Cena de protesto no Egito: dois indivíduos desaparecidos foram encontrados mortos (Youssef Boudlal/Reuters)
Da Redação
Publicado em 8 de junho de 2015 às 17h51.
Cairo - Pelo menos 163 ativistas e opositores egípcios desapareceram no país desde abril, denunciou nesta segunda-feira à Agência Efe o porta-voz de uma campanha para a libertação de presos políticos no Egito, Khaled Abdel Hamid.
O grupo egípcio, denominado "Liberdade para os valentes" (Freedom to the Brave), documentou 163 desaparecimentos entre 1 de abril e 7 de junho em todo o território egípcio.
O porta-voz do grupo, que acompanhou os desaparecimentos através das famílias das vítimas, de outros ativistas e de grupos de direitos humanos, detalhou que 66 pessoas seguem com o paradeiro desconhecido e algumas foram localizadas.
"Há pessoas que já sabemos onde estão, e entre elas, muitas continuam detidas sem acusação formal", detalhou Hamid.
Além disso, dois indivíduos desaparecidos foram encontrados mortos. Um deles era um universitário, cujo corpo apareceu no deserto.
O outro homem foi encontrado no norte da Península do Sinai, pouco depois de ter dado um depoimento à Justiça. Os dados recolhidos pela campanha mostram que a maior parte dos casos ocorreu na capital, com 60 registros nesse período, seguido da província de Kafr el-Sheikh, no Delta do Nilo.
O grupo, que publicou ontem um relatório sobre estes casos, conseguiu para amanhã uma reunião entre o Conselho Nacional dos Direitos Humanos, órgão que depende do governo egípcio, e as famílias dos desaparecidos para ouvir seus depoimentos.
A reunião tem como objetivo a averiguação do paradeiro destas pessoas e o início dos procedimentos jurídicos formais para os detidos sem acusação.
A publicação destes dados coincide com as denúncias de outros grupos de direitos humanos e ativistas opositores, que advertem da detenção sem acusações e do desaparecimento de dezenas de pessoas.
De acordo com estas denúncias, nas últimas semanas aumentaram as detenções de indivíduos vinculados a movimentos opositores laicos e islamitas, vários dos quais foram tirados de suas casas durante a madrugada e suas famílias desconhecem os paradeiros.
O caso mais recente e polêmico é o do estudante Islam Atito, supostamente sequestrado quando estava na Universidade Ain Shams, no Cairo, e pouco depois encontrado morto no deserto nos arredores da capital egípcia.
O Ministério do Interior garantiu que o jovem morreu em uma troca de tiros com a polícia, que o procurava por suposto envolvimento no assassinato de um oficial em abril.