Mundo

Após pagers, Israel faz bombardeio e mata comandante do Hezbollah em Beirute

Ainda não há informações sobre mortos e feridos sobre a mais recente ação militar na região

O Hezbollah e Israel trocam ataques quase que diariamente desde 8 de outubro (Jalaa Marey/AFP)

O Hezbollah e Israel trocam ataques quase que diariamente desde 8 de outubro (Jalaa Marey/AFP)

Publicado em 20 de setembro de 2024 às 11h01.

Última atualização em 20 de setembro de 2024 às 12h13.

A crise entre Israel e o Hezbollah se intensificou nesta sexta, 19. Israel fez um ataque aéreo a Beirute, que matou ao menos oito pessoas, segundo o governo do Líbano. Entre as vítimas, está Ibrahim Aqil, um dos principais líderes do grupo, de acordo com as agências AFP e Reuters.

Aqil era membro do Hezbollah desde o início do grupo. Ele esteve envolvido no ataque a bomba à embaixada dos EUA em Beirute em 1980 e era considerado terrorista pelo governo americano. Havia uma recompensa de US$ 7 milhões por informações que ajudassem a prendê-lo, segundo a BBC.

A TV Al-Mayadeen, sediada em Beirute, relatou que um drone disparou vários mísseis na área densamente povoada conhecida como Dahiyeh.

Mais cedo nesta sexta, o Hezbollah atacou o norte de Israel com 140 mísseis após promessa do líder do grupo, Hassan Nasrallah, de retaliar Israel por um bombardeio em massa e por uma ação que explodiu equipamentos pessoais do grupo.

Na terça e na quarta, uma ação coordenada explodiu centenas de pagers e rádios de comunicação do grupo. As explosões mataram ao menos 37 pessoas e feriram mais de 3.000 libaneses. Israel não assumiu publicamente a autoria do ataque, mas também não negou.

Entenda o conflito entre Israel e Hezbollah

Militares de Israel e o Hezbollah vivem um conflito há décadas. Após a invasão de Israel na Faixa de Gaza, há quase um ano, o grupo libanês passou a fazer ataques na região da fronteira entre Israel e Líbano. Isso fez com que mais de 200.000 pessoas tenham deixado suas casas, dos dois lados da fronteira.

Nos últimos dias, o governo de Israel prometeu que os israelenses que foram desalojados poderiam voltar para casa e que o conflito contra o Hezbollah está em nova fase. Na quinta, Yoav Gallant, ministro de defesa de Israel, prometeu mais ataques.

"Nesta nova fase da guerra há oportunidades significativas mas também riscos significativos. O Hezbollah se sente perseguido. Nossas ações militares vão continuar", disse Gallant, durante entrevista coletiva. "Nossa meta é garantir o retorno seguro das comunidades do norte de Israel para suas casas. Conforme o tempo passa, o Hezbollah vai pagar um preço cada vez mais alto."

Ao mesmo tempo, líderes de outros países buscaram amenizar a crise. O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, está em Paris para uma rodada de conversas sobre a crise no Oriente Médio e disse que a França e os Estados Unidos estão trabalhando para buscar formas de reduzir a tensão na região, especialmente em relação ao Líbano.

O secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, David Lammy, fez um alerta para que os britânicos que estejam no Líbano deixem o país. "A tensão está alta e a situação poderá se deteriorar rapidamente", disse, em uma rede social.

Michael Young, editor sênior do centro de pesquisas Carnegie Middle East, baseado em Beirute, avalia que, no cenário atual, os dois lados parecem ter dúvidas sobre ampliar os ataques, sob o risco de entrarem em uma guerra longa e difícil de ser mantida. Israel mantém uma operação militar que invadiu a faixa de Gaza, e lidar com duas frentes ao mesmo tempo exigiria mais recursos e soldados, o que teria ainda um forte custo político ao governo de Benjamin Netanyahu.

"Apesar da superioridade militar de Israel, o problema é que não há pontos finais para uma guerra com o Hezbollah. Se as forças de Israel avançarem no Líbano, cada colina à frente pode ser um novo local de onde o Hezbollah poderá fazer ataques, justificando tomar aquela colina e empurrando Israel mais fundo em um atoleiro. Em que ponto Netanyahu poderia declarar vitória? Não há", diz Young.

Quem é o Hezbollah?

O Hezbollah é um grupo islâmico xiita, baseado no Líbano e considerado terrorista pelos Estados Unidos, Israel e outros países ocidentais. Ao mesmo tempo, atua na política, como um partido, e disputa eleições desde 1992.

Em 1978, militares de Israel invadiram e ocuparam partes do sul do Líbano, sob alegação de que militantes palestinos estavam abrigados ali. Nos anos seguintes, o Irã apoiou a criação do Hezbollah, um grupo armado para lutar contra a ocupação israelense. Em 2000, as forças israelenses deixaram o Líbano, mas o Hezbollah continuou fazendo ataques a Israel, por defender que o país vizinho estava ocupando irregularmente áreas na região da fronteira.

Em 2006, houve uma nova guerra entre Israel e Líbano, que durou cerca de um mês. O cessar-fogo previa um desarmamento do Hezbollah e a retirada das tropas de Israel. Depois disso, a tensão entre os dois países diminuiu, mas não cessou por completo.

O Hezbollah conseguiu se rearmar e crescer nos anos seguintes e atualmente tem entre 20 mil e 50 mil membros, além de algo entre 120 mil e 200 mil mísseis, segundo dados do think tank CSIS.

A crise entre os dois países voltou a ganhar força depois do ataque do Hamas a Israel, em outubro de 2023. Desde então, o Hezbollah disparou mais de 8.000 mísseis contra Israel, além de ataques com drones explosivos. Boa parte deles foi barrado pelo sistema de defesa israelense, mas ao menos 25 pessoas morreram pelos ataques, segundo o governo israelense. Israel fez ataques de retaliação e matou ao menos 589 pessoas no Líbano desde então, segundo o governo do país.

Acompanhe tudo sobre:IsraelHezbollahLíbano

Mais de Mundo

Dez anos após desaparecimento de 43 estudantes no México, caso segue sem conclusão

O que é PETN, químico altamente explosivo que pode ter sido usado em pagers do Hezbollah

Novo centro de processamento de minerais vai fazer com que o Canadá dependa menos da China

Biden diz a Trump que os migrantes são o "sangue" dos Estados Unidos