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Atraso e exigências do resgate diminuem expectativas de Portugal

União Européia pediu ao país reformas e cortes de gastos antes de conceder a ajuda financeira

Portugal precisou pedir ajuda a UE devido à crise econômica no país  (Jamie McDonald/Getty Images)

Portugal precisou pedir ajuda a UE devido à crise econômica no país (Jamie McDonald/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 8 de abril de 2011 às 15h48.

Lisboa - O atraso e as rigorosas exigências da ajuda europeia atrapalharam as esperanças de Portugal de solucionar sua angústia financeira de forma mais rápida e menos dolorosa que o estrangulamento do mercado.

A imprensa portuguesa exibiu nesta sexta-feira, ao vivo, um país dividido entre o alívio e o temor das consequências do resgate, diante das declarações dos ministros europeus que deram o primeiro sinal verde ao pedido de ajuda formulado por Lisboa.

A Europa falou e confirmou, para muitos portugueses, que têm pela frente dois meses de angústia até chegar às eleições antecipadas de 5 de junho, à mercê dos mercados de dívida que não afrouxaram o controle sobre os vulneráveis bônus da dívida portuguesa.

Com taxas de juros próximas a 10% a médio prazo e acima de 8,6% nos vencimentos a dez anos, que servem de referência, Portugal se resignou a seguir emitindo dívida para chegar ao fim do mês.

O Governo socialista interino, que reprova o fato de a oposição ter levado o país a pedir o resgate com a rejeição de seu quarto plano de austeridade, voltou a reiterar que havia "advertido", enquanto a imprensa recolhia os primeiros sinais da sociedade: o quinto plano será ainda mais exigente que o não aprovado.

Os dois partidos de tendência marxista do Parlamento, o Comunista e o Bloco de Esquerda, que somam 31 dos 230 deputados, foram os primeiros a reagirem contra a temida "intervenção" do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Portugal, que deve apoiar a UE no resgate financeiro.

Mas desta vez a esquerda radical, que se uniu aos conservadores contra o plano econômico socialista, não se limitou a denunciar o desemprego e a perda de direitos sociais e trabalhistas da população, mas abriu conversas para uma aliança entre ambas as formações.

O secretário-geral do Partido Comunista, Jerônimo de Sousa, explicou nesta sexta-feira que é preciso uma "ampla convergência" em torno de uma política alternativa "patriótica e de esquerda".

Os sindicatos também preparam uma primeira grande greve para o dia 6 de maio contra o resgate, apesar de os detalhes da operação ainda serem desconhecidos, salvo que chegará a 80 bilhões de euros.

A convocação provém de movimentos trabalhistas mais ativos, como a Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública (FNSFP), enquadrada na Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP), de tendência comunista.

A CGTP é a organização trabalhista mais poderosa de Portugal, com 700 mil filiados em um país de dez milhões de habitantes, e a FNSP seu maior sindicato, graças ao mais de meio milhão de trabalhadores empregados pelo Estado português através do Governo e das empresas públicas.

O volumoso Estado português e suas participações, majoritárias ou "golden shares" em grandes empresas nacionais, como a companhia petrolífera Galp, o banco CGD, a empresa de energia EDP, a companhia aérea TAP, os aeroportos e a Portugal Telecom, são para muitos especialistas a maior fatia de gordura que podem ser cortada pelas "ambiciosas reformas".

O líder conservador Pedro Passos Coelho, cujo partido desponta como próximo ganhador das eleições após seis anos de Governo socialista, também se mostrou disposto a reduzir o setor estatal, que considera muito grande e com excessivo peso econômico.

No entanto, não só a oposição e a esquerda marxista se preparam para travar a batalha eleitoral de junho perante os olhos atentos da UE, que pediu o apoio de todos os partidos portugueses para conceder sua ajuda financeira.

Os socialistas preparam a estratégia eleitoral neste fim de semana em seu XVI Congresso Nacional com José Sócrates, o primeiro-ministro demissionário, mais forte que nunca por sua reeleição como secretário-geral com 93% dos votos, pouco depois da renúncia de 23 de março.

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