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Biden vs. Macron, Bolsonaro, vacinas: os destaques da Assembleia da ONU

Evento que começou no fim de semana reunirá nos próximos dias lideranças políticas para debater os grandes temas — e crises — globais. O presidente Jair Bolsonaro discursa na terça-feira, 21

Protesto contra combustíveis fósseis em Nova York: ativistas e especialistas devem pressionar líderes na Assembleia Geral da ONU a tomar medidas mais ágeis contra mudanças climáticas (Michael M. Santiago/Getty Images)

Protesto contra combustíveis fósseis em Nova York: ativistas e especialistas devem pressionar líderes na Assembleia Geral da ONU a tomar medidas mais ágeis contra mudanças climáticas (Michael M. Santiago/Getty Images)

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Carolina Riveira

Publicado em 20 de setembro de 2021 às 06h00.

Última atualização em 23 de setembro de 2021 às 13h54.

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O "super bowl dos diplomatas". É assim que a imprensa global se refere à Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), evento que começou no fim de semana e reunirá nos próximos dias lideranças políticas para debater os grandes temas globais.

Da falta de acesso a vacinas em boa parte do mundo à recente crise entre França e Estados Unidos, a edição de 2021 começa com uma série de assuntos pendentes na agenda — que, ao contrário do ano passado, poderão ser discutidos de forma parcialmente presencial desta vez, com parte dos líderes e diplomatas reunidos em Nova York.

Para o Brasil, o destaque é o discurso do presidente Jair Bolsonaro, que como é tradição, abre as falas de líderes mundiais na terça-feira, 21.

No fim de semana, o presidente chegou a Nova York e foi recebido com protestos de brasileiros e estrangeiros em seu hotel.  No domingo, 19, foi fotografado comendo pizza em pé na rua, ao lado de ministros como Marcelo Queiroga (Saúde), Gilson Machado (Turismo) e Luiz Ramos (Secretaria-Geral), além de Pedro Guimarães, presidente da Caixa.

A cidade de Nova York exige desde o meio do ano comprovante de vacinação para acessar restaurantes, mas o presidente brasileiro diz não ter se vacinado (seu cartão de vacinação está sob sigilo de um século).

Bolsonaro também deve colocar a ONU em um imbróglio diplomático: a organização diz que exigirá vacinação dos representantes de países que já têm os imunizantes, mas não se sabe como lidará com o caso do presidente brasileiro.

Crise França-EUA

Enquanto isso, na diplomacia global, a estreia do presidente americano Joe Biden na Assembleia acontece com uma lista grande de problemas nas relações exteriores do país.

O mais recente é a crise entre França, Estados Unidos e Austrália.

A Austrália cancelou um contrato de submarinos com uma empresa francesa, que custaria mais de 60 bilhões de dólares, para em troca aceitar transferência de tecnologia dos EUA.

Os americanos, por sua vez, ofereceram o acordo à Austrália para mandar um recado à China no Pacífico. Mas o governo francês, tradicional aliado americano, diz que não foi avisado e mandou chamar de volta os embaixadores nos EUA e na Austrália - o mais severo sinal de descontentamento.

Biden e o presidente francês, Emmanuel Macron, marcaram de conversar nos próximos dias por telefone. Macron não irá a Nova York, e enviou um discurso gravado.

Primeira fala de Biden

Além da crise com a França, Biden, que assumiu em janeiro prometendo colocar os americanos de novo na liderança política global, também irá a Nova York semanas depois da saída do Afeganistão, que gerou críticas dentro e fora dos EUA.

Seu discurso também acontece na terça-feira.

Há quatro anos, em sua primeira fala na ONU, em 2017, o ex-presidente Donald Trump foi criticado ao dizer que o futuro não pertencia aos "globalistas", mas "aos patriotas", alfinetar ex-aliados americanos e criticar o então acordo nuclear com o Irã, do qual se retirou e que Europa e EUA não tem conseguido reformular na era Biden (o Irã, aliás, não enviou o presidente a Nova York).

Desta vez, a fala de Biden deve reforçar seu foco em reconstruir alianças com aliados no Ocidente para fazer frente à China, mas a crise no Afeganistão e agora o embate com a França são maus presságios para o início de sua gestão internacional.

A assembleia terá também uma lista grande de ausências notáveis, devido à pandemia ainda longe do fim. O presidente chinês Xi Jinping enviará uma mensagem pré-gravada, assim como o russo Vladimir Putin. A chanceler alemã Angela Merkel, que deixará o cargo depois que um governo for formado nas eleições alemãs em 26 de setembro, fará uma fala nesta segunda-feira, 20, sobre meio-ambiente, mas também virtual.

Crise climática

Da lista de temas, a pandemia e a crise climática também devem ser protagonistas, tanto na agenda oficial da ONU quanto nos eventos laterais e discussões dos líderes.

Relatório divulgado por especialistas da ONU neste ano mostrou que os países precisam fazer muito mais do que o que já prometeram para, ao menos, frear a crise climática. Para evitar os piores impactos do aquecimento global, as emissões de carbono precisam ser cortadas em 45% até 2030.

Alguns países prometeram se tornar carbono zero nas próximas décadas, mas as promessas precisam sair do papel o mais rápido possível, e o tema deve voltar a aparecer nos próximos dias.

Grupos de ativistas também organizaram protestos em Nova York sobre o tema.

Vacina para todos

Uma prioridade da ONU nas conversas será a equidade na distribuição de vacinas. A Covax, iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS, braço da ONU) e da Gavi Alliance, falhou em garantir que países mais pobres tivessem acesso relativamente justo às vacinas, uma vez que vários países ricos e de renda média fizeram acordos específicos com as farmacêuticas.

Globalmente, só 2% das pessoas em países pobres receberam uma dose da vacina. A média global é de 43%. Em nota antes da assembleia, a OMS reforçou que mais de 70% das doses no mundo foram aplicadas em só dez países.

Na América Central, por exemplo, o Haiti vacinou só 0,2% da população com uma dose. A OMS deve pressionar os países ricos a se esforçarem mais para garantir vacinas à população global mais pobre. Do contrário, além de postergar o fim real da pandemia, regiões com baixa taxa vacinal podem ficar sujeitas a novas ondas da doença e variantes.

"As metas da OMS são vacinar pelo menos 40% da população de todos os países até o final deste ano e 70% até meados do próximo ano", escreveu a organização em nota. "Essas metas são alcançáveis se os países e fabricantes assumirem um compromisso genuíno com a igualdade das vacinas."

Com nem todos os líderes globais presentes devido à pandemia, a Assembleia da ONU deste ano ainda não pode ser considerada completamente como dos anos pré-pandêmicos. Mas a crise bate à porta, e a lista de problemas é grande. A ver se os próximos dias trarão algumas respostas aos desafios contemporâneos, no meio-ambiente, na saúde ou na busca pela paz.

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