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Ativista chinês Hu Jia é libertado após mais de 3 anos preso por "subversão"

Hu Jia foi preso por artigos em que condenava a política de direitos humanos no país

Hu Jia: três anos e meio na prisão por defender direitos humanos na China (Wikimedia Commons)

Hu Jia: três anos e meio na prisão por defender direitos humanos na China (Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 26 de junho de 2011 às 10h47.

Pequim - O ativista de direitos humanos Hu Jia, agraciado em 2008 com o Prêmio Sakharov para a Liberdade de Pensamento, foi libertado neste domingo após cumprir três anos e meio de prisão, acusado pelo regime chinês de "subversão", de acordo com uma mensagem de sua esposa, Zeng Jinyan, no microblog Twitter.

Ele chegou a sua casa às 2h30 da madrugada de domingo (15h30 de sábado pelo horário de Brasília) "calmo e muito feliz", segundo Zeng, também ativista, que preferiu manter silêncio à imprensa até a libertação do marido. Agora, em sua mensagem no Twitter, ela disse que Hu já estava com a família e precisava descansar.

A imprensa oficial chinesa não repercutiu a libertação de Hu, ativista de 37 anos, que, segundo Zeng, sofre de hepatite B, doença agravada durante o período na prisão.

Hu foi detido em dezembro de 2007 e condenado em abril de 2008 a três anos e meio de prisão por "subverter o poder do Estado" (veredicto habitual contra os dissidentes políticos na China), após escrever artigos condenado a situação dos direitos humanos, do meio ambiente e dos portadores de Aids em seu país. Essas denúncias lhe valeram o Prêmio Sakharov, concedido pelo Parlamento Europeu.

Candidato ao Prêmio Nobel da Paz em 2008, ganhou fama, simpatizantes e inimigos por organizar campanhas de ajuda aos camponeses pobres que contraíram Aids na China vendendo sangue nos anos 1990 - escândalo até hoje não reconhecido pelo Governo - e por acusar as autoridades de ocultarem o assunto.

A esposa de Hu, blogueira de 27 anos, considerada em 2007 pela revista "Time" uma das "100 pessoas mais influentes do mundo", tinha viajado a Pequim há uma semana - da cidade de Shenzhen (sudeste) - ao ser avisada da libertação do marido.

Ela disse que, na sexta-feira, tinha sido advertida de que Hu não poderia levar uma vida "normal" e achava que ele nem mesmo poderia fazer declarações após libertado, condição que parece ter sido pactuada com o regime chinês, tal como aconteceu com os demais dissidentes libertados nos últimos dias, entre eles o célebre artista Ai Weiwei.

Zeng, também ativista de direitos humanos, que desde antes da prisão do marido já sofria intimidação da Polícia, assim como a filha do casal, agradeceu no Twitter a todos os simpatizantes pelo apoio demonstrado a Hu.

Neste mesmo mês, Zeng denunciou que o proprietário da casa onde mora não queria renovar o contrato devido às supostas pressões que teria recebido.

As ONGs Human Rights Watch (HRW) e Chinese Human Rights Defenders (CHRD) haviam reivindicado em diversas ocasiões a libertação condicional de Hu por razões de saúde, o que foi rejeitado pelas autoridades. Segundo Zeng, o regime alegava que o dissidente "não se encontra em estado grave", "é desobediente" e "não se cala".

Tanto a libertação de Hu quanto a do artista Ai Weiwei (na quarta-feira passada) ocorrem durante uma viagem oficial do primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, pela Europa, que inclui visitas ao Reino Unido, Alemanha e Hungria.

Fontes britânicas disseram em Londres que as autoridades do Reino Unido não deixarão de expressar a Wen sua preocupação quanto à prisão de dissidentes, que algumas ONGs cifram em 130 desde fevereiro deste ano.

Quase 200 dissidentes, ativistas, advogados e intelectuais foram interrogados, detidos ou ameaçados pelo regime chinês nos últimos anos, segundo ONGs que denunciam uma piora da situação dos direitos humanos no país.

Essas entidades apontam como possíveis motivos do aumento das detenções o poder de convocação para protestos via internet, as reivindicações pró-democracia suscitada pela recente Primavera Árabe e a cada vez mais iminente transferência de poder no regime chinês em 2012.

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