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Ataque no Irã aumenta temor de que guerra entre Israel e Hamas se espalhe pelo Oriente Médio

Explosões ocorreram um dia após o assassinato no Líbano do número 2 da ala política do Hamas, que é apoiado por Teerã

Explosões, no Irã:  Imagem mostra equipes de emergência socorrendo feridos após explosões perto do túmulo do comandante iraniano Qassem Soleimani (Sare Tajalli / ISNA / AFP/AFP)

Explosões, no Irã: Imagem mostra equipes de emergência socorrendo feridos após explosões perto do túmulo do comandante iraniano Qassem Soleimani (Sare Tajalli / ISNA / AFP/AFP)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 4 de janeiro de 2024 às 12h03.

O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, apontou os “inimigos maliciosos e criminosos” do país como responsáveis por explosões que deixaram 95 mortos e 211 feridos perto do túmulo do comandante iraniano Qassem Soleimani na região central iraniana nesta quarta-feira, prometendo que “essa tragédia terá uma forte resposta”. O número de mortos foi inicialmente informado como 103, mas o ministro da Saúde do Irã, Bahram Eynollahi, disse que alguns nomes foram acidentalmente registrados duas vezes.

Apesar de Khamenei ter evitado especificar qualquer grupo ou nação pelo massacre, o presidente Ebrahim Raisi apontou o dedo para os arquirrivais de Teerã, dizendo aos “criminosos EUA e regime sionista que pagarão um alto preço pelos crimes cometidos, e que se arrependerão”.

Em declarações transmitidas mais cedo, o ministro do Interior do Irã, Ahmad Vahdi, disse que os ataques foram um ato de “terror” feito para punir a posição iraniana contra o Estado judeu e “uma resposta ao ‘eixo de resistência’ à morte de mulheres e crianças inocentes” na Faixa de Gaza, referindo-se aos grupos e milícias pró-Irã e anti-Israel na região, incluindo no Iraque e Síria.

Leia mais: Explosões no Irã: saiba quem foi o general iraniano Qassem Soleimani, morto pelos EUA há 4 anos

As declarações ao ataque, um dia após o assassinato no Líbano do número 2 da ala política do Hamas, que é apoiado por Teerã, são o mais recente sinal de que a guerra de quase três meses entre Israel e o Hamas pode virar um conflito regional.

Segundo a AFP, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, viaja nesta quinta-feira, 4, para o Oriente Médio, diante da escalada das tensões. Um funcionário americano, sob anonimato, confirmou a viagem, que será a quarta de Blinken à região desde o início da guerra entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza. Recusou-se a dar detalhes sobre o itinerário, mas disse que inclui uma visita a Israel. Em viagens anteriores, Blinken também visitou países árabes.

Alvo na capital libanesa

Atribuído a forças israelenses, o ataque contra Saleh al-Arouri no sul de Beirute — reduto do movimento xiita libanês Hezbollah — foi o primeiro a atingir a capital libanesa desde o início da guerra de Israel contra o Hamas em 7 de outubro, quando o grupo lançou os piores ataques em solo israelense desde a formação do Estado judeu, em 1948, deixando 1,2 mil mortos e 250 reféns.

O Irã disse na terça que o assassinato de Arouri motivará a resistência contra Israel, enquanto o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, afirmou nesta quarta, 3, que a morte era uma “flagrante agressão israelense em Beirute”. "Se o inimigo pensar em iniciar uma guerra em território libanês, vamos lutar sem restrições, sem regras e sem limites", disse.

Leia mais: Após morte de líder do Hamas, Israel diz estar pronto para "qualquer cenário"

Sobre o ataque no Irã, Nasrallah disse que “o morto assusta mais [hoje] do que quando vivo”, afirmando que “Soleimani os assombra do túmulo”.

As explosões na província de Kerman ocorrem quatro anos após um ataque de drone dos EUA ter assassinado Soleimani, chefe da força de elite Quds da Guarda Revolucionária, na capital do Iraque. Um dos principais generais do país persa, Soleimani projetou o eixo de influência do Irã no exterior, remodelando a geopolítica do Oriente Médio por meio de uma rede de grupos que se opõem a Israel, incluindo o Hebzollah e o Hamas.

Desde o início do conflito em Gaza, os houthis — uma milícia apoiada pelo Irã que atua no Iêmen — disparou mísseis e drones contra navios comerciais relacionados a Israel no Mar Vermelho, enquanto o Hezbollah lançou ataques contra o Estado judeu a partir de suas bases no Líbano. Na semana passada, o Irã acusou Israel de matar na Síria Seyyed Razi Mousavi, outro membro da Guarda Revolucionária — ex-colega de Soleimani —, também prometendo vingança.

Perante as insinuações do Irã, o Ministério de Relações Exteriores de Israel disse que não faria comentários sobre as explosões. Já os EUA descartaram participação própria ou de Israel no ataque no Irã.

"Os EUA não estiveram envolvidos de nenhuma forma e qualquer insinuação que contradiga isso é ridícula", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, a jornalistas. "Não temos nenhuma razão para acreditar que Israel esteja envolvido nessa explosões."

Sem marcas israelenses

Analistas ouvidos pelo New York Times dizem que há vários autores possíveis para o ataque, incluindo organizações terroristas sunitas como o Estado Islâmico ou grupos separatistas iranianos, que já atacaram civis no passado. Também afirmam que as características das explosões não correspondem aos métodos a que Israel normalmente recorre quando ataca o Irã. O país nunca atacou civis, normalmente tendo alvos específicos como cientistas nucleares, autoridades graduadas de segurança ou instalações atômicas.

As explosões desta quarta ocorreram com uma diferença de 15 minutos do lado de fora do túmulo onde uma multidão participava de uma procissão para homenagear Soleimani. As bombas, colocadas em uma maleta e um carro na entrada do túmulo, foram detonadas remotamente, segundo a agência de notícias estatal República Islâmica.

A expansão do conflito é uma preocupação central para governos envolvidos direta ou indiretamente na crise do Oriente Médio, como os EUA, que alertaram Israel que o ataque no Líbano — que também estimulou convocatórias para que cidadãos de Gaza e Cisjordânia se juntem à luta do Hamas — pode ter fechado a porta para uma negociação para libertação de reféns. Nesta quarta, o Egito, por exemplo, informou que congelou seu papel de mediador nas negociações entre Israel e o grupo palestino.

Tensão no Líbano

Já no Líbano, apesar de o presidente, Najib Mikati, ter denunciado na terça o ataque como “um crime” que violava a soberania do país, autoridades locais atuam nos bastidores para evitar uma escalada.

O ministro dos Negócios Estrangeiros libanês, Abdallah Bou Habib, afirmou que está em diálogo com o Hezbollah para que não haja uma resposta ao ataque em Beirute. "Estamos muito preocupados", disse o ministro, em entrevista à rede britânica BBC. "Os libaneses não querem ser arrastados, nem mesmo o Hezbollah quer ser arrastado, para uma guerra regional."

Segundo a especialista Maha Yahya, diretora do Carnegie Middle East Center, com sede em Beirute, "o risco de escalada é significativo, mas o Hezbollah se esforça para evitar ser arrastado para um conflito".

Em Israel, as principais autoridades não admitiram diretamente o ataque em Beirute, mas o porta-voz militar Daniel Hagari disse que o país está em “um estado muito elevado de prontidão” para atacar ou se defender de qualquer ameaça.

“Estamos altamente preparados para qualquer cenário”, afirmou nas redes sociais. “A coisa mais importante a dizer é que estamos centrados em lutar contra o Hamas.”

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