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AstraZeneca diz não ter encontrado problema em vacina; Alemanha, França e Itália pausaram aplicação

A aplicação da vacina de AstraZeneca/Oxford foi paralisada em alguns países enquanto se investiga se há relação com a formação de coágulos. Alemanha, Itália e França pausaram a aplicação hoje

Posto de vacinação na Alemanha: OMS recomendou que países não suspendam a imunização com AstraZeneca (Tobias Schwarz/Pool/Reuters)

Posto de vacinação na Alemanha: OMS recomendou que países não suspendam a imunização com AstraZeneca (Tobias Schwarz/Pool/Reuters)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 15 de março de 2021 às 12h53.

Última atualização em 15 de março de 2021 às 18h12.

Após uma série de países da União Europeia pausarem a aplicação da vacina de AstraZeneca/Oxford, as fabricantes divulgaram comunicados afirmando que não foram encontrados efeitos colaterais graves diretamente relacionados à vacina.

Alemanha, Itália e França foram os mais recentes países a paralisar a aplicação, na manhã desta segunda-feira, 15. Antes disso, países como Holanda, Dinamarca, Noruega, Irlanda, Islândia, Bulgaria, Luxemburgo, România, Estônia e Lituânia também suspenderam a aplicação nos últimos dias.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou nesta segunda-feira que os países não pausem a vacinação com o imunizante. "Até o momento, não há evidência que os incidentes são causados pela vacina e é importante que as campanhas de vacinação continuem para que possamos salvar vidas e evitar os problemas graves causados pelo vírus", disse o porta-voz da OMS, Christian Lindmeier.

O número de novos casos e mortes por covid-19 caíram drasticamente na Europa Ocidental e no Reino Unido em meio ao avanço da vacinação.

Não há confirmação de que a vacina da AstraZeneca e os potenciais efeitos colaterais estão relacionados. Na União Europeia, foram registrados casos, por ora ainda isolados, de pessoas que desenvolveram coágulos. Os governos afirmam que suspenderam a aplicação como medida de "precaução" enquanto estudam as causas.

Os países estão de olho especificamente em um lote de 1 milhão de doses enviado aos 17 membros da União Europeia. Outra possibilidade levantada pode ser de problemas de armazenamento do imunizante.

A vacina do mesmo tipo usada no Brasil foi enviada não pela fábrica própria da AstraZeneca, mas pelo Instituto Serum, na Índia, o maior fabricante de vacinas do mundo e que tem acordo com a AstraZeneca para produzir e distribuir doses da vacina. Por ora, as 4 milhões de doses prontas que chegaram ao Brasil vieram todas do Serum. A fábrica da Fundação Oswaldo Cruz também começa neste mês a produzir as próprias doses com insumo (o chamado IFA) importado.

Na Holanda, foram 10 casos identificados, segundo a organização The Pharmacovigilance Centre Lareb. Também há ao menos três adultos sendo tratados na Noruega. Na Dinamarca, uma mulher morreu com aumento da pressão, embora não haja comprovação de relação direta com a vacina.

A EXAME procurou a assessoria de imprensa da AstraZeneca no Brasil e aguarda manifestações. Globalmente, a empresa divulgou nota afirmando que não identificou problemas com a vacina por ora.

"Uma revisão cuidadosa de todos os dados de segurança disponíveis de mais de 17 milhões de pessoas vacinadas na União Europeiae no Reino Unido com a vacina contra a covid-19 da AstraZeneca não mostrou evidências de um risco aumentado de embolia pulmonar, trombose venosa profunda (TVP) ou trombocitopenia , em qualquer faixa etária definida, sexo, lote ou em qualquer país em particular", diz a empresa em nota.

Autoridades do Reino Unido, o país que mais aplicou doses da vacina da AstraZeneca no mundo, também têm dito que não foram registrados efeitos colaterais graves relacionados à vacina até agora.

O professor Andrew Pollard, diretor do instituto de Oxford responsável pela pesquisa com a vacina, disse à rede de TV britânica BBC que há "evidência muito segura de que não há aumento de fenômeno de coagulação aqui no Reino Unido, onde a maioria das doses na Europa foram aplicadas até agora".

O doutor Phil Byran, diretor da agência reguladora britânica, a MHRA (similar à Anvisa no Brasil), disse que os técnicos no país estão avaliando de perto os possíveis problemas. No entanto, afirmou que coágulos sanguíneos são frequentes naturalmente e não é possível associá-los à vacina até agora.

"Dado o alto número de doses administradas, e a frequência com que coágulos sanguíneos podem ocorrer naturalmente, a evidência disponível não sugere que a vacina é a causa", disse ao jornal britânico Financial Times.

Fora da União Europeia, a Tailândia chegou a suspender a aplicação da vacina da AstraZeneca, mas retomou a vacinação.

Embate entre AstraZeneca e UE

As suspensões acentuam os embates recentes entre a União Europeia e a AstraZeneca. A empresa, que é de origem britânica e sueca, anunciou nos últimos meses que atrasaria a entrega de parte das vacinas vendidas à UE.

Outro ponto sensível para o bloco europeu é o fato de que as entregas para o Reino Unido — que deixou a UE oficialmente após o Brexit — têm sido feitas sem maiores atrasos.

A AstraZeneca afirma que não tem conseguido produzir as quantidades prometidas, e que o Reino Unido aprovou a vacina antes da UE, o que fez o país receber doses mais cedo. A EMA, agência reguladora do bloco europeu, só aprovou a vacina em 29 de janeiro, quase dois meses após os britânicos.

O Reino Unido é um dos países que mais vacinaram no mundo até agora (foram 38 doses aplicadas a cada 100 habitantes). Os britânicos têm conseguido vacinar proporcionalmente com mais velocidade do que o bloco europeu (11 doses a cada 100 habitantes). Além da AstraZeneca, ambos usam as vacinas de Pfizer e Moderna.

Grande aposta europeia para vacinação em massa, a AstraZeneca anunciou em fevereiro que conseguiria entregar só metade das doses prometidas à UE, que pagou por parte do desenvolvimento da vacina, feita em parceria com a Universidade de Oxford. Ao todo, a UE reservou 400 milhões de doses.

No mês passado, a UE chegou a autorizar que membros barrassem as exportações de vacinas da AstraZeneca feitas em fábricas europeias rumo a outros países. A Itália chegou a barrar um lote de 250.000 doses que seguiam rumo à Austrália.

Embates políticos sobre o rumo da vacinação têm sido recorrentes. Além do caso europeu, nos EUA, o país têm privilegiado as vacinas de fabricantes americanas.

Até agora, o país vacina com os imunizantes das americanas Pfizer (que fez a vacina em parceria com a alemã BioNTech) e Moderna (esta última, tendo recebido bilhões de dólares em investimento do governo americano). Recentemente, os EUA aprovaram também a vacina da americana Johnson & Johnson's, outra entre as que receberam financiamento do governo.

Já a vacina da AstraZeneca ainda aguarda aprovação da FDA, reguladora americana, mesmo já tendo sido aprovada em quase 100 países.

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