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Ataque dos EUA ao Irã marca o primeiro confronto direto entre os dois países em 45 anos

EUA e Israel intensificam ações militares contra o Irã, com Trump exigindo rendição incondicional para abandonar seu programa nuclear

Publicado em 21 de junho de 2025 às 21h28.

Última atualização em 21 de junho de 2025 às 21h32.

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, confirmou neste sábado, 21, em uma postagem em seu perfil no Truth Social que os EUA realizaram um ataque a instalações nucleares no Irã, incluindo os centros de Fordow, Natanz e Esfahan.

O ataque marca a primeira vez desde a Revolução Iraniana, em 1979, que os Estados Unidos enviaram sua Força Aérea para atingir grandes instalações no país. O presidente dos EUA afirmou que a ação visa evitar que o Irã avance em sua corrida para obter armas nucleares.

Até o momento, os Estados Unidos haviam evitado um conflito direto em larga escala com o Irã, uma estratégia seguida por diversas administrações americanas, desde a presidência de Jimmy Carter, no início dos anos 80.

Por que os EUA e o Irã entraram em conflito nos anos 80?

A década de 1980 foi um período de grandes tensões entre os Estados Unidos e o Irã, com uma série de confrontos diretos e indiretos que moldaram a relação entre os dois países até os dias atuais.

Os conflitos tiveram início com a Revolução Iraniana de 1979, que depôs o xá Mohammad Reza Pahlavi, aliado dos EUA, e instaurou a República Islâmica sob a liderança do aiatolá Khomeini. A mudança de regime foi vista pelos Estados Unidos como uma grande perda de influência na região e gerou um clima de hostilidade entre os dois países.

  • A crise dos reféns de 1979

Em novembro de 1979, os Estados Unidos não enfrentaram um ataque militar direto, mas sim uma crise diplomática. Militantes iranianos tomaram a Embaixada dos EUA em Teerã e fizeram 52 americanos reféns.

O motivo principal por trás dessa ação foi a ira contra o apoio dos EUA ao xá deposto, que havia sido acolhido nos Estados Unidos para tratamento médico.

O governo iraniano, sob a liderança de Khomeini, acreditava que a presença do xá em solo americano representava uma continuidade da influência ocidental no país. Esse evento deu início a uma crise que duraria 444 dias, afetando gravemente as relações bilaterais.

  • A operação Eagle Claw

O governo dos EUA, liderado por Jimmy Carter na época, tentou resolver a crise de forma diplomática, mas também preparou uma operação militar para resgatar os reféns.

A missão, chamada Operação Eagle Claw, foi lançada em abril de 1980, mas acabou sendo um fracasso. Durante a execução da missão de resgate, uma falha mecânica e um acidente envolvendo helicópteros resultaram na morte de oito militares americanos e no fracasso da operação. Isso marcou o fim das tentativas de resgatar os reféns por meios militares e aprofundou ainda mais o abismo entre os dois países.

  • A guerra Irã-Iraque (1980-1988)

Em 1980, o Irã foi envolvido em um conflito com o Iraque, que resultaria na Guerra Irã-Iraque. Durante este período, os Estados Unidos adotaram uma postura mais favorável ao Iraque de Saddam Hussein, fornecendo apoio militar e inteligência.

O motivo para esse apoio estava relacionado ao desejo dos EUA de impedir que o Irã, após a Revolução, ganhasse mais poder e influência no Oriente Médio, especialmente no contexto da Guerra Fria, quando os EUA procuravam conter o avanço de regimes revolucionários e comunistas.

Embora os EUA não tenham se envolvido diretamente no conflito entre Irã e Iraque, o apoio ao Iraque acabou se tornando um ponto de fricção com o Irã, que se via como alvo da pressão ocidental. A guerra se arrastou por oito anos, com milhares de mortes e devastação, mas sem que houvesse uma vitória clara de um lado sobre o outro.

  • Operações Militares Diretas: Nimble Archer e Praying Mantis

Durante a Guerra Irã-Iraque, os EUA realizaram duas operações militares diretas contra o Irã. A Operação Nimble Archer, em 1987, foi uma resposta a ataques iranianos a petroleiros no Golfo Pérsico, que estavam prejudicando o transporte de petróleo através do estreito de Ormuz. A Marinha dos EUA atacou plataformas de petróleo iranianas como uma forma de retaliar.

Em 1988, a Operação Praying Mantis foi uma operação naval ainda mais significativa, com o objetivo de destruir as plataformas de petróleo restantes e afundar um navio de guerra iraniano, o Sahand. Esse ataque foi uma resposta ao ataque iraniano a um navio de carga americano, o USS Samuel B. Roberts. A operação foi a maior ação naval dos EUA no Golfo Pérsico desde a Segunda Guerra Mundial e demonstrou a disposição dos EUA de se envolver diretamente no confronto com o Irã.

  • O abate do voo 655

Um dos incidentes mais trágicos dessa década ocorreu em 3 de julho de 1988, quando o USS Vincennes, um cruzador da Marinha dos EUA, abateu o voo Iran Air 655, matando todos os 290 passageiros a bordo.

O ataque foi um erro, já que o avião comercial foi confundido com um alvo militar iraniano, mas gerou uma enorme controvérsia e aumentou ainda mais as tensões. O Irã considerou o abate um ato deliberado e hostil, enquanto os EUA justificaram como um erro em meio a um ambiente de alta tensão no Golfo Pérsico.

Entenda o conflito

O conflito entre os Estados Unidos, Israel e o Irã atingiu um novo pico na noite de sábado, quando os EUA lançaram ataques aéreos contra três espaços nucleares iranianos — Fordow, Natanz e Esfahan.

Os ataques ocorreram após uma semana de intensos combates aéreos entre Israel e Irã, com Israel atacando instalações nucleares e militares iranianas na tentativa de interromper o programa de armas nucleares do Irã.

Trump justificou a ação como uma resposta à contínua ambição nuclear do Irã e à recusa de Teerã em desmantelar seu programa nuclear. O presidente americano exigiu a "rendição incondicional" do Irã e deu um ultimato ao país, ordenando que abandonasse seu programa nuclear ou enfrentasse ações militares decisivas. O ataque dos EUA foi visto como uma medida para forçar o Irã a se submeter às exigências internacionais.

Este conflito reflete as tensões de longa data entre os três países, com o Irã persistindo em seu desenvolvimento nuclear, enquanto os EUA e Israel buscam impedir que o país adquira a capacidade de fabricar armas nucleares, representando uma ameaça crescente para a estabilidade no Oriente Médio.

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