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Ataques na Arábia Saudita revelam falhas da indústria petrolífera

País deve retomar produção em algumas semanas; para Agência Internacional de Energia, não será preciso usar estoques emergenciais de petróleo

Ataque a refinaria: no sábado, os rebeldes huthis do Iêmen assumiram a responsabilidade pelos ataques realizados, mas Arábia Saudita e EUA culpam Irã (Planet Labs Inc/Handout/Reuters)

Ataque a refinaria: no sábado, os rebeldes huthis do Iêmen assumiram a responsabilidade pelos ataques realizados, mas Arábia Saudita e EUA culpam Irã (Planet Labs Inc/Handout/Reuters)

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AFP

Publicado em 18 de setembro de 2019 às 11h43.

Os ataques contra instalações petrolíferas na Arábia Saudita no último sábado, que privaram o reino de metade de sua produção e provocaram um aumento recorde dos preços, revelaram os pontos fracos do setor.

"Há duas principais lições para as companhias de petróleo", disse à AFP Anoush Ehteshami, professor de Relações Internacionais da Universidade de Durham, na Inglaterra.

Segundo ele, a primeira é que "as instalações de petróleo são, por natureza, muito vulneráveis a todos os tipos de ataques", dada a natureza inflamável e explosiva dos hidrocarbonetos.

"A segunda lição, é que os governos regionais e potências internacionais são relativamente impotentes quando se trata de sua defesa", continua.

Ciente dos riscos de seus sítios petrolíferos em uma região regularmente abalada por conflitos, a Arábia Saudita está investindo pesadamente em sofisticados sistemas de defesa e armas, como mísseis terra-ar Patriot da americana Raytheon.

Mas isso não foi suficiente para evitar o ataque de sábado, que os Estados Unidos atribuem ao Irã.

No sábado, os rebeldes huthis do Iêmen assumiram a responsabilidade pelos ataques realizados, segundo as primeiras informações, por drones contra a usina de Abqaiq, a maior do mundo para o processamento de petróleo, e o campo de petróleo de Khurais.

Riad ainda não se pronunciou sobre os autores do ataque, que despertou o medo de uma escalada militar entre o Irã e os Estados Unidos, com o chefe da diplomacia americana Mike Pompeo viajando à Arábia Saudita para discutir a resposta de seu país.

Os ataques estimularam governos a questionarem se precisariam usar suas reservas de petróleo. No entanto, a Arábia Saudita tranquilizou o mercado ao revelar que deve conseguir retomar sua produção em poucas semanas, mais rápido do que o previsto. Após o anúncio, Agência Internacional de Energia (IEA) disse que não vê necessidade de liberação de estoques emergenciais de petróleo.

"Atualmente, os mercados estão bem abastecidos e neste momento nós não vemos necessidade de tomar tal medida", disse o chefe da IEA, Fatih Birol, em uma transmissão online.

Os países membros da IEA detêm cerca de 1,55 bilhão de barris em estoques de emergência de agências controladas pelos governos, o que representa 15 dias da demanda total por petróleo no mundo, disse Birol.

De qualquer forma, os eventos de sábado mostram, segundo Ehteshami, que nenhum sistema de defesa, por mais moderno que seja, é infalível.

Para Valérie Marcel, membro do "think tank" britânico Chatham House, provam que "os sauditas devem rever sua preparação e capacidade de resposta de seu sistema de defesa".

Cibernéticos

Além de agressões do tipo militar, os ataques cibernéticos são um risco crescente.

"Todas as grandes potências, e mesmo as menores que estão em um contexto belicoso, estabeleceram estratégias de ataque (informático). E, em todas essas estratégias ofensivas, o suprimento de energia está presente", disse em agosto Gérôme Billois, especialista em segurança cibernética da Wavestone.

Rússia, China e Estados Unidos teriam desenvolvido essas capacidades, mas também países menores, como Coreia do Norte, ou Irã, que podem agir diretamente, ou por intermédio de grupos criminosos.

A ofensiva contra instalações do maior exportador mundial de petróleo também questionam os estoques mundiais, anteriormente considerados abundantes.

Ainda que o governo saudita tenha tentado tranquilizar, alegando já ter restaurado "metade da produção perdida" e que o restante será recuperado até o final de setembro, os ataques colocam em questão a segurança da oferta de petróleo saudita e de suas vastas reservas.

Segundo Marcel, a margem de segurança dos estoques mundiais parece muito menos confortável, porque, no caso de uma grande perturbação, "os estoques sauditas serão reduzidos, e toda capacidade de reserva será utilizada".

Em um futuro imediato, os governos saudita e americano argumentam que o mercado está bem abastecido - assim como a Agência Internacional de Energia -, garantindo que podem usar suas reservas para compensar a falta de produção saudita.

As reservas estratégicas de petróleo americanas foram criadas para esse tipo de situação: impedir que o país volte a experimentar um aumento de preços, como na crise do petróleo de 1973.

Ehteshami ressalta que, dada sua natureza estratégica nos Estados Unidos e na Arábia Saudita, "essas reservas são seguras".

"A vulnerabilidade das plataformas, refinarias e sítios de extração e carregamento que é problemática", continua ele.

Para Harry Tchilinguirian, analista do BNP Paribas, à luz dos eventos recentes, "o mercado deve aumentar o prêmio de risco nos preços do petróleo, dada a vulnerabilidade da cadeia de fornecimento saudita e a possibilidade da repetição de um ataque do mesmo tipo".

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