Iranianos protestam contra Israel em Teerã, em 20 de junho (AFP)
Publicado em 22 de junho de 2025 às 19h07.
Última atualização em 22 de junho de 2025 às 19h14.
O Irã vive seu momento mais desafiador desde os anos 1980. Pela primeira vez, os Estados Unidos fizeram um grande ataque contra seu território. Ao mesmo tempo, o país parece estar isolado, sem que aliados mostrem grande disposição de entrar em um conflito ao seu lado.
Teerã possui dois tipos de aliança. De um lado, há parcerias estratégicas e de negócios com países como Rússia e China. De outro, financiava vários grupos insurgentes no Oriente Médio, como os houthis no Iêmen, o Hezbollah no Líbano e o Hamas em Gaza.
Entre as grandes potências, Rússia e China tem condenado os ataques ao Irã, mas não se prontificaram a defender o país frente aos EUA.
“Enquanto o Irã enfrenta seu teste militar mais crítico em décadas, mais assistência tangível de Moscou ou Pequim permanece improvável”, disseram Adam Farrar e Dina Esfandiary, analistas da Bloomberg Economics.
Vinícius Vieira, professor de Relações Internacionais da FGV e FAAP, tem análise similar. "O Irã se tornou um ator isolado no contexto global, o que gerou preocupação internacional e levou a sanções da ONU contra seu programa nuclear."
Já os grupos paramilitares apoiados pelo Irã sofreram muitos ataques de Israel nos últimos anos e perderam poder de ataque, especialmente o Hezbollah e o Hamas. Os houthis prometeram ajudar o Irã, e possuem poder para atacar navios que passam pelo mar Vermelho, rumo ao canal de Suez, mas eles poderão ser atacados por forças dos EUA se reagirem.
O regime de Bashar Al-Assad na Síria, aliado do Irã, que também poderia ajudar, foi derrubado por uma revolução no fim do ano passado.
Nesta segunda, o chanceler do Irã, Abbas Araghchi, deve ir a Moscou conversar com o presidente Vladimir Putin. Analistas não esperam um grande gesto da Rússia, pois o país está ocupado em lutar a Guerra da Ucrânia e não conseguiria se envolver em mais um conflito, ainda mais com os Estados Unidos.
Ao mesmo tempo, países europeus evitaram condenar diretamente o ataque dos EUA e defenderam que o Irã volte a negociar o fim de seu programa nuclear.
A ONU condenou o ataque americano, mas não tem poder para ordenar nenhuma ação de resposta sem aval dos EUA. O país possui poder de veto no Conselho de Segurança, único órgão da entidade com capacidade de executar ações militares.
A falta de ajuda externa pode aumentar as chances de o Irã a decidir por algum tipo de acordo, o que reduziria as chances de um conflito maior. No entanto, os próximos passos de Teerã seguem difíceis de prever.
"O Irã sabe que uma resposta direta aos Estados Unidos, especialmente em bases no Golfo, pode desencadear uma reação militar devastadora. A estratégia iraniana, por enquanto, está mais focada em atacar Israel", afirma Vieira.