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Assassinato em Washington provoca choque em Israel e agrava clima de hostilidade internacional

Muitos estão mais cautelosos em relação a viagens ao exterior. Autoridades já alertaram o público para que evitem exibir símbolos israelenses e judaicos, para que não se tornem alvos em potencial

Dois funcionários da embaixada de Israel morrem baleados em frente ao Museu Judaico de Washington, capital dos EUA  (Alex WROBLEWSKI /AFP)

Dois funcionários da embaixada de Israel morrem baleados em frente ao Museu Judaico de Washington, capital dos EUA (Alex WROBLEWSKI /AFP)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 23 de maio de 2025 às 09h59.

Última atualização em 23 de maio de 2025 às 10h36.

Os israelenses reagiram com choque e horror nesta quinta-feira ao assassinato de dois funcionários da Embaixada de Israel em Washington, que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu chamou de um "assassinato antissemita terrível". O caso ocorreu quando os dois assessores saíam de um evento organizado pelo Comitê Judaico Americano no Museu Judaico da Capital, na quarta-feira. A polícia informou ter prendido um suspeito em conexão com os assassinatos, que gritou "Palestina livre" depois de ser detido.

O ataque parecia alimentar preocupações crescentes entre os israelenses de que o mundo havia se tornado muito mais hostil a eles enquanto viviam e viajavam para o exterior desde que a guerra em Gaza começou, há mais de um ano e meio.

O Ministério das Relações Exteriores de Israel identificou as vítimas como Sarah Lynn Milgrim, responsável pela organização de missões e visitas a Israel, e Yaron Lischinsky, pesquisador do departamento político. Yechiel Leiter, embaixador israelense nos Estados Unidos, disse que eles eram um casal prestes a ficar noivo.

David Schiff, que fez amizade com Lischinsky na universidade, o descreveu como "um cara incrivelmente talentoso — mas, mais importante, alguém muito gentil".

— Ele queria trabalhar na diplomacia. Estava tão animado para trabalhar na Embaixada em Washington, e amava Washington — disse Schiff, de 31 anos. — É tudo simplesmente chocante.

Para Netanyahu, o presidente francês, Emmanuel Macron, e os primeiros-ministros britânico, Keir Starmer, e canadense, Mark Carney, "querem que Israel se renda e aceite que o exército de assassinos em massa do Hamas sobreviva, se reorganize e repita o massacre de 7 de outubro [de 2023] uma e outra vez", disse Netanyahu em um vídeo sobre o ataque.

— Estão encorajando o Hamas a seguir lutando eternamente — acrescentou.

Em uma declaração conjunta publicada na segunda-feira, Macron, Carney e Starmer se somaram à pressão internacional crescente para que o governo israelense permita a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza.

Ao mesmo tempo que reconheceram o direito de Israel de "se defender" do "terrorismo", Macron, Starmer e Karney prometeram que não ficarão "de braços cruzados" diante das "ações escandalosas" do governo israelense em Gaza. "Se Israel não puser fim à nova ofensiva militar, nem suspender suas restrições à ajuda humanitária, adotaremos outras medidas concretas em resposta", alertaram, sem dar detalhes.

Críticas a Israel

Gideon Saar, o ministro das Relações Exteriores de Israel, chamou o ataque de consequência de "incitação antissemita tóxica contra Israel e os judeus ao redor do mundo" desde o início da guerra entre Israel e o Hamas em outubro de 2023. Ele também culpou os críticos do governo israelense em organizações internacionais e autoridades governamentais, "especialmente da Europa", que levantaram acusações de genocídio e crimes contra a Humanidade em relação à guerra em Gaza. Israel nega veementemente as acusações.

O ataque desencadeou uma onda de acusações entre políticos israelenses, vários dos quais rapidamente acusaram seus oponentes de serem indiretamente responsáveis ​​pelo clima anti-Israel que, segundo eles, precipitou o ataque. Alguns argumentaram que as políticas de Netanyahu estavam alimentando o sentimento anti-Israel no exterior, enquanto outros culparam críticos de esquerda.

O Hamas lançou um ataque surpresa contra Israel em 7 de outubro de 2023, que matou cerca de 1,2 mil pessoas e levou cerca de 250 outras a serem levadas para Gaza como reféns. Mais de 53 mil pessoas foram mortas no enclave enquanto Israel tentava destruir o Hamas e libertar os reféns, de acordo com autoridades de saúde locais, que não fazem distinção entre mortes de civis e combatentes.

Inicialmente, Israel contou com amplo apoio à sua campanha contra o Hamas e à invasão terrestre da Faixa de Gaza. Mas, à medida que a guerra se arrastava, o número crescente de mortos em Gaza desencadeou ondas de campanhas de solidariedade pró-palestina na Europa e nos Estados Unidos, além de crescente consternação e até mesmo raiva entre os aliados de Israel.

Muitos israelenses estão mais cautelosos em relação a viagens ao exterior, temendo que sua nacionalidade os coloque em perigo. Autoridades israelenses já alertaram o público para que evitem exibir símbolos israelenses e judaicos, para que não se tornem alvos em potencial.

— É algo que está na minha mente desde 7 de outubro, que minha segurança como judeu, como israelense, foi afetada — disse Schiff.

Yair Golan, que lidera o partido de esquerda Democratas, culpou o governo de direita de Netanyahu, que prometeu assumir o controle de toda Gaza, de "alimentar o antissemitismo e o ódio a Israel". "O resultado é um isolamento político sem precedentes e um perigo para todos os judeus em todos os cantos do globo", disse Golan em um comunicado.

Itamar Ben-Gvir, o ministro da Segurança Nacional de extrema direita, sugeriu que políticos de esquerda que se opõem à guerra — como Golan — incentivaram o ataque na quarta-feira, fazendo declarações críticas às políticas israelenses. Ele fez referência a uma observação feita por Golan esta semana, na qual afirmou que as forças israelenses estavam "matando bebês como hobby" em Gaza. "O sangue das vítimas está em suas mãos", escreveu Ben-Gvir nas redes sociais.

As missões diplomáticas de Israel no exterior têm sido alvos de ataques de grupos que se opõem à existência do Estado judeu. Em 1982, homens armados palestinos atiraram no embaixador de Israel no Reino Unido. Em 1992, um atentado à bomba na embaixada de Israel em Buenos Aires, Argentina, matou 29 pessoas , a maioria civis argentinos. Um tribunal argentino decidiu no ano passado que o grupo armado libanês Hezbollah havia realizado o ataque.

No mês passado, a polícia britânica acusou um homem de terrorismo por uma tentativa de invasão da Embaixada de Israel em Londres portando duas facas. Não houve vítimas. Segundo autoridades britânicas, o suspeito tentou "enviar uma mensagem ao governo israelense para que parasse a guerra" em Gaza.

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