Manifestantes queimam bandeira da Índia em Quetta, no Paquistão (BANARAS KHAN/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 24 de abril de 2025 às 14h56.
Índia e Paquistão trocaram acusações e medidas de retaliação nesta quinta-feira, 24, em uma escalada de tensão que motivou ameaças militares entre dois dos países mais populosos do mundo, detentores de armas atômicas.
A crise entre os rivais regionais se acirrou na terça-feira após um atentado terrorista matar 26 turistas na porção indiana da Caxemira, território aos pés do Himalaia envolvido em disputas que envolvem os dois países e a China. Nova Délhi acusa Islamabad de conivência com grupos terroristas supostamente envolvidos no ataque, o que foi rejeitado pelas autoridades paquistanesas.
O ataque terrorista ainda não foi completamente esclarecido pelas autoridades, mas já é considerado o pior na parte da Caxemira administrada pela Índia desde 2019. Sobreviventes relataram à imprensa indiana que homens munidos de armas automáticas saíram de dentro de uma floresta de pinheiros ao redor do Vale Baisaran, perto da cidade de Pahalgam, separaram os homens das mulheres e crianças e executaram vários deles à queima-roupa. A polícia indiana culpou o Lashkar-e-Taiba (LeT), designado como organização terrorista pelas Nações Unidas e sediado no Paquistão, pelo ataque, alegando ter identificado dois paquistaneses e um indiano entre os supostos atiradores.
O primeiro-ministro indiano Narendra Modi prometeu, ainda na terça-feira, punir todos os terroristas "e seus apoiadores" pelo que chamou de "ato hediondo", enquanto o ministro da Defesa, Rajnath Singh, prometeu uma "resposta forte" não apenas contra os perpetradores, mas também contra os mentores dos "atos nefastos". O chanceler indiano, Vikram Misri, foi mais direto.
Em um anúncio na quarta-feira, Misri acusou o Paquistão de "apoiar o terrorismo transfronteiriço" e listou uma série de medidas de Délhi contra Islamabad, incluindo o fechamento do principal posto de fronteira terrestre entre os países e a redução da equipe diplomática no país. A principal medida, no entanto, foi a suspensão de um tratado sobre o compartilhamento de água do Rio Indo, principal fonte potável do país de maioria muçulmana.
— O tratado de 1960 sobre as águas do [rio] Indo será suspenso com efeito imediato até que o Paquistão renuncie de forma confiável e irrevogável ao seu apoio ao terrorismo transfronteiriço — disse o chanceler.
Em um comunicado emitido nesta quinta-feira ao final de uma reunião do primeiro-ministro Shehbaz Sharif com o Comitê de Segurança Nacional do Paquistão, Islamabad afirmou que qualquer tentativa de "interromper ou desviar o fluxo de água" pertencente ao Paquistão, conforme o tratado de 1960, "serão consideradas um ato de guerra".
— Qualquer ameaça à soberania do Paquistão e à segurança de seu povo será enfrentada com medidas rígidas de reciprocidade — alertou o Gabinete de Sharif
As autoridades paquistanesas ainda anunciaram uma série de represálias às medidas impostas pelo governo em Délhi, incluindo a suspensão de todos os vistos emitidos para cidadãos indianos (exceção feita apenas a peregrinos religiosos sikh), estabelecendo um prazo de 48 horas para que todos eles se retirassem do país. Além disso, também anunciaram o fechamento do espaço aéreo para todas as companhias aéreas de propriedade ou operadas pela Índia.
O analista de política externa Michael Kugelman disse que a situação atual representa um "risco muito sério de uma nova crise entre a Índia e o Paquistão", comparando a situação ao breve conflito desencadeado em 2019, quando insurgentes lançaram um carro cheio de explosivos contra um comboio policial, matando 40 pessoas e ferindo 35, fazendo caças indianos realizaram ataques aéreos em território paquistanês 12 dias depois.
Estima-se que a Índia mantenha um efetivo de cerca de 500 mil soldados na Caxemira desde o incidente em 2019. De acordo com Kugelman, o fator-chave para Délhi autorizar um ataque contra o Paquistão seria o entendimento de que o governo local colaborou com o grupo terrorista — algo que Islamabad nega, embora admita defender o direito de grupos que lutam pela independência da região da Índia.
— A Índia está travando uma guerra de baixa intensidade — afirmou o ministro da Defesa paquistanês, Khawaja Asif. — Se a situação escalar, estamos preparados. Para proteger nossa terra, não cederemos a nenhuma pressão internacional.