de outubro em que o presidente se mantém como favorito nas pesquisas, disse à AFP o presidente da empresa Datanálisis, Luis Vicente León.

A linha mantida pelo governo é de que não pode haver outro candidato que não seja Chávez, mas os nomes do chanceler Nicolás Maduro (49 anos), do vice-presidente Elías Jaua (43) e do presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello (49), soam como eventuais substitutos do presidente nas eleições e são incluídos em muitas pesquisas.

Os dois primeiros são considerados da ala moderada dentro do chavismo, enquanto Cabello, um ex-militar que participou do fracassado golpe de Estado que Chávez liderou em 1992, tem um discurso mais radical contra a oposição.

Jaua será presidente do novo Conselho de Estado, órgão consultivo do governo, cuja criação anunciada esta semana foi interpretada por analistas como um passo para uma eventual transição.

Chávez, que tinha afirmado que encerraria na semana passada sua radioterapia contra o câncer, partiu novamente na segunda-feira para Cuba para "a reta final" do tratamento, sem adiantar a data de retorno nem oferecer dar detalhes.

Os venezuelanos foram se acostumando às idas e vindas noturnas do presidente a Cuba, onde desde março se submete à radioterapia contra um câncer recorrente, cuja natureza e gravidade são desconhecidas.

Sua conta no Twitter é praticamente o único meio de contato com o país e suas aparições públicas foram muito breves para um chefe de Estado habitualmente onipresente e hiperativo.


A incerteza reinante levou os venezuelanos a ficarem atentos para qualquer eventualidade, inclusive dentro do chavismo.

"Os governistas sabem tanto quanto o restante da sociedade sobre a saúde de Chávez, ou seja, nada. Mas são os que mais têm a perder e não é preciso ser muito perspicaz para supor que há nervosismo", disse Vicente León.

Entre as fileiras chavistas, são cada vez maiores os rumores sobre divisões internas e lutas pelo poder.

Enquanto este líder absoluto da "revolução bolivariana" desde 1999 "estiver vivo, os confrontos sempre serão clandestinos, porque Chávez ainda pode destruir" quem pretender tirá-lo da liderança, acrescenta.

Assim como o poder, a popularidade do presidente apenas começou a sentir seu afastamento da cena pública.

A cinco meses das eleições, Chávez lidera todas as pesquisas e a última da Datanálisis, de março, dava a ele 44% dos votos contra 31% para seu rival, o governador Henrique Capriles Radonski. A mesma pesquisa indicou mais de 20% de indecisos.

Seu estado de saúde ofuscou a campanha eleitoral.

"A maioria dos venezuelanos não percebeu até agora uma ausência tão notável que possa alterar seu voto e a utilização política de sua saúde está tendo um impacto positivo", disse à AFP o cientista político John Magdaleno.

"A pergunta, contudo, é até quando poderá manter esta situação. Chávez precisa de outros elementos para manter sua vantagem" frente a Capriles Radonski, que está imerso em uma intensa campanha pelo país, acrescenta Magdaleno.

Oficialmente, a campanha começará dia 1º de julho e "independentemente" da sorte do candidato, "as eleições deverão ser realizadas dia 7 de outubro", disse à AFP o advogado constitucionalista Enrique Sánchez Falcón.

A lei eleitoral autoriza substituir a qualquer momento um candidato que não possa concorrer às eleições, lembra.

Por outro lado, a Constituição estabelece que a ausência "absoluta" do presidente implica a convocação de eleições se ela acontecer durante os primeiros quatro anos de seu mandato e a delegação de poderes ao vice-presidente nos dois últimos.

Vicente León destaca que a falta de informação confiável sobre o câncer de Chávez também permite supor uma última hipótese: "O presidente pode estar antecipando um retorno triunfal e, nesse contexto, quanto mais duras forem as especulações sobre sua saúde, menos precisará surpreender em sua volta".

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