Vista de Daca, em Bangladesh: "Não podemos permitir outro ataque. A imagem do país está sendo seriamente manchada. Depois do primeiro, pensávamos que era algo isolado, mas voltou a acontecer" (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 5 de outubro de 2015 às 11h39.
Daca - O incomum assassinato de dois estrangeiros alarmou Bangladesh, onde trabalhadores e empresas internacionais começaram a tomar medidas de segurança, enquanto as autoridades, que temem a perda de negócios, reforçam a proteção.
Há uma semana, o voluntário italiano Cesare Tavella foi morto em Daca. No sábado, o japonês Kunio Hoshi foi morto no distrito de Rangpur. Ambos foram atingidos por criminosos que fugiram em motos.
"Não podemos permitir outro ataque. A imagem do país está sendo seriamente manchada. Depois do primeiro, pensávamos que era algo isolado, mas voltou a acontecer", lamentou à Agência Efe o vice-presidente do principal sindicato do setor têxtil (BGMEA), Shahidullah Azim.
De acordo com Azim, aproximadamente, 15 mil estrangeiros vivem em Bangladesh ou o visitam com regularidade devido a negócios relacionados à indústria têxtil.
Com US$ 25,49 bilhões no ano fiscal 2014-15, essa área foi a responsável por mais de 80% das exportações nacionais.
"Se não se corrigirem as coisas rapidamente pode ser que as pessoas decidam não vir mais para cá. Abordamos o assunto em uma reunião com representantes do alto escalão do Ministério do Interior", ressaltou Azim.
E a mensagem parece ter surtido efeito. Ontem, o bairro de Gulshan, que abriga às embaixadas e a maior parte da colônia estrangeira na capital, amanheceu com um notável aumento de agentes armados fazendo a segurança de edifícios e estradas.
Nunca, em suas quatro décadas e meia de existência, Bangladesh, um país onde 90% dos 160 milhões de habitantes é muçulmano, mas tradicionalmente considerado moderado, tinha se visto nesta situação.
O país, muito polarizado politicamente, sofreu diversas crises encorajadas pelos partidos opositores, a última foi no primeiro quadrimestre do ano, com greves, piquetes e explosões.
Além disso, entre fevereiro e agosto, quatro blogueiros ateus, críticos do fundamentalismo islâmico, foram assassinados em atentados que as autoridades atribuem a um grupo extremista local.
No entanto, durante estes episódios de tensão a comunidade estrangeira nunca foi afetada de maneira direta.
Agora, o medo se espalha em chats nas redes sociais, onde informações sobre a situação de segurança são compartilhadas continuamente.
A empresa espanhola Isolux Corsán, por exemplo, que está desenvolvendo três projetos de energia, optou por retirar temporariamente sua equipe não local de Bangladesh.
Outras companhias estão tomando medidas similares, limitando os movimentos de seus trabalhadores estrangeiros, proibindo o uso de transporte público ou mudando os horários de trabalho.
"Precisamos ter cuidado. Não dá vontade de sair. Você deixa de passear e reduz os momentos de lazer. Muita gente está querendo ir embora", disse o empresário espanhol Aritz Izura, que há um ano e meio mora em Bangladesh.
Nenhum suspeito relacionado aos crimes foi detido, que o governo evita vincular ao grupo terrorista Estado Islâmico (EI), apesar das supostas reivindicações recolhidas pelo "SITE", um grupo de estudo americano sobre jihadismo.
A primeira-ministra do país, Sheikh Hasina, defendeu ontem que "até agora, o EI e grupos terroristas similares não foram capazes de agir em Bangladesh" e apontou a uma possível conspiração local contra o governo.
Hoje, a embaixadora dos Estados Unidos em Bangladesh, Marcia Bernicat, disse que o governo americano tem a capacidade para apoiar Daca na luta contra a aparição do EI no país.