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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.
Genebra - Os reajustes de salários ligados a produtividade estimulam uma demanda interna que promove a criação de postos de trabalho, o que contraria a tese de que um alto desemprego obedeça a um rígido mercado de trabalho que impede rebaixar salários.
A análise é da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), em seu relatório deste ano divulgado hoje, onde aponta que "a expectativa de uma demanda crescente é o que impulsiona a inversão na capacidade de produção".
O vínculo das altas salariais permite que a demanda cresça mais do que o potencial da oferta, além de abrir caminho para uma política monetária que favoreça o investimento, considera o estudo.
Precisamente, uma política monetária "favorável ao emprego" manteria baixos os custos do crédito para os investimentos em capital fixo e protegeria a competitividade internacional das empresas nacionais, ao impedir a valorização da moeda.
Em suma, a atribuição "das persistentes e elevadas taxas de desemprego" à rigidez do mercado de trabalho - que impede uma redução de salários - se baseia em um conceito microeconômico que esquece o "importante papel" macroeconômico das altas salariais.
"Uma estratégia para a rápida geração de emprego consistiria em assegurar que os próximos aumentos da produtividade fossem distribuídos entre o trabalho e o capital, fomentando dessa maneira a demanda interna", sugeriu o secretário-geral da Unctad, Supachai Panitchpakdi, ao apresentar o relatório.
Para isso, o relatório da agência defende o fomento de instituições que garantam que as receitas efetivas dos trabalhadores aumentem em dois do aumento meio da produtividade.
Igualmente, a Unctad pede aos países que coloquem um "maior empenho" para criar um círculo virtuoso no qual o elevado investimento em capital fixo daria lugar ao aumento mais rápido da produtividade, com as conseguintes altas salariais.
Estes reajustes de salários, a julgamento do citado relatório, "possibilitariam uma expansão constante da demanda interna e, por ali, do emprego".
Com relação a isso, Supachai matizou que "o fomento da demanda interna como motor da criação de emprego e uma menor dependência das exportações não deveriam ser considerados um retrocesso no processo de integração na economia mundial".
Para este organismo da ONU, a criação de emprego e a redução da pobreza deveriam basear-se em uma "combinação equilibrada" de demanda interna e demanda externa.
"O objetivo que as exportações impulsionem o crescimento encontrará dificuldades cada vez maiores uma vez que nos EUA parou o aumento do consumo financiado a base de endividamento", ressalta.
Assim, considera "pouco provável" que os EUA voltem a ser "a locomotiva da demanda mundial", uma situação que também não poderá assumir a China, onde o consumo das famílias só representa a oitava parte do americano, lembra a Unctad.
No gigante asiático, a estrutura desse consumo favorece os bens de produção nacional, o que faz com que a China "tenha condições de se transformar no único impulsor do crescimento mundial", de acordo com o estudo.
"A concorrência entre exportadores, baseada na contenção dos custos trabalhistas, provoca uma corrida pela igualdade de salários em baixa, contraproducente para a redução da pobreza e a criação de postos de trabalho", alerta.
E acredita que "a chave para conseguir um reequilibrio mundial consistiria em efetuar um ajuste expansivo com maiores excedentes, como a Alemanha e o Japão, que dispõem de uma margem considerável para aumentar o consumo dos lares mediante altas salariais".
No entanto, lamenta que a recuperação econômica nesses países não tenha impulsionado a expansão da demanda interna, mas "a força motriz de seu aumento foi o forte crescimento das exportações, como ocorria antes da crise".
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